31 de julho de 2015

DEPOIS DA CHUVA

Eu Nasci em 1980 e, por conta disso, tenho algumas lembranças das Diretas Já, como eu assistindo na TV e vendo inúmeras pessoas carregando uma imensa bandeira em Brasília. Também me lembro claramente do funeral de Tancredo Neves, embora não tinha total noção do porque de tanta tristeza naquele momento que as pessoas estavam passando. No decorrer da década, assisti pela TV o governo de José Sarney definhando e a entrada de Fernando Collor de Mello no poder e gerando uma das maiores crises da nossa história.
Felizmente, isso não fez morrer a década de 80 que, para mim, foi uma das melhores décadas, aonde musica, filmes, séries e programas de TV viviam a sua era de ouro e nos fazia a gente se esquecer dos problemas e das mudanças que estávamos vivendo. Na realidade vivíamos numa transição, onde a Ditadura estava morrendo e dando reinício à república, após vinte anos perdida. O filme Depois da Chuva, dirigido por Claudio Marques e Marília Hugues sintetiza muito bem isso, ao retratar o dia a dia de um grupo de jovens daquele tempo que, estavam adormecidos, mas será que estariam prontos para essa nova realidade?
Ao que dá entender, percebemos que os personagens descobriram uma espécie de ferida aberta, da qual há muito tempo não cicatrizava, mas curá-la não era dos caminhos mais fáceis. Além de focar a história dos jovens daquele tempo, o filme conseguiu, com certa delicadeza, passar uma aura poderosa, nunca deixando cair no banal, ao criar uma teia de eventos que tornam a trama mais prazerosa de se assistir. O uso de arquivos reais daquele período, não só sintetiza aquela transição de mudanças, como também nos faz comparar com a nossa política atual, mídia e propaganda, da qual (em parte) comprova o quanto as coisas mudaram de lá para cá.
O personagem principal Caio (Pedro Maia), estudante secundário, tem 16 anos e mora numa cidade de Salvador. Estamos em 1984, no auge das Diretas Já. Logo no início do filme, um discurso sobre a democratização do país é rapidamente cortado, para nos levarmos a uma escola de classe média, onde a notícia de que finalmente ocorrerão eleições livres na associação estudantil do colégio. Porém, diante de um futuro que trará liberdade e boas possibilidades, seja ela política ou cultural, o protagonista opta pela rejeição desse otimismo, pelo impasse e por não saber definir com relação ao que quer com essa nova realidade.
Caio se encontra na anarquia, no protesto, na tentativa de fazer o que pensa e passar isso para as pessoas, que ainda se encontram presas numa era que não existe mais naquela escola. Em meio a isso, ele se aprofunda no que gosta, desde a ler, falar e protestar numa rádio pirata, como também se entregar na descoberta de certos prazeres da vida. O público de cá sabe o que aconteceu ao longo dos anos até o nosso presente, mas o ato final passa uma sensação de apreensão, aonde os personagens se encontram de frente com um futuro do qual eles desconhecem totalmente.
Política, cultura, moda e religião vão mudando sempre, mas a incerteza sempre está lá com relação ao amanhã. A história de Depois da Chuva, pode até se passar na metade dos anos 80, mas é o melhor filme brasileiro recente que soube captar essa imparcialidade que o povo brasileiro vive atualmente.  
 

29 de julho de 2015

Woody Allen - Um Documentário

Há diretores que levam anos para filmar um próximo filme, não por falta de idéias, mas sim devido ao seu lado perfeccionista que fala mais alto. Portanto, são poucos que fazem inúmeros filmes ao longo dos anos e que se mantenha uma visão autoral de qualidade. Ao lado de diretores como Martin Scorsese e Alfred Hitchcock, Woody Allen pertence a esse pequeno grupo de cineastas que filmam inúmeros títulos ao longo das décadas, mas que dificilmente perde em termos de qualidade de roteiro e do modo de filmar.
Dirigido por Robert B. Weide (O Doador de Memórias) acompanhamos, não somente depoimentos do cineasta, como também dos seus amigos, colegas e até mesmo de outros cineastas (como Scorsese), que o admiram pela forma dele sempre manter a sua visão autoral até hoje e que perdura por mais de quarenta anos de atividade. O documentário explora a forma como o cineasta cria os seus roteiros que, pelo visto, não se seduziu pelas tecnologias de hoje como um computador. De uma forma simples, Allen escreve os seus roteiros na mesma maquina de escrever que está com ele por mais de quatro décadas e que dali surgiram idéias para a criação de clássicos como Noite Neurótico e Noiva Nervosa (1977).
O documentário desvenda as suas raízes que, de um simples comediante de auditório, passou a ser convidado a participar de pontas de alguns filmes, para sim começar a chamar atenção como roteiristas A partir de Bananas (1971), Allen cada vez mais teve controle na criação de suas obras e rendendo sucesso de público e crítica um atrás do outro. Porém, o documentário explora também os altos e baixos da carreira, como sempre ficar marcado como um cineasta de comédias ou quando se arrisca na criação de algo novo e dá um passo em falso na criação de dramas como Interiores (1978).
Não se dando por vencido, Allen deu a volta por cima, em filmes em que, tanto ele manteve as características que o tornaram conhecido (Manhattan, 1979), como em filmes que ele oscila para algo diferente do normal em sua filmografia (Crimes e Pecados, 1989). Porém, o documentário não esconde o fato que os anos 90 não foram os melhores para o cineasta, principalmente na época das filmagens de Maridos e Esposas (1992), do qual seria o seu último trabalho ao lado de sua ex-esposa Mia Farrow. A História todo mundo conhece: Farrow tinha uma filha adotiva chamada Soon Yi, mas que Allen acabou tendo uma relação amorosa (resultando em casamento que dura até hoje), causando um dos maiores escândalos na época e que quase enterrou a carreira do cineasta.
Talvez em respeito ao diretor, Weide optou em não se aprofundar nessa passagem da história, mas sim somente na quebra do período entre ele e Farrow, na qual a última cena dela com o diretor em Maridos e Esposas sintetizam bem isso. Após isso, o documentário se encaminha para os anos de reestruturação que o cineasta trabalhou para continuar em ativa e o resultado foi pelo menos um filme por ano, dos quais Allen deixava os cenários dos EUA e explorava outras partes do mundo. O resultado disso foi o surgimento de produções umas melhores do que a outra, como Meia Noite em Paris, que acabou se tornando o maior sucesso da carreira do cineasta.
Com trinta e seis filmes no currículo e mais três a caminho, o futuro de Wood Allen ainda é incerto. Porém, uma certeza que nós temos, e que ele mesmo nos dá durante o documentário, é do fato dele mesmo admitir que ele ainda não filmou o seu filme definitivo. Seria esse o fato dele continuar lançado pelo menos um filme por ano?
Se for esse o caso, que torçamos para que ele não ache a sua nona sinfonia e que nos brinde sempre com um filme por ano, da onde conseguimos enxergar a paixão que ele sente pelo  cinema!
 

