15 de dezembro de 2017

Star Wars - Episódio VIII: Os Últimos Jedi

Estreiou em todo o Brasil o mais novo filme da franquia Guerra nas Estrelas e a grande preocupação são os SPOILERS.
O filme é muito bom e cativante com os personagens antigos. Creio que ele chegou no limite de abusar do humor... quase comprometeu o filme com piadinhas bobinhas, numa tentativa de quebrar a seriedade da trama.

Desta vez, os remanescentes da Nova República, que instauraram uma resistência à Primeira Ordem, estão fugindo em busca de uma nova base secreta. O objetivo deles é aguardar que a missão de Rey seja um sucesso, e que o Mestre Jedi Luke Skywalker volte para restaurar a esperança de uma galáxia melhor. Quem assistiu à série Battlestar Galactica, vai notar uma referência no estilo da fuga.

Rey ao encontrar Luke, descobre que ele se fechou para a Força, desapontado por não ter conseguido criar uma nova Ordem Jedi, ao ser traído pelo jovem Ben Solo, que se tornou o vilão Kylo Ren.

Kylo está cada vez mais forte no lado negro, assim como Rey está cada vez mais forte na Luz. Em seu treinamento com Luke, Rey percebe que tanto ela como Kylo tem conflito na Força para passar para o outro lado. Isso vai colocá-los numa relação inusitada... pois a Força os conecta de maneira cada vez mais forte. Mas ambos ainda estão muito imaturos em relação a seus poderes.
O filme se torna mais interessante, do ponto de vista que ele expande a discussão sobre a ambivalência e dicotomia Força, da luta entre o bem e o mal, entre a Luz e a Escuridão. O filme também expande os poderes de quem consegue dominar a Força.

Sobre os demais personagens, Leia mostra um domínio surpreendente da Força. Poe Dameron, o pilotro rebelde, se mostra imaturo e ainda mais audacioso (notavelmente numa tentativa da produção de preencher o espaço de Han Solo). Finn, ainda com recaídas de sua covardia embarca numa missão ousada com Rose, a nova integrante do grupo principal da resistência.

Do outro lado, Hux e Phasma apenas preenchem a obra sem destaque para a trama e Snoke parece ter um poder ainda maior que o de Vader, como o próprio Andy Serkis mencionou recentemente. 

A obra também sustenta durante mais da metade do filme a discussão sobre quem são os pais da Rey, tão discutida pelos fãs... Se seria filha do Luke ou também do Han e Leia ou se haveria outra origem para sua força. Por fim, é revelado (o que não vou fazer aqui).
Como disse, o filme é bom, mas ele mantém a lógica da produção de ser um recomeço da saga, usando os demais filmes como mera referência. Notadamente, se o Episódio VII foi um reboot disfarçado de Uma Nova Esperança, o Episódio VIII segue a linha de "O Império Contra-Ataca", com diversas referências, na trama, nas cenas de batalha e no treinamento da Rey.

O que os fãs vão sentir falta é que este filme tem menos "Easter Eggs", ou seja, menos homenagens e referências de falas e objetos aos filmes clássicos e a trilha sonora é óbvia para Star Wars, sem grande inovações... parece que a genialidade de John Williams chegou no seu limite.

O bacana é que a participação nova de um antigo personagem, é muito cativante, bem como uma singela homenagem à Carrie Fisher, no último diálogo entre Luke e Leia.

Além disso, decisões importantes tomadas nesse filme, poderão levar a saga para um outro nivel... ou para um grande fechamento com o Episódio IX, mas eu suponho que a Disney não irá parar por aí e deverá lançar mais e mais sequências.

Curtam o filme e que a Força esteja com você, sempre.

