13 de janeiro de 2014

Um Toque de Pecado (Tian zhu ding, 2013)

Um olhar cru de um diretor chinês que, através de quatro histórias inspiradas em fatos sobre como a China atual, assusta pelo fato daqueles acontecimentos não acontecerem somente lá, como também muito perto de nós. O sangue já jorra de uma forma inesperada, numa situação que poderia acabar de uma forma melhor, mas aqui é mostrada para retratar a reação do homem (ou mulher) perante a violência que não aceita mais tão facilmente, desencadeando então um lado obscuro da pessoa e que o leva ao caminho sem volta. Um retrato não somente da China atual, como também da própria civilização do século XXI, infelizmente.

Em pouco mais de duas horas, Jia Zhang-ke (de Em Busca da Vida) retrata o dia a dia de quatro pessoas comuns que, embora se cruzem umas com as outras no decorrer da projeção, suas tramas trabalham independentemente uma da outra, mesmo com o fato da violência ser um assunto que tenham em comum. Assunto este que vai da pessoa mais velha para o jovem recém começando com a vida, mas que não consegue administrar o descontrole de uma sociedade que, embora tenha a 'faca e o queijo na mão' para tudo ficar bem, não esconde o fato de não saber lidar com o despertar da besta do interior de um ser humano. Despertar esse que começa através das más ações de pessoas que acreditam que acham que podem fazer o que bem entenderem, mas que no fim, querendo ou não, sofrem as conseqüências. 

Acima de tudo, o filme é sobre a perda dos valores de um ser humano, desmoronamento da família contemporânea, o viver do dia a dia difícil, corrupção a torto e a direito, o lado cruel do ser humano contra animais indefesos, o valor abusivo do dinheiro na vida das pessoas que a transformam em seres como pedra e o nascimento do seu lado brutal. O filme se concentra em quatro historias, enlaçadas através de inúmeros detalhes que exigem um pouco de nossa atenção. Bom exemplo disso é o titulo do filme, que é visto num papel de parede que avistamos na terceira história do longa.

Sublime é a forma de apresentação dos personagens de cada história que, às vezes, surgem rapidamente dentro da história de outro personagem. O protagonista da segunda trama surge no inicio da trama do primeiro, que já desencadeia uma onda de violência sem precedentes, já fazendo o cinéfilo se preparar para o que está por vir. Existem os encontros em ônibus e trens e um dos personagens da terceira trama vai voltar ao cenário da primeira história e fechando, assim, um circulo.
Talvez um dos mais trágicos personagens do longa seja Dahai, da primeira história, um trabalhador de uma mina que se revolta contra a corrupção local. Tenta debater, argumentar, reclamar pelos direitos do povo aonde ele vive, mas tudo acaba de uma forma inútil. O seu rifle enrolado em um tigre enfurecido que molda um pano, irá encher a tela de sangue sem dó. A segunda leva a roubo e assassinato de um trabalhador deslocado de sua região natal, que perde o contato da mulher, o filho e a família. O terceiro caso traz à bela Zhao Tao, a mulher do diretor, que faz uma moça que trabalha como recepcionista de uma sauna e não consegue que o homem que ela está apaixonada deixe a sua esposa. Sem querer, ele deixa um canivete com ela e o objeto se tornara uma arma para ela, num dos momentos mais angustiantes do filme. 

É triste a quarta história, que envolve um jovem que tenta ajudar a família, mas que não consegue suportar a pressão dela e o leva num caminho trágico e sem volta. Em frente aos restos de um passado longínquo e mais dourado, a cantora de ópera chinesa pergunta para uma platéia que se encontra quieta:

“Você entendeu o seu pecado?”

Um toque universal apresentado neste filme, vindo desse cineasta genial, que fala não somente sobre a China, como também de todos os povos desse planeta.


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