18 de dezembro de 2015

STAR WARS - O DESPERTAR DA FORÇA (2015)

A cruzada do herói, ou melhor, da pessoa predestinada por um bem maior, é uma história já contada há séculos, independente de qual forma ela é apresentada para um público diferente de cada época. Embora tenhamos inúmeras histórias conhecidas dessa cruzada, o que todas elas têm em comum é o velho embate do bem contra o mal, sendo que, o próprio herói, luta para não cair na tentação vinda da escuridão. Star Wars - O Despertar da Força, não só retoma a cine-série criada por George Lucas para o cinema, como também fortalece esses elementos já conhecidos, mas incorporando algo de novo e muito bem-vindo.

Dirigido por J.J. Abrams (Star Trek - Além da Escuridão), a trama se situa trinta anos após O Retorno de Jedi (Episódio VI da saga). Os heróis se veem num novo embate perante a Primeira Ordem, mais precisamente herdeiros do antigo Império. Entre eles encontrasse um lorde sombrio chamado Kylo Ren (Adam Driver), disposto a caçar pela galáxia Luke Skywalker, que se encontra desaparecido. Liderando uma resistência, Princesa Leia (Carrie Fisher), que agora é General, está também em busca do seu irmão Luke, mas, ao mesmo tempo, eventos ocorrem para fazer com que essa sua cruzada não seja solitária.

Dito isso, surgem os verdadeiros novos protagonistas do filme: Rey (Daisy Ridley) - bela e forte jovem que vive de catar sucata para sobreviver no desértico planeta Jakku - e Finn (John Boyega), um Stormtrooper que decide abandonar a Primeira Ordem e buscar um novo caminho em sua vida. Ambos se cruzam no primeiro ato e, através do pequeno droid BB-8, embarcam numa missão que podem levá-los ao paradeiro de Luke Skywalker. Pelo caminho, encontram a velha e poderosa Millennium Falcon, para logo em seguida darem de encontro com Han Solo (Harrison Ford) e Chewbacca e juntos partem para uma grande aventura.

Falar mais seria estragar inúmeras surpresas que esse filme reserva, mas o que posso dizer antecipadamente é que, ele não é somente uma continuação, como também uma releitura do clássico de 1977. Todas as fórmulas já vistas na trilogia clássica estão lá, mas moldadas para serem apresentadas para um novo público, respeitando o antigo. J.J. Abrams cria então uma espécie de declaração de amor e carinho por esse universo e não faz feio perante nossos exigentes olhos.

A todo momento não só surgem referências aos filmes anteriores, como também aparecem velhos conhecidos e cada um deles recebe os aplausos pra lá de merecidos. Abrams constrói essas aparições de uma forma elegante, da qual nos faz rir, e meio segundo depois nos emocionar com as cenas. Em meio a isso, é preciso dar palmas pelo fato do cineasta não abusar em nenhum momento dos efeitos especiais, mas sim que eles façam parte da trama e ao mesmo tempo remetendo ao filme clássico, como se a velha e a nova tecnologia sempre estiveram juntas o tempo todo.
Mas quem acha que o filme sobrevive somente com os velhos conhecidos se engana, pois as caras novas estão ali para sucedê-los de uma forma digna. Rey (Daisy Ridley) é, sem dúvida a verdadeira protagonista do filme: forte e determinada, Rey espera por respostas do seu passado e na oportunidade de um dia sair do lugar em que vive. Ao mesmo tempo, uma vez em que abraça a oportunidade de seguir um novo caminho, demonstra certa fragilidade devido ao peso da responsabilidade. É a cruzada do herói (a) remodelada para as novas plateias que, em meio a inúmeros obstáculos, poderá conseguir a sua redenção e um lugar no mundo.

Finn (John Boyega) segue pelo mesmo caminho, mas em busca por redenção e luz em sua vida, depois de ter presenciado os horrores que a Primeira Ordem causou. John Boyega se sai muito bem em cena, não só provando que o seu personagem tem potencial, como também se torna o grande alívio cômico da trama, mas de forma divertida e jamais boba. Tanto Daisy Ridley como John Boyega possuem ótima química juntos em cena, fazendo de seus personagens a verdadeira alma do filme.

O mesmo não se pode dizer muito do antagonista Kylo Ren (Adam Driver), pois sua presença é boa, mas meio que desperdiçada pelos poucos momentos de cena que possui. Driver se sai bem na interpretação, principalmente quando está sem mascara, sendo ela o único entrave de sua interpretação ser melhor e esse empecilho somente existe para a gente se lembrar de Darth Vader a todo momento, sendo que isso poderia ser dispensável. Felizmente o seu grande momento na trama acontece quando contracena com um personagem clássico e essa cena com certeza fará com que qualquer fã perca o chão no momento que for assisti-la.

Com relação à velha guarda, tanto Carrie Fisher como Harrison Ford, embora ambos com idades avançadas se saem bem ao passar o fato dos seus personagens serem veteranos e mais sábios perante o novo mundo que eles presenciam e que precisam enfrentar. Embora ainda seja um canalha, Han Solo passa para os seus novos companheiros todo o conhecimento que adquiriu ao longo das décadas e qualquer descrença que ele tinha com relação à Força deixou de existir. Portanto, ele se torna uma espécie de mestre e pai, principalmente para Rey, carente pela falta de uma figura paterna.

Por mais que seja empolgante o ato final, eu particularmente achei forçado demais à presença de uma antiga arma do império voltar em cena, mas muito maior e poderosa. O pior que a forma que é encontrada para destruir ela é apresentada rápida demais, dando a entender que os roteiristas tiveram preguiça nesse ponto.

Se há repetições, pelo menos uma delas nos faz vibrar, principalmente quando Rey aceita o que ela estava predestinada a ser e usa pela primeira vez o sabre de luz contra o inimigo. É nesse momento que o coração de qualquer fã infla de emoção. Se na trilogia anterior (episódios I, II e III), os combates de sabre de luz pareciam já repetitivos, aguarde para esse momento e sentir novamente a emoção que era antigamente assistir esses duelos.

Batalha vencida, mas a guerra mal começou e vemos os heróis se recolhendo e colhendo o que restou. Os minutos finais da trama deixam mais perguntas do que respostas, que somente serão respondidas nas eventuais continuações. Na reta final, vemos Rey encontrar o seu destino, mais precisamente dando de encontro com a possibilidade de aprimorar os seus dons ou na possibilidade de abandonar esse fardo e seguir outro caminho.

A cena final é curta, mas ela sintetiza exatamente toda a essência do que é Star Wars, com relação à cruzada do herói, de sua luta; o seu fardo; a sua queda e sua redenção pessoal que tanto busca. Star Wars - O Despertar da Força não somente respeita esses dizeres, como também nos abre uma porta até então desconhecida sobre essa nova cruzada. Que a força esteja com nós até 2017.