8 de dezembro de 2017

Assassinato no Expresso do Oriente (2017)

Kenneth Branagh é um sobrevivente em meio à indústria cinematográfica, pois embora tenha criado uma carreira sólida tanto como ator como também cineasta, ele nunca exatamente se vendeu aos engravatados do cinemão americano, mas sim sempre se preocupou em fazer um cinema de sua autoria e independente de qual gênero ele fosse abraçar. Das adaptações da obra de Shakespeare (Enrique V e Hamlet) a adaptações de HQ (Thor), Branagh também ousou se aventurar no horror, ao criar, para mim pelo menos, a melhor versão do conto de Mary Shelley's, Frankenstein de 1994. Agora em pleno 2017 o cineasta se arrisca em trazer de volta ao cinema Assassinato no Expresso do Oriente, obra máxima da escritora Agatha Christie.
O filme se passa nos anos 30, onde um luxuoso trem prossegue em sua longa viagem pela Europa. Entre os passageiros se encontra o detetive Hercule Poirot (Kenneth Branagh), um dos melhores do ramo e que é sempre chamado para investigações misteriosas. Após uma avalanche, do qual deixou o trem parado nos trilhos, um misterioso assassinato ocorre, sendo que a vitima recebeu doze facadas e fazendo com que Poirot inicie a investigação que terá desdobramentos imprevisíveis.
Nem vou me estender muito em fazer comparações dessa versão com a do clássico de 1974 comandado por Sidney Lumet (Um Dia de Cão), pois embora seja a mesma trama, ambos os filmes são moldados de uma forma completamente diferente. Enquanto a versão de Lumet segue de uma forma fiel e simples ao adaptar o conto da escritora, Branagh opta em fazer com que as passagens do conto criado naquele período (1934) soem mais verossímeis nos dias de hoje. Não que o clássico da literatura tenha envelhecido mal, muito pelo contrário, mas Branagh optou até mesmo em explorar os dilemas e os conflitos que cada um daqueles misteriosos personagens vive naquele momento no trem e enveredando as situações até mesmo num grau de verossimilhança aceitável.
Essa versão de Hercule Poirot, por exemplo, criada pelo próprio Branagh para si soa até mesmo mais humana, pois embora demonstre um lado pretensioso ao dizer que é o melhor detetive do mundo, ele acaba não escondendo o quão se sente fragilizado perante uma investigação da qual ele mesmo reconheça que talvez não esteja preparado para concluí-la. Os fãs mais conservadores talvez não venham aceitar tais mudanças, mas no meu entendimento Branagh tirou leite da pedra, pois o resultado nas mãos de outra pessoa poderia ser muito pior hoje em dia.
Tecnicamente, o filme possui um dos mais belos visuais cinematográficos do ano, do qual não é preciso de um 3D para que as cenas saltem na tela, pois os cenários fazem que os nossos olhos brilhem para cada quadro de cena revelado. Além de uma edição de arte e fotografia que anda sempre em mãos dadas, Branagh, assim como fez em seus filmes anteriores, usa e abusa do uso da câmera e fazendo com que ela não tenha limite em alcançar determinado local de cena: o plano sequência onde se é apresentado cada um dos personagens principais embarcando no trem antes da partida é disparado um dos melhores momentos da obra.
Assim como na versão de 1974, o filme é moldado por um elenco estelar, do qual cada um tem uma função importante e que faz com que as engrenagens da trama fluem perfeitamente. Mas não esperem grandes interpretações, pois eles estão ali mais para dar vida à obra de Agatha Christie do que sobrepor ao que já havia sido feito pela autora. Porém, é preciso reconhecer o esforço de alguns, principalmente com relação ao belo desempenho de Michelle Pfeiffer que, ao interpretar a personagem Caroline Hubbard, ela consegue a proeza de moldá-la com inúmeras camadas, fazendo dela um ser trágico e sintetizando o lado ambíguo de todos que se encontram naquele trem.
Com uma referencia explicita a Santa Ceia de Leonardo da Vinci nos seus minutos finais, Assassinato no Expresso do Oriente de 2017 é cinema autoral de qualidade vindo do diretor Kenneth Branagh, mesmo quando se preocupa em ser fiel a sua fonte de origem literária.  

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