8 de março de 2017

LOGAN



Quando lia os meus gibis dos X-Men nos tempos de escola eu sempre ficava me perguntando qual seria o ator ideal para ser o Wolverine no cinema. Quando Hugh Jackman surgiu pela primeira vez na pele do personagem em 2000 em X-Men: O Filme, logo vi ali um ator que entendeu a essência daquele ícone, mas que nunca teve uma total liberdade para que ele colocasse para fora toda a dor e fúria que o personagem carrega há décadas. Mas eis que finalmente chega LOGAN, filme que, não só é uma despedida digna que o ator faz para o personagem, como também é tudo aquilo que ele queria fazer para ele e muito mais do que a gente imaginava.
Estamos no futuro, onde os mutantes não nascem mais e os que restaram são caçados e mortos por um grupo chamado Carniceiros e liderados por Donald Pierce (Boyd Holbrook). Logan (Jackman), mesmo com o peso da idade já lhe abalando fisicamente, ganha uns trocados como chofer de uma limusine na fronteira do México e que, ao lado do mutante Caliban (Stephen Merchant) cuida de um frágil professor Charles Xavier (Patrick Stewart) que sofre de mal de Alzheimer. Não demora muito para que esse cenário mude, já que surge uma jovem chamada Laura (Dafne Keen), que tem os mesmos poderes de Logan e que está sendo caçada pelos carniceiros.
Dirigido novamente por James Mangold  (Wolverine: Imortal), LOGAN já nos dá uma dica no início do filme de que não estamos diante de mais uma mera adaptação de uma HQ, mas sim de um filme que vai muito além disso. Ao começar pelo fato de como são apresentados os personagens principais, sendo que se encontram cansados, doentes, velhos e com o peso no mundo e de várias décadas de luta árdua em suas costas. Logan, aliás, não está nem aí para o que acontece em sua volta, desde que continue em frente e consiga todas as formas para manter o seu velho Xavier vivo.
A situação do qual os personagens se encontram serve de estopim para que o filme se encaminhe para outros gêneros, que vai desde um roadie movie ou até mesmo um faroeste. Falando em faroeste, esse gênero é muito bem representado através de uma bela homenagem que o filme faz ao clássico Os Brutos também Amam, sendo que, tanto o protagonista daquele filme como o Logan desse filme, é personagens que fogem de um passado do qual se encontra somente dor e remorso. Com essa situação do qual os personagens se encontram, o que fariam então eles voltarem a ter pelo menos um pingo de esperança em meio a uma realidade da qual lhes tiraram tudo?
Eis que Laura (ou X-23 para os íntimos) é a figura enigmática para essa resposta. Sem dar muitos detalhes, o que posso dizer é que Laura é o que faz nascer à motivação para que Xavier, e um reticente Logan, partam para a estrada e consigam um lugar seguro para a menina. É no decorrer dessa cruzada que nasce então uma família duvidosa, mas humana e da qual faz com que qualquer um que assiste se identifique com ela facilmente.
Claro que tudo se deve logicamente ao empenho de cada um dos atores, dos quais já se encontram mais do que familiarizados em seus respectivos papeis, mas conseguindo criar novos patamares para cada um deles. É doloroso ver, por exemplo, Xavier tão frágil e no fim dos seus dias, mas somente sentimentos essa dor graças à interpretação magistral de Stewart, como se ele estivesse interpretando pela última vez na vida e fazendo a gente sentir uma total tristeza e carinho pelo personagem. Hugh Jackman, por sua vez, finalmente nos brinda com o Logan do qual sempre sonhou interpretar e consegue nos passar em cada cena um guerreiro cansado e que não vê como problema algum a possibilidade de tombar e finalmente descansar após inúmeros anos de lutas e sofrimentos.
Mas é na personagem Laura que se encontra o verdadeiro coração do filme, já que a sua interprete é, não tenho menor dúvida com relação a isso, como o melhor achado cinematográfico deste início de ano. Interpretada com intensidade pela jovem atriz Dafne Keen, Laura parece uma mistura selvagem da personagem vampiresca de Deixa ela entrar com o desejo de vingança da jovem  personagem vivida por Natalie Portman em O Profissional de 1994. Mesmo quase não falando em toda projeção, Keen nos transmite só pelo olhar todos os sentimentos do qual a sua personagem sente e cada cena da qual ela divide com Jackman faz com sejamos fisgados mais e mais para dentro da história.
Claro que por terem adquirido carta branca para fazer o que bem entender nesse derradeiro filme, os roteiristas e o cineasta não pouparam nas cenas violentas, onde vemos o personagem usando as suas garras com vontade e fazendo a gente ver, pela primeira vez na cine série, esguichos de sangue na tela a torto e a direito. Porém, tanto essas cenas violentas, como também as cenas de ação, elas surgem não de uma forma gratuita, mas sim quando acontecem eventos dos quais fazem com que, querendo ou não, aconteçam esses momentos. Isso gera momentos de imprevisibilidade, até mesmo aflição e fazendo com que tememos pelos destinos dos personagens.
Claro que nem tudo são flores, já que os vilões, por mais mortíferos que sejam não são muito interessantes. Boyd Holbrook, por exemplo, tenta nos convencer que o seu personagem é uma grande ameaça, mas fica apenas na promessa. E como a trama envolve experiências com mutantes, isso acabou gerando o surgimento de um personagem desnecessário que, mesmo sendo responsável por dois momentos desesperadores, ele poderia ter sido facilmente substituído por qualquer outro personagem, desde que fosse mais bem construído. 
Isso não diminui a experiência de assistir LOGAN, um filme que entrará facilmente na lista dos melhores filmes de adaptação de HQ dos últimos anos, por ter a coragem de quebrar os alicerces firmes e previsíveis do gênero e nos presentear com algo corajoso e inesquecível.

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