11 de dezembro de 2015

NO CORAÇÃO DO MAR

Ao longo dos anos meus pais sempre ficavam falando de como ficaram fascinados ao assistirem o filme Boby Dick de 1956 e estrelado por Gregory Peck na TV. Anos depois tive o prazer de assistir essa obra em DVD e ao mesmo tempo descobri que é baseado num clássico da literatura escrito pelo romancista Herman Melville em 1851. O que eu não sabia até alguns anos atrás é que a obra é baseada em fatos verídicos, cujo eles se encontram no livro Coração do Mar, escrito pelo historiador Nathaniel Philbrick e que agora é levado as telas numa super produção.
Dirigido por Ron Howard (Rush - No Limite da Emoção) acompanhamos a jornada do baleeiro Essex, cuja missão da tripulação é caçar baleias e retirar delas o óleo que dá luz as cidades daquele tempo. A tripulação é comandada pelo capitão George Pollard  (Herman Melville), mas liderada pelo primeiro almirante Owen Chase (Chris Hemsworth) e se criando assim uma rixa entre ambos ao longo da viagens. As desavenças entre eles começam a se desfazer, no momento que precisam unir suas forças, para que a viagem tenha sucesso, mas ao mesmo tempo quando precisam sobreviver perante aos ataques de uma imensa baleia branca.
Tudo é narrado pelo sobrevivente Old Thomas Nickerson (Brendan Gleeson), que dá todas as informações para o escritor  Herman Melville (Ben Whishaw) que havia ouvido histórias sobre os ataques da baleia que eles haviam sofrido e decidiu procurá-lo, para escrever o relato e para sim criar um livro de ficção. Com essa informação, se você for assistir ao filme achando que é mais uma nova versão de Moby Dick se engana, pois a história verídica se diferencia da história que se tornou clássica. Porém, é impressionante que uma história real como essa se torne tão fascinante quanto aquela que nós conhecemos e com muito mais profundidade com relação da velha trama de homem x natureza.
Embora se passe em 1821, é um filme que fala sobre o nosso tempo atual, mas precisamente sobre a corrida em busca de recursos de energia e não permitir que as cidades vivam na escuridão. Se hoje vivemos da água e do petróleo para sobrevivemos, naquele tempo caçavam animais livres pelo mar, pois acreditavam cegamente que era a única fonte de energia para eles. Com isso, o filme não busca tratar os personagens como mercenários marítimos, mas sim como pessoas comuns que buscam a sua sobrevivência, mesmo que sujem as suas mãos matando esses animais inocentes do mar.
Se o filme poderia render polêmicas ao vermos caçadores de baleias como protagonistas, o roteiro se encarrega numa forma de nós não taxá-los como maus. Bom exemplo disso é a cena que, após matarem uma baleia, o sangue esguicha nos rostos dos personagens Owen Chase e no jovem Old Thomas Nickerson (Tom Holland). Suas expressões de incompreensão sobre o que fizeram são sentidas, talvez até de arrependimento, mesmo sabendo que é um mal necessário a ser feito.
Porém, se os ambientalistas que forem assistir a esse filme não perdoarem mesmo assim, o castigo vem logo a seguir. No momento em que eles caçam um grande grupo de baleias, eles começam a ser atacados pela imensa baleia branca. É nesse momento que o cineasta  Ron Howard capricha nos efeitos especiais, embalado com um 3D indispensável  e em ângulos de cenas inusitados, mas ao mesmo tempo gerando um grau de verossimilhança e fazendo com que embarquemos em cada cena. Após um último ataque mortífero da baleia branca, o filme adentra num território ainda mais sombrio para os protagonistas.
Se antes a gente estava assistindo um filme que, por vezes, lembrava elementos de filmes como Tubarão ou Mestre dos Mares, no segundo ato em diante adentramos a um cenário já visto em filmes como Naufrágio e As Aventuras de Pi, em que a sobrevivência é o principal foco de todos. Durante noventa dias, os personagens ficam a deriva, lutando contra a fome e contra a própria insanidade. É nesse momento que as interpretações de todos os atores atingem o seu ápice, até mesmo para aqueles secundários, como no caso do personagem Cillian Murphy que nos comove e rouba a cena sempre quando surge.
Porém a alma do filme pertence ao ator Chris Hemsworth: sempre com a pose de heróis de filmes de aventura, desde que começou a interpretar Thor no cinema, Hemsworth tem se dedicado cada vez mais em papeis que desafiam a sua veia artística. Aqui ele é o herói, mas humano, falho em suas ações e que sofre o diabo ao lado dos seus companheiros, ao ponto de mudar drasticamente o seu físico e se transformando numa imagem pálida do que ele foi um dia.
O filme se encaminha a um ato final aonde os personagens se apresentam em frangalhos, onde se humilham e fazem o impensável para sobreviver no mar sem fim. No final não há vencedores ou perdedores perante a força da natureza, mas sim um aprendizado a ser pensando, sobre qual é o papel do homem nesse mundo imenso, mas misterioso, e até mesmo um questionamento é levantado sobre aonde Deus se encaixa nisso tudo. A ambição e arrogância do homem são necessárias para que eles vejam o quão estão errados sobre o que acreditavam?
São perguntas que podem gerar inúmeras respostas, cujos debates se estendem até mesmo fora da tela. No Coração do Mar é um belo filme de aventura, onde a humanidade abraça as suas limitações, mas ao mesmo tempo se fortalece perante os seus erros e obstáculos que surgem nesse imenso mundo de mistérios. 

 

DICA DE CINEMA

O CLÃ
10 DE DEZEMBRO NOS CINEMAS OU ASSISTA NOS CINEMAS
Verifique a Classificação Indicativa

SOBRE O FILME
ESTREIA: 10/12/15
Distribuidora: Fox Film
Gênero:  Drama
Direção: Pablo Trapero
Elenco: Guillermo Francella, Peter Lanzani, Lili Popovich
Sinopse: Toda família tem segredos. Baseado na história de uma das gangues mais conhecidas da Argentina, os Puccio, o filme narra sobre essa família que ficou conhecida na década de 1980 por sequestrar e matar várias pessoas. O clã estava composto pelo pai da família, Arquímesdes (Guillermo Francella), seus dois filhos, Daniel e Alejandro (Peter Lanzani), o militar aposentado Rodolfo Franco e mais dois amigos, Roberto Oscar Díaz e Guillermo Fernández Laborde.