21 de julho de 2015

A Nação Que Não Esperou Por Deus

Em certa ocasião nas minhas idas e vindas nas sessões de cinema, eu havia assistido um documentário que, infelizmente me falha a memória do titulo da obra, em que revelava certos projetos de leis sem fundamento do nosso país, mas que felizmente que não foram adiante. Em um deles (surgidos nos anos 20 ou 30) mostrava a tentativa do governo em retirar os índios de suas terras e fazer com que eles se misturassem com a sociedade. Embora aparente, num primeiro momento, uma forma de criação para um bom convívio entre as raças, na realidade o projeto era inviável, pois no final das contas fazia com que o índio desvencilhasse de suas raízes e isso me veio à tona ao assistir a esse mais  novo filme de Lúcia Murat (Quase dos Irmãos).
Mesmo correndo o risco de ser esquecido pelo grande público, o documentário dirigido por Murat se aprofunda num ponto de nosso país que a maioria desconhece, mas que nunca é tarde para ser descoberto. Filmado no Mato Grosso do Sul, o filme explora a mudança drástica quando se chegam a energia elétrica na reserva indígena Kadiweu e que, infelizmente junto com ela, veio o estabelecimento de cinco igrejas evangélicas no território. Ao mesmo tempo, surgem inúmeros impasses devido aos conflitos com os pecuaristas que, infelizmente, invadiram parte da reserva.
De uma forma simples, focando inúmeros depoimentos para a câmera, sendo alguns momentos de narração protagonizados pela diretora, o documentário começou como ideia surgida em 1997, quando a cineasta conheceu pela primeira vez os índios Kadiwéus para a criação do filme Brava Gente Brasileira. Fora isso, ela e o diretor Rodrigo Hinrichsen gravaram momentos distintos dos indígenas em três momentos preciosos ao longo de 17 anos, o que colaborou para registrar a saga da tribo durante um período de mudanças, que por vezes parecem irreversíveis, pois o contato com o homem branco somente aumentava.
Um dos momentos chaves dessa intervenção de pessoas de fora, é registrado pelo documentário no momento em que acontece uma reunião entre representantes de tribo com os pecuaristas locais sobre a questão da posse da terra. É nesse momento em que é destrinchado o preconceito e a mentalidade atrasada vinda dos pecuaristas, que se acham entendedores e donos de tudo. Além de por na mesa esse conflito e a forte influencia do conservadorismo estúpido vindo dos evangélicos, os cineastas puderam também criar uma espécie de painel de ontem e hoje, aonde mostra os índios mantendo suas antigas tradições, mas não escondendo o fato de já usar certos recursos da civilização, como veículos, mídia e até mesmo a forma contemporânea de se vestir da cidade grande.
A nação que não esperou por Deus é um filme que merece ser visto e revisto por todos, pois é uma obra que registra a luta de um povo em manter as suas terras e tradições, mesmo aparentando estarem a beira de uma extinção iminente. 

20 de julho de 2015

PHOENIX

No clássico Um Corpo que Cai de Hitchcock, o personagem de James Stuart tenta a todo custo reconstruir uma mulher morta que ele amava, através de outra mulher (Kim Novak). Mal sabe ele que ambas são na realidade a mesma pessoa e que ela foi responsável por ele cair num jogo de gato e rato no decorrer do filme. Considerado até a pouco tempo como o melhor filme de todos os tempos, a trama de Um Corpo que Cai  já serviu de inspiração para outros filmes (como Dublê de Corpo), mas sempre com resultados pouco originais e beirando a imitação.
Porém, Christian Petzold (do ótimo Barbara) provou que se pode sim, tirar algo de original no que o mestre do suspense criou e assim nasceu o seu filme Phoenix, baseado no romance "Le Retour des Cendres", de