2 de março de 2018

PANTERA NEGRA


Quando um gênero cinematográfico é usado à exaustão pelo cinema americano para gerar lucro, ou ele se desgasta como um todo, ou ele se encaminha para renovação e para então continuar existindo. Filmes como Cavaleiro das Trevas e Logan, são exemplos de tramas maduras que elevam o papel do herói para um novo patamar e são obras feitas com os dois pés no chão em nossa própria realidade. Pode-se dizer que Pantera Negra é o mais novo capítulo desse amadurecimento dentro do gênero, fazendo algo que nenhuma outra adaptação havia feito: consegue a proeza de fazer com que os cinéfilos saiam das salas de cinema debatendo.

Dirigido por Ryan Coogler (Creed), o filme se passa logo após os eventos vistos em Capitão América: Guerra Civil, onde o rei do país africano Wakanda havia sido morto em um atentado. Seu filho T'Challa (Chadwick Boseman) assume a missão de ser, não somente o rei do país, como também assumir o manto do Pantera Negra. Porém, ele precisa capturar Ulysses Kalue (Andy Serkis), único homem que roubou um pouco do bem mais precioso do país, o raríssimo metal Vibranium, mas ao mesmo tempo, surge das sombras Erik Killmonger (Michael B Jordan), que deseja o trono de Wakanda a qualquer custo e traz consigo revelações surpreendentes.

Mais do que uma típica nova adaptação de HQ, Pantera Negra, nos mostra o que aconteceria se num país da África, como a fictícia Wakanda, não tivesse sido tocada pelos exploradores do passado e conseguisse prosperar de forma independente e separada do resto mundo. Graças ao Vibranium, Wakanda é um mundo rico em termos de tecnologia, ao mesmo tempo que preserva velhas tradições de inúmeras tribos que se encontram nela. Não há como deixar de se emocionar quando o protagonista se encaminha para a grande cachoeira, onde terá que passar pelo desafio para provar ser digno e testemunhar toda a cultura do seu povo reunida numa cena que nos enche os olhos.

Mas pelo fato de Wakanda ser fechada do resto do mundo, o filme toca em assuntos espinhosos, que vão desde aos muros que ainda se levantam contra os outros povos em pleno século 21, como também sobre qual é o papel de um governo com relação em ajudar ou não outros povos que nem sequer possuem mais as suas terras. Motivos para que Wakanda se feche do mundo não faltam, principalmente pelo fato de inúmeras pessoas terem sido exploradas, escravizadas e mortas no continente Africano. Mas a questão não é esquecer o passado, mas sim saber perdoar, compartilhar o que tem de melhor a oferecer e prevalecer à união entre os povos para então continuarem existindo.

Em tempos nebulosos, onde um governo norte americano é governado por um racista como Donald Trump, Pantera Negra vem para nos dizer o quão mal é esse retrocesso do qual o mundo de hoje está passando. Sendo assim, não há aqui somente a típica história entre o bem e o mal, até porque as motivações do vilão Erik Killmonger (Michael B Jordan) são muito mais profundas do que se imagina e faz a gente compreender do começo ao fim as motivações que o levaram para um caminho sem volta. Criticada sempre por não apresentar um grande vilão de peso, a Marvel finalmente faz as pazes com o passado e nos brinda com um personagem inesquecível e do qual até mesmo simpatizamos.

Mas como estamos falando de um filme da Marvel, momentos de ação, humor e efeitos visuais é o que também não faltam. Embora ainda seja novato na elaboração de cenas ação, Ryan Coogler se empenhou para não ficar no meio do caminho e criou até mesmo cenas imprevisíveis e criativas: a cena em plano sequência que acontece na Coreia do Sul é digna de nota.

Chadwick Boseman se sai bem como Pantera Negra, pois ele carrega tanto um bom porte físico apropriado, como também uma carga dramática interna que ainda pode ser ainda mais explorada. Mas da ala dos heróis, quem rouba as cenas são as mulheres guerreiras de Wakanda, onde a paixão do herói Nakia (Lupita Nyong) e a chefe da guarda do reino Okoye (Danai Gurira) dão um verdadeiro show de lutas e acrobacias surpreendentes. Letitia Wright, que faz a irmã do protagonista, além dela ser um gênio da tecnologia de Wakanda, ela se destaca principalmente em momentos em que nos lembra situações dignas de um filme de 007.

Infelizmente nem tudo é 100% perfeito, já que a Marvel ainda teima em usar a sua fórmula já desgastada em criar piadas em momentos inadequados, principalmente no ato final do filme do qual se deve enveredar para um lado mais dramático. Felizmente isso não compromete o resultado positivo, principalmente com relação ao duelo final entre o herói e vilão, onde ambos se dão conta que sempre possuíram algo em comum, mas que foi devido aos erros do passado vindos dos seus pais que fizeram tomar caminhos opostos. Um conflito final que termina de uma forma emocional e muito bem resolvida.

Com um discurso final que dá um verdadeiro tapa na cara contra Donald Trump, Pantera Negra é um legitimo exemplo positivo de uma adaptação de HQ a ser seguido, onde se comprova que ainda precisamos muito evoluir, para que só assim todos os povos do mundo possam sobreviver.

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