5 de dezembro de 2015

DICA DE CINEMA

TUDO QUE APRENDEMOS JUNTOS
03 DE DEZEMBRO NOS CINEMAS
Verifique a Classificação Indicativa

SOBRE O FILME
ESTREIA: 03/12/15
Distribuidora: Fox Film
Gênero:  Drama
Direção: Sérgio Machado
Elenco: Lázaro Ramos, Kaique Jesus, Elzio Vieira, Sandra Corveloni, Fernanda de Freitas e Criolo.
Sinopse: Laerte é um músico promissor que sofre uma crise em plena audição para uma vaga na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). Ele perde a chance de trabalhar na maior orquestra sinfônica da América Latina e, frustrado e com problemas financeiros, vai dar aulas na favela de Heliópolis. Na escola, cercado por pobreza e violência, redescobre a música de forma tão apaixonada que acaba por contagiar os jovens estudantes. Tudo que Aprendemos Juntos é inspirado na história real da formação da Orquestra Sinfônica de Heliópolis e conta a emocionante saga de um músico e seus alunos, que tiveram suas vidas transformadas pela arte.

DICA DE CINEMA

À BEIRA MAR
03 DE DEZEMBRO NOS CINEMAS
Verifique classificação indicativa.
SOBRE O FILME
Lançamentos: 03/12
Gênero: Drama                                              
Elenco: Brad Pitt, Angelina Jolie Pitt, Mélanie Laurent, Melvil Poupaud, Niels Arestrup e Richard Bohringer
Roteiro e direção de: Angelina Jolie Pitt                                                                                                      
Produção: Brad Pitt e Angelina Jolie Pitt
Produção Executiva: Chris Brigham, Michael Vieira e Holly Goline-Sadowski

Sinopse: Escrito, dirigido e produzido pela vencedora do Oscar, Angelina Jolie Pitt, À Beira Mar é o segundo trabalho de direção da atriz, em parceria com a Universal Pictures, depois de “Invencível”. O drama, que traz Brad Pitt e Jolie Pitt, ainda conta com um Mélanie Laurent, Melvil Poupaud, Niels Arestrup e Richard Bihringer no elenco.
À Beira Mar segue um escritor americano chamado Roland (Pitt) e sua esposa, Vanessa (Jolie Pitt), que chega a um tranquilo e pitoresco resort beira-mar na França de 1970, seu casamento em aparente crise. Enquanto eles passam seu tempo com amigos de viagem, incluindo os recém-casados Lea (Laurent) e François (Poupaud), e os moradores locais Michel (Arestrup) e Patrice (Bohringer), o casal começa a chegar a um acordo a respeito de problemas não resolvidos em suas vidas.
Em seu estilo, e seu tratamento acerca de temas da experiência humana, À Beira Mar é inspirado pelo cinema e teatro europeus dos anos 60 e 70.
Jolie Pitt se juntou com uma equipe chave atrás das câmeras, que inclui o diretor de fotografia Christian Berger (“A Fita Branca”), que usou seu Cine Reflect Lighting System nas filmagens; o designer de produção Jon Hutman (“Invencível”); a editora Patricia Rommel (“A Vida dos Outros”); e a figurinista Ellen Mirojnick (“Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme”). Brad Pitt se junta a ela nas tarefas de produção, enquanto Chris Brigham (“A Origem”), Holly Goline (“Invencível”) e Michael Vieira (“Invencível”) são os produtores executivos.

2 de dezembro de 2015

A VISITA

O que aconteceu com  M. Night Shyamalan?

Essa era uma pergunta que abria uma postagem especial que eu fiz sobre o cineasta há alguns anos atrás. Consagrado com o já clássico O Sexto Sentido (99)  Shyamalan jamais conseguiu obter tamanho sucesso novamente, nem mesmo em obras até elogiadas pela crítica como Corpo Fechado e A Vila. Após experiências desastrosas em super produções como “O Ultimo Mestre do Ar”, o cineasta decide então retornar a produções de baixo orçamento, tendo mais liberdades criativas e assim nasce o filme A Visita.
Para a surpresa de muitos, Shyamalan usa nesse filme um dos gêneros mais desgastados do momento, que é found footage (ou “filmes perdidos” no Brasil) que teve o seu ápice em filmes como a Bruxa de Blair e Atividade Paranormal, mas se viu desgastado em O Ultimo Exorcismo. Porém, Shyamalan brinca com esse gênero levando em consideração o que já foi feito e criando uma inusitada perspectiva disso através do olhar das crianças. Nesse caso um garoto (Ed Oxenbould) e sua irmã (Olivia DeJonge) que são enviados pela mãe para passarem uma semana na casa dos avôs.
Claro que estamos falando de um filme de terror e, portanto coisas estranhas acontecem gradualmente naquela casa. Usando a câmera, as crianças começam a gravar momentos estranhos vindo dos seus avôs, como no caso deles esquecerem certas coisas ou agirem de formas inusitadas. A situação se torna mais estranha ainda quando eles descobrem que a avó caminha sonâmbula à noite e agindo das formas mais sinistras possíveis.
É ai que o cineasta brinca e fazendo referencias a outros filmes como O Grito e Atividade Paranormal. Porém, não esperem uma explicação vinda do sobrenatural, já que as manifestações vindas do casal idoso, por vezes, é algo comum  quando as pessoas chegam a certa idade, mas podem ser vistas como algo assustador pelo olhar de uma criança. Mas além da possibilidade dos avôs estarem doentes, existe a possibilidade de feridas internas não cicatrizadas do passado, mais precisamente uma conturbada relação deles com a mãe das crianças.
A questão “família problema” já era algo explorado em outros filmes do diretor, mas aqui ele explora de uma forma que soe original, mesmo a gente tendo a sensação de já termos vistos algo semelhante em outro lugar. Há também momentos forçados no roteiro em querer nos convencer certa verossimilhança com relação à colocação da câmera para a gente enxergar determinados momentos chaves da trama. Claro que qualquer momento forçado visto na tela é compensado pelo fator surpresa, dos quais fará até mesmo aquela pessoa grudada na poltrona pular dela.
E como não poderia deixar de ser, Night Shyamalan novamente irá nos pregar uma reviravolta, da qual com certeza muitos irão gostar, mas outros questionar. Para aqueles que forem questionar atenção para determinadas pistas no decorrer da trama que, fará que a reviravolta que soa absurda, pode sim acabar sendo meio que plausível. É um vício meio que incessante do fator surpresa vindo do cineasta, mas qualquer coisa melhor do que foi visto no final da Dama da água por exemplo.
Com um final duplo desnecessário, mas que ao mesmo tempo faz com que o cinéfilo saia mais relaxado do cinema após inúmeros momentos de tensão no ato final, A Visita talvez venha a ser a salvação de M. Night Shyamalan na carreira como cineasta, só resta saber se ele irá se manter nos trilhos ou se haverá um novo descarrilamento. 
 

25 de novembro de 2015

Jogos Vorazes: A Esperança - O Final

Atualmente o nosso país, e outros inclusive, vivem com uma política em que se encontra rachada, onde oposição e esquerda brigam para quem arrebenta primeiro a corda. Duas semanas atrás o mundo testemunhou  os piores atentados em Paris desde o 11 de Setembro.
Em ambos os casos a pessoa comum jamais saberá a natureza real da história, pois há muita ambição e poderes envolvidos, das quais ficamos nos perguntando onde isso começa e até aonde isso termina.
Portanto, é preciso tirar o chapéu pela proposta que os livros dos Jogos Vorazes nos passa, pois embora seja uma ficção, ela soa a todo o momento como uma metáfora sobre os problemas do mundo contemporâneo de hoje.  Política, reality Show, golpe, traição, terrorismo e redenção são alguns dos ingredientes que moldaram essa obra literária e muitos se perguntaram se os filmes seriam fieis a sua proposta. Ao término de Jogos Vorazes: A Esperança - O Final chego a conclusão que, não só foram fieis a sua proposta, como também se torna o filme mais corajoso do momento, pois toca na ferida de assuntos espinhosos do mundo atual.
O filme começa exatamente no ponto onde se encerra o filme anterior. Cada vez mais Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) se dá conta que é apenas uma peça num jogo de tabuleiro e essa sensação piora ao ver Peeta (Josh Hutcherson) quase destroçado mentalmente e tentando matá-la. A presidente Coin (Julianne Moore) envia ela para a missão final, da qual é se infiltrar na mansão do presidente Snow (Donald Sutherland) e eliminá-lo. Para isso, contará com ajuda de Gale (Liam Hemsworth), Finnick (Sam Claflin), Cressida (Natalie Dormer), Pollux (Elder Henson) e até mesmo de Peeta, que ainda não se recuperou muito bem mentalmente.
Quem viu o filme anterior percebeu que ação ficou bem para o segundo plano e dando mais ênfase aos preparativos para que Katniss se torne a grande salvadora da pátria daquele mundo. Já nesse último filme da saga não existe mais escapatória, independente de quem ganha ou perca, pois haverá um final para tudo e a todos. Essa sensação do inevitável é sentido durante o filme a todo o momento e o peso pela responsabilidade é sentido graças à interpretação convincente como sempre de Jennifer Lawrence.
Se a saga Jogos Vorazes no cinema tem alma tudo se deve a Lawrence, pois ela consegue passar todo o grau de peso e responsabilidade que Katniss sente a todo o momento. A protagonista nunca desejou esse fardo, pois tudo começou lá no primeiro filme ao proteger a sua irmã, mas que isso acabou servindo de ponta pé inicial para um caminho sem volta do qual ela embarcou. Pode-se dizer Katniss chega a um momento do filme que ela não deseja mais aquilo e tudo que deseja é acabar com tudo isso de uma vez.
Em meio a isso, companheiros morrem, em meio um jogo mortífero até chegar ao alvo principal, mas algo sempre pior pode acabar vindo do céu literalmente. É por esse ponto que o filme talvez não fosse fiel e corajoso que nem nos livros, mas Francis Lawrence (Constantine) não nos decepciona e nos brinda da maneira que deveria ser os derradeiros momentos vistos no ato final da trama. Para aqueles que não leram os livros, aguardem para grandes surpresas vistas num determinado pátio da trama e que com certeza irá assombrar os fãs por um bom tempo.
Se há um ponto falho no filme é o fato que nesse último quiseram fortalecer o triangulo amoroso que existe desde o primeiro capítulo, mas ele sempre foi algo sem sal e que poderia ser descartado com total facilidade na trama. Se ele existe é porque é regra sagrada de Hollywood de haver romance na trama, mas não significa que seja uma regra valida para todos os filmes. Jogos Vorazes sempre se sustentou pela sua temática adulta com relação à política intolerante da trama e não por um romance açucarado descartável.
Pesares a parte, Jogos Vorazes: A Esperança - O Final termina com um final digno, onde não há vencedores ou perdedores, mas sim apenas a sensação de dever comprido vindo da protagonista. Porém, nos minutos finais, vemos uma Katniss bem diferente do que foi vista no primeiro filme, onde a responsabilidade não lhe pesa mais, mas as feridas e dores ainda se encontram lá e que talvez jamais venham cicatrizar. Um final que sintetiza a incerteza sobre o mundo contemporâneo do qual nos vivemos e tudo que nos resta é apenas seguirmos em frente e ver o que acontece.   

23 de novembro de 2015

ALIANÇA DO CRIME

Queira ou não a corrupção se encontra em todo o lugar, seja na política, religião e até mesmo entre aqueles que se dizem servir e proteger o cidadão. O que dizer então da agência mais poderosa dos EUA que, acabou se vendendo para determinados criminosos, unicamente para obter a chance de pegar uns peixes maiores?  É mais ou menos isso o que é mostrado em Aliança do Crime, filme do qual retrata um período em que alguns defensores da lei e da ordem se venderam para pegar determinadas cabeças preciosas, ou simplesmente para subir um degrau a mais na carreira!
Whitey Bulger (Johnny Depp) é um gangster comum de Boston, mas que vê uma oportunidade de crescer na vida criminosa, desde que descubra e dê de bandeja ao FBI determinadas celebridade do mundo do crime de Boston. Para isso, o seu amigo de infância John Connelly (Joel Edgerton) se torna agente do FBI, o que lhe abre então as portas para adquirir poder e costas quentes perante a lei. Ao mesmo tempo se encontra na agência pessoas incorruptíveis, das quais gradualmente abrem determinadas investigações que acabam fechando o cerco, tanto para aqueles que se encontram de fora ou dentro.
Até aqui, nos deparamos com uma mistura de Os Bons Companheiros com Os Infiltrados, onde existe o companheirismo entre gangster, mas que os pedidos para determinados favores são colocados a prova, o que acaba sendo um exemplo similar do que já se viu nos filmes de Martins Scorsese. Porém, se percebe que Scott Cooper (Amor Louco) procura sempre a todo o momento em nunca criar cenas das quais a gente lembrasse, de alguns clássicos filmes de gangster, mas sim que tivesse uma identidade própria. Essa preocupação resulta num filme do qual há momentos preciosos e muito bem filmados, mas se tem também a sensação de freio ou até mesmo receio na possibilidade de se sofrer uma comparação.
Diante disso, o filme se divide em entre momentos geniais e mornos, dos quais nem mesmo a presença de bons atores como Kevin Bacon ou Benedict Cumberbatch (Jogo da Imitação) ajuda a gente não nos darmos conta disso. Embora fiel aos verdadeiros fatos que aconteceram entre os anos 70 e 80 do qual se passa a história, falta também uma espécie de liberdade poética, da qual é sentida principalmente no ato final da trama. Uma coisa é ser fiel aos fatos, outra é deixar tudo no piloto automático para se dizer que foi tudo igual o que aconteceu naquele período.
Se há falhas que existe aqui e ali na produção, o filme se salva unicamente devido a um nome: Johnny Depp. Embora tenha colecionado alguns fracassos de público e crítica nos últimos tempos, o parceiro habitual do cineasta Tin Burton jamais parou de trabalhar e tem demonstrado cada vez mais versatilidade, do qual o ator some em seus papeis e dando lugar aos seus personagens. No caso do seu Whitey Bulger não é diferente.
Quando vemos Bulger em cena sentimos o sinal de perigo, do qual a imprevisibilidade dos seus atos é o que lhe move. Fiel aos seus princípios (seja com relação à família, ou companheirismo) Bulger leva tudo a sério, ao ponto dele fazer uma mistura de ameaça com piada, da qual a pessoa que presencia esses momentos nunca tem a certeza absoluta de suas reais intenções. Atenção para a maravilhosa cena do jantar, onde ele dá a sua opinião sobre segredos de família, que por sua vez se emenda com a cena da visita dele a uma determinada personagem em seu quarto e rendendo momentos de pura tensão psicológica.
Com uma maquiagem que lhe deixa envelhecido, e umas lentes de contato que nos passa um ar de loucura, Johnny Depp faz do seu Bulger um ser ameaçador, do qual não pensa duas vezes em eliminar todos aqueles que ousarem pensar em lhe prejudicar. Porém, embora frio e calculista, há determinados momentos em que Bulger deixa a mascara cair, principalmente quando percebe que o cerco está se fechando para ele e para os seus poucos entes queridos. É nesses momentos que o personagem poderia soar artificial, mas é graças atuação de Depp que nos faz acreditar que há um lado ainda humano dentro daquele ser e não é a toda que ele se encontra na lista dos possíveis indicados ao Oscar de melhor ator no ano que vem.
No final das contas, Aliança do Crime pode até funcionar devido a um único ator, mas também lhe dá uma pequena dose de reflexão sobre a corrupção, da qual ela não é exclusiva unicamente nos lugares do qual eu citei no início do texto acima, como também lhe faz pensar na possibilidade de que você esteja convivendo com ela todos os dias, seja em maior ou menor grau.  
 

13 de novembro de 2015

DICA DE CINEMA

COMO SOBREVIVER A UM ATAQUE ZUMBI
12 DE NOVEMBRO NOS CINEMAS
Não recomendado para menores de quatorze (14) anos.



SOBRE O FILME
Estreia: 12/11/2015                                                 
Direção: Christopher Landon
Produção: Andy Fickman, Bryan Brucks, Todd Garner, Samson Mucke, Sean Robins, Betsy Sullenger.
Elenco: Tye Sheridan, Logan Miller, Joey Morgan, Sarah Dumont, David Koechner, Patrick Schwarzenegger, Halston Sage, Cloris Leachman
Sinopse: Três escoteiros e amigos de infância unem forças com uma garçonete valentona e se tornam a equipe de heróis mais improvável do mundo. Isso acontece quando a tranquila cidade onde vivem é devastada por uma invasão de zumbis e eles terão que colocar suas habilidades de escoteiros à prova para salvar a humanidade dos mortos-vivos.

11 de novembro de 2015

DICA DE CINEMA

AMIZADE DESFEITA

12 DE NOVEMBRO NOS CINEMAS

Não recomendado para menores de dezesseis (16) anos.


SOBRE O FILME

AMIZADE DESFEITA
Estreia: 12/11/2015                                                 
Distribuidora: Universal Pictures
Elenco: Shelley Hennig, Moses Jacob Storm, Renee Olstead, Will Peltz, Jacob Wysocki,  Courtney Halverson, Heather Sossaman
Direção:  Levan Gabriadze
Sinopse: Inaugurando uma nova era de horror, o novo filme da Universal Pictures Amizade Desfeitamostra a tela do computador de uma adolescente enquanto ela e seus amigos são perseguidos por uma figura invisível que procura vingança por um vídeo embaraçoso que levou uma valentona a se matar um ano antes.
Depois de os executivos da Universal assistirem uma exibição teste de Amizade Desfeita aterrorizar a audiência, o estúdio adquiriu o suspense que foi desenvolvido e concebido pelo visionário cineasta Timur Bekmambetov (O ProcuradoAbraham Lincoln: Caçador de Vampiros). 
Dirigido por Levan Gabriadze, Amizade Desfeita é escrito por Nelson Greaves e produzido por Bekmambetov e Greaves, assim como por Jason Blum da Blumhouse Productions (Ouija – O Jogo dos Espíritos, Atividade ParanormalUma Noite de crime a série). 

007 - CONTRA SPECTRE

Na ultima reedição do livro 1001 Filmes para ver antes de morrer, 007 - Operação Skyfall estava na lista de filmes indispensáveis para serem vistos e não é para menos. Com começo, meio e fim bem amarrados, a trama era independente dos eventos dos filmes anteriores, mas prestava uma verdadeira homenagem a toda franquia e nos brindou com o passado do protagonista que até então desconhecido. Comandando por Sam Mendes (Beleza Americana), Operação Skyfall poderia encerrar a franquia ali com louvor, mas a maquina que faz dinheiro sempre fala mais alto.
Direto ao ponto: 007 Contra Spectre é inferior a Skyfall, mas não quer dizer que seja ruim, muito pelo contrário. Para começar o roteiro novamente retorna aos eventos dos primeiros filmes estrelados pelo sempre competente Daniel Craig (Cassino Royale e Quantum of Solace), além de interligar com o que aconteceu no filme anterior. Nesse ponto eu achei desnecessário, já que Skyfall funcionava de forma independente, mas no decorrer da projeção você vai esquecendo um pouco disso.
De volta na cadeira de cineasta, Sam Mendes decide novamente repaginar algumas histórias e formulas clássicas já vistas ao longo desses mais de cinquenta anos de franquia e trás de volta uma organização já conhecida pelos fãs: SPECTRE. Visto pela primeira vez nos primeiros filmes de Bond (mais precisamente em Moscou contra 007) Spectre é uma organização secreta, cujo objetivo é lucrar na participação de atentados, ou até mesmo prestando serviço secretamente para outros governos.  Nessa nova releitura, a organização não somente estava envolvida em todos os eventos dos últimos filmes, como também nas tragédias pessoais do protagonista.
Não é segredo para ninguém que essa organização seria a mais nova pedra no sapato para o agente, pois o próprio título dizia isso, mas o grande problema é a falta do elemento surpresa. Na realidade ele existe e é muito bem filmado, orquestrado e bem conduzido (atenção para a cena da reunião da organização que é soberba), mas ao invés dos produtores terem guardado esse momento a sete chaves, eis que os próprios trailers entregavam essa revelação e frustrando aqueles que esperavam por algo imprevisível. O último filme do Exterminador do Futuro, por exemplo, foi vitima dessas revelações antecipadas, mas pelo visto não serviu de exemplo sobre o que não deve ser divulgado antes do lançamento de um filme.
Como esse momento de elemento surpresa acabou sendo desperdiçado, eis que os roteiristas inventam que o vilão da organização chamado Franz Oberhauser (Christoph Waltz, novamente ótimo) tem uma forte ligação com (novamente) o passado do herói. Se em Skyfall o passado de Bond foi colocado na mesa de uma forma inesperada e positiva, aqui o retorno as suas raízes perde o efeito e sentimos a sensação de algo forçado nisso, infelizmente. Compreendemos que a intenção dos produtores desde Cassino Royale foi a de não se esquecer do que foi visto anteriormente, mas para isso nunca é demais se esforçar um pouco para se criar algo de novo na trama.
Se não for agradar aos novos fãs, pelo menos os mais velhos serão agraciados com velhas formulas que fizeram da franquia um sucesso sendo revistas novamente. Se no final do filme anterior determinados personagens conhecidos que, ganharam caras novas, retornaram ao universo de Bond, isso é fortalecido ainda mais com o retorno de beldades das quais ele sempre gostou de conquistar. Monica Bellucci e Stephanie Sigman possuem presenças marcantes, embora curtas, mas é Léa Seydoux (Azul é a Cor Mais Quente) é a que se torna a Bond Girl clássica, embora seja muito clara a intenção dos criadores em transformá-la no que foi Eva Green no primeiro.
Em termos de cenas de ação o filme não decepciona, muito embora elas nunca superem a sequência inicial que abre o filme e que se passa no México. Boa parte dos 300 milhões de orçamento investidos para o filme (o maior da franquia) com certeza foi investido nesses primeiros minutos, pois ele é recheado e movido de figurinos, efeitos visuais, edição de arte e fotografia de encher os olhos. O filme abre com belíssimo plano sequência que, nos dá vontade de aplaudirmos em pé, mas ao mesmo tempo lamentar quando ele acaba.
Com um final que não deixa nenhuma ponta solta e que encerra de uma forma satisfatória, 007 – Contra Spectre deixa somente uma pergunta no ar sobre qual será o futuro da franquia, pois o que começou em Cassino Royale se encerra com certa dignidade aqui. James Bond irá voltar? Como todo velho fã sabe, com 007 não se vive somente duas vezes!
 

10 de novembro de 2015

BEIRA MAR

Enquanto a nossa política brasileira vive num verdadeiro retrocesso, o nosso cinema brasileiro se garante em mostrar a realidade de ontem e hoje e fazendo com que a gente nunca se esqueça o quanto o nosso mundo é diversificado, seja na cultura, costumes, raças e etc. Levando em Consideração a isso, é bom ver que há filmes que estejam retratando pessoas que, por vezes, se encontram presas em correntes invisíveis, mas uma vez livres delas, se aflora finalmente o tipo de pessoa que elas estavam predestinadas a serem.  No filme Beira Mar, dirigido pelos cineastas Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, assistimos a amizade de dois rapazes que, gradualmente, vão arrebentando as suas correntes interiores, para finalmente então conhecerem eles mesmos nos seus primeiros anos da adolescência.
O filme mostra a viagem dos jovens gaúchos Martin e Tomaz rumo ao litoral, para resolverem assuntos relativos a uma herança. Diversas informações são escondidas do cinéfilo, como a relação dos garotos com seus pais e um com o outro. Porém, os cineastas explicam o mínimo necessário para que esses personagens se tornem complexos, e sua jornada seja compreensível ao público.
Curiosamente, a dupla central não escancara o que eles realmente são com as palavras ou ação, mas sim através do silêncio e da sensação de incomodo que ambos sentem naquele mundo em que eles passam no litoral. Em meio a isso, ambos passam por desafios perante as outras pessoas, sejam elas familiares, ou até mesmo entre amigos e nos passando a sensação de que ambos não estão à vontade em meio a elas. A sensação de “um estranho no ninho” é visível, seja em maior ou menor grau, onde nem sequer na relação paternal eles conseguem algum conforto, sendo que dali se poderia tirar alguma luz para os conflitos internos que os aflige.
Embora os atores Mateus Almada e Mauricio José Barcellos aparentem serem pouco experientes na área da atuação, se percebe o quanto eles se expressam de uma forma bem crua e natural na frente das câmeras. Como a proposta do filme é passar sobre uma realidade em que as pessoas não sabem ao certo como se comunicarem realmente, a dupla central acaba por se encaixarem perfeitamente nessa proposta. Ambos acabam tendo uma ótima sintonia em cena, mesmo passando a sensação de freio em seus desejos e objetivos um pelo outro.
Quando acontecem os “finalmente” os cineastas Filipe Matzembacher e Marcio Reolon não criam algo explicito, mas sim algo muito bem filmado no que diz a respeito sobre amor carnal entre duas pessoas do mesmo sexo. A cena não mostra de forma explicita, mas sim sugestiva, principalmente quando vemos um deles somente pelas costas e uma parte de sua cabeça em movimento. A cena já diz tudo o que acontece, mas vale mais pela sugestão e fazendo com que nos demos conta de que se tivesse sido filmada de outra forma não teria o mesmo impacto.
Uma vez consumido o ato, um deles abraça o cenário em que ambos se encontram e selando então a paz interior que antes estava sempre em conflito. Simplificando: o filme nada mais é do que um retrato do lado adulto nascendo em jovens que a recém entraram na adolescência, mas que felizmente descobriram cedo as suas reais identidades perante o mundo em que vivem. Com pequenas referencias a outros filmes (como Azul é a Cor Mais Quente), Beira Mar é um filme simples, singelo e que nos ensina o quanto é grande o desperdício de tempo em compreendermos as pessoas que não entendem o seu próximo, quando na realidade só basta sermos nós mesmos.
 

5 de novembro de 2015

A COLINA ESCARLATE

Assim como inúmeros cineastas (como Tim Burton), Guillermo Del Toro  foi um jovem sonhador que, nas horas vagas, ficava assistindo aos filmes de horror de antigamente na frente da TV. Fã dos estúdios como Hammer, Amicus (ambos ingleses e especializados em obras de horror de décadas atrás) e de obras baseadas nos contos de Edgar Alan Poe (estreladas por Vincet Price), Del Toro se tornou o cineasta que ele é a partir desses filmes e, ao criar as suas próprias obras, veio a se tornar um dos grandes cineastas autorais dos últimos anos. Assistir ao seu último filme A Colina Escarlate, se percebe que não é meramente um filme de casa mal assombrada, como também uma bela homenagem do melhor do horror gótico de antigamente.
O filme se divide em três atos distintos: apresentação dos personagens; apresentação do cenário principal e o derradeiro conflito final. Através dessa forma que o cineasta apresenta a sua trama, não esperem por sustos a todo o momento, sendo que, eles acontecem, mas são raros e não se tornando o verdadeiro foco da trama. O filme se concentra mais na construção dos seus personagens e nas suas motivações, principalmente no seu primeiro ato.
É aí que talvez essa geração nova de cinéfilos, pouco familiarizada com o cinema de horror de antigamente, estranhe num primeiro momento tamanha preocupação que o cineasta tem na apresentação de cada um dos seus personagens, pois ela é longa e pode soar um tanto que cansativa. Porém, isso é valido com a proposta que o cineasta quer passar, de se criar não meramente um filme de fantasmas, mas assim um terror psicológico, do qual se deve preocupar mais com as intenções de determinados personagens do que os fantasmas em si.
Esses últimos, aliás, aparecem somente em alguns momentos e somente para guiar a personagem Edith Cushing (Mia Wasikowska) em situações das quais ela ainda não consegue compreender. Pelo fato de pouco serem vistos em cena, os fantasmas quando surgem é um dos lados técnicos que mais me decepcionou na obra. Não que eles não sejam assustadores, mas eles são muito melhor aproveitados quando estão somente nas sombras, sendo algo semelhante em que eu havia apontado no filme Mama (produzido também por Del Toro).
Fantasmas a parte, talvez o lado visual, técnico e artístico do cineasta, tenha se concentrado do começo ao fim somente na enorme casa onde se passa a trama principal, sendo que, ela em si, é como um personagem vivo e cheio de detalhes. Sua aparição no segundo ato da trama é um verdadeiro espetáculo de edição de arte, fotografia e cores, das quais se cria um verdadeiro mosaico, onde não se sabe quando começa e quando termina. Atenção para parte da frente da casa, onde a neve se mistura com a terra vermelha, dando a entender que o terreno sangra a todo momento e o que fez me lembrar muito o cenário apresentado em Guerra dos Mundos de Steven Spielberg.
Mesmo que a casa em si seja a verdadeira estrela da obra, o elenco também não decepciona, mesmo quando em determinados momentos os seus desempenhos poderiam ter sido melhores. É no caso de Mia Wasikowska que, embora já tenha estrelado inúmeros títulos (desde Alice no País das Maravilhas), ainda não foi dessa vez que ela me convenceu, já que sua atuação ainda persiste no modo “não ajuda, porém não atrapalha”. Já Tom Hiddleston (o eterno Loki da Marvel) nos convence com o seu Sir Thomas Sharpe, cujo seu ar de ambiguidade nos faz a gente se perguntar quais são as suas reais intenções a todo o momento com a sua amada Edith (Wasikowska).
Porém, Jessica Chastain (vista recentemente em Perdido em Marte) que, ao interpretar Lucille, irmã de Thomas é o que dá um verdadeiro show de interpretação toda vez que surge em cena, mas falar muito do seu desempenho seria entregar algumas das grandes revelações da obra e, portanto cabe vocês testemunharem mais um grande desempenho dessa jovem atriz. Adianto que o final nos brinda com momentos sufocantes, revelações chocantes e um final que, embora previsível em alguns momentos, cumpre com o seu verdadeiro objetivo de não deixar nenhuma ponta solta com relação à verdadeira natureza daquele lugar. Com uma reconstituição de época perfeita e um figurino deslumbrante, A Colina Escarlate é uma verdadeira aula de como se fazia horror gótico de antigamente, mas que infelizmente nem todos irão compreender a proposta que Guillermo Del Toro quis nos passar, mas que felizmente prevejo status de Cult a caminho para esse belo filme. 
 

3 de novembro de 2015

DICA DE CINEMA

OS 33

29 DE OUTUBRO NOS CINEMAS

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ESTREIA: 29/10/15
Distribuidora: Fox Film
Gênero: Drama
Direção: Patricia Riggen
Elenco: Rodrigo Santoro, Antonio Bandeiras, Juliette Binoche, Gabriel Byrne e James Brolin.

Sinopse: Baseado na história que comoveu todo o mundo. Capiapó, Chile. Um desmoronamento faz com que a única entrada e saída de uma mina seja lacrada, prendendo 33 mineradores a mais de 700 metros abaixo do nível do mar. Eles ficam em um lugar chamado refúgio e, liderados por Mario Sepúlveda (Antonio Banderas), precisam racionar o alimento disponível. Paralelamente, o Ministro da Energia Laurence Golborne (Rodrigo Santoro) faz o possível para conseguir que os mineiros sejam resgatados, enfrentando dificuldades técnicas e o próprio tempo.

Trailer: http://www.foxfilm.com.br/os-33

28 de outubro de 2015

DICA DE CINEMA

STRAIGHT OUTTA COMPTON – A HISTÓRIA DO N.W.A.
29 DE OUTUBRO NOS CINEMAS

Não recomendado para menores de dezesseis (16) anos.



Estreia: 29/10/2015 

Gênero: Drama 

Elenco: O’Shea Jackson, Jr.; Corey Hawkins; Jason Mitchell; Neil Brown, Jr.; Aldis Hodge; e Paul Giamatti

Direção: F. Gary Gray

Roteiro: Jonathan Herman e Andrea Berloff

História: S. Leigh Savidge & Alan Wenkus e Andrea Berloff

Produção: Ice Cube, Tomica Woods-Wright, Matt Alvarez, F. Gary Gray, Scott Bernstein, Dr. Dre

Sinopse: Em 1987, cinco jovens de Compton - usando rimas brutalmente sinceras e batidas graves - expressam sua frustração e raiva sobre a vida através da mais poderosa arma que tinham: sua música. Levando-nos para onde tudo começou, Straight Outta Compton conta a história real de como esses rebeldes – armados apenas com suas letras, sua aparência, atitude e talento inexperiente – enfrentaram as autoridades que queriam mantê-los calados e formaram o grupo mais perigoso do mundo, N.W.A. Enquanto eles falavam a verdade que ninguém havia dito antes e expunham a vida no gueto, suas vozes provocavam uma revolução social que mantém efeito ainda nos dias de hoje.

Straight Outta Compton tem como personagens principais O’Shea Jackson Jr., Corey Hawkins e Jason Mitchell no papel de Ice Cube, Dr. Dre e Eazy-E, e é dirigido por F. Gary Gray (Friday, Set It Off, The Italian Job). O drama é produzido pelos membros originais do N.W.A, Ice Cube e Dr. Dre, que são acompanhados pelos produtores Tomica Woods-Wright, Matt Alvarez, Gray e Scott Bernstein. Will Packer é o produtor executivo do filme junto com Adam Merims, David Engel, Bill Straus, Thomas Tull e Jon Jashni.

26 de outubro de 2015

PONTE DOS ESPIÕES

Se nos anos 80, o cinema americano retratava o seu poderio através dos heróis que nunca levavam um tiro (enquanto os outros países eram retratados como vilões estereotipados), foi a partir do final dos anos 90 em que essa formula demonstrava sinais de que estava cada vez mais cansada e que estava mais do que na hora em dar espaço para heróis mais humanos, ou para produções em que retratavam passagens da história, em que os diálogos entre as nações prevaleciam como um todo. Filmes como 13 Dias que abalaram o mundo são bons exemplos de obras cinematográficas, das quais não se exigia tiros ou efeitos especiais, mas sim um retrato de um jogo político e uma abertura para a razão do que para ação. Sendo assim, Ponte dos Espiões é um retrato de uma época em que, as duas maiores potências do mundo (EUA e União Soviética) se digladiavam através de paranoia, propaganda enganosa e espionagem, mas nem por isso deixou de haver casos em que a razão prevaleceu.
Dirigido pelo mestre Steven Spielberg, acompanhamos a captura do espião russo Rudolf Abel (Mark Rylance, ótimo) em pleno território americano. Num primeiro momento acreditamos que ele se encontra perdido em meio à situação, mas o governo então decide lhe oferecer uma defesa através do advogado James Donovan (Tom Hanks). Ao mesmo tempo, um soldado americano é capturado pelos russos, assim como também um jovem americano é capturado em pleno momento em que o muro de Berlim esta sendo construído.
Sabendo no vespeiro em que estava se metendo, Spielberg não foi bobo em não querer retratar heróis ou vilões no decorrer da trama, mas sim pessoas comuns em meio a um período em que todos eram desconfiados um dos outros e que não podiam frear as mudanças rápidas que estavam acontecendo. As pessoas que usavam a razão se tornavam ineficazes perante o medo em que o próprio governo americano vendia, até mesmo nas escolas, a propaganda sobre o perigo da bomba atômica (através do curta Burt, a tartaruga). Sendo assim, o advogado Donovan se torna uma espécie de anomalia perante a sociedade americana quando aceita defender Abel, mesmo seguindo as leis de seu país de forma correta.
No momento que acontece o encontro entre cliente e advogado, Spielberg foi engenhoso em retratar Rudolf Abel, como uma espécie de imagem pálida e cansada de uma época pessoal sua já esquecida e o eficaz desempenho do seu interprete Mark Rylance sintetiza bem isso. Quando entra em cena James Donovan (Hanks), há nele uma espécie de luz da razão em torno dele, do qual torna a situação de Abel menos desesperadora. Não é à toa, portanto que o cineasta usa a sua já conhecida fotografia iluminada no momento do encontro do advogado e cliente numa sala fechada, mesmo num lugar que é inverossímil haver aquela iluminação toda.
A partir deste ponto, acompanhamos a jornada James Donovan, um homem comum perante as duas potências, aonde o seu raciocínio e dialogo se tornam as suas melhores armas em meio ao jogo da política. Sendo assim, Tom Hanks cai então como uma luva para o personagem, pois os homens comuns em meio a situações desesperadoras  fazem parte da filmografia do veterano ator. Spielberg, por sua vez, estabelece de uma vez por todas a sua fase mais madura de sua carreira e provando que histórias do nosso mundo real se tornam até mesmo muito mais fantásticas do que as próprias que ele havia criado nos seus primeiros anos de carreira.
Embora já tenhamos uma noção de como a trama acaba (principalmente para quem acompanhou as notícias da época sobre a troca de espiões) Spielberg é mestre em criar situações para incrementar o recheio, mas não de uma forma gratuita, mas sim que elas fazem algum sentido na trama. Pequenas passagens da jornada de Donovan que, nem precisaria existir dentro da trama principal, mas que elas estão ali para simbolizar o período e os lugares em que ele se encontra: a cena em que ele tenta barganhar com uns rapazes para pegar uma rua em Berlim, ou quando ele vê o destino trágico de pessoas que tentam pular o famigerado muro daquela época (que irá se casar com uma cena simbólica no final do filme), são momentos curtos, porém, poderosos e simbólicos para dentro da trama.
Com uma reconstituição perfeita da época e com um final redondinho, para que os cinéfilos saiam da sala e se sintam reconfortados, Ponte dos Espiões é um filme para ser visto por todos, aonde mostra que, o dialogo e a tolerância, é muito mais eficaz do que fecharmos os olhos e darmos o primeiro tiro.
 

23 de outubro de 2015

A Pele de Vênus

A Pele de Vênus é uma adaptação da peça escrita por David Ives (co roteirista com Polanski), que por sua vez é inspirada no livro de Leopold Von Sacher-Masoch. Começa com uma câmera em primeira pessoa adentrando um velho teatro de Paris, ou seja, colocando o espectador literalmente dentro daquele ambiente. Em seguida vemos Vanda (a ótima Emmanuelle Seigner, esposa de Polanski) chegar atrasada para uma audição de uma peça homônima ao título do filme e encontrar Thomas (Mathieu Amalric), o diretor estreante da mesma. Ele já está de saída e num primeiro momento recusa-se a assistir ao teste da moça, porém após muita insistência ela acaba conseguindo sua atenção, e com isso os dois acabam entrando em um tipo de jogo masoquista, onde realidade e interpretação confundem-se.
É basicamente isso, sendo somente dois personagens e uma locação ao longo de 96 incríveis minutos, algo que é muito bem parecido visto em O Deus da Carnificina que também pertence ao diretor. Polanski é habilidoso mostrando todo seu domínio sobre a mise-en-scène, definição que engloba o posicionamento do que se encontra em cena, coisa fundamental em qualquer filme, mais ainda quando ele se passa em um teatro. Repleto de humor negro, o roteiro deixa um final aberto a inúmeras interpretações, o que torna a experiência das mais imprevisíveis. Ao extrair as interpretações e dirigir os atores, o diretor contradiz a idade que tem e algo sublime e original. Obviamente os atores têm os seus méritos, mas a mão de Polanski é diz tudo e cria sua própria magia cinematográfica. Ele os guia de maneira perfeita, mostrando sempre como devem se portar e indicando quais sentimentos os personagens trazem consigo em determinados momentos.
A Pele de Vênus não é um filme para qualquer um, mas é de uma maestria enorme em sua realização. Um diretor que transcende sua idade na temática do filme, que sabe como lidar com situações adversas, fazendo tudo isso com extrema elegância, merece ser chamado de um dos gênios do cinema. 
 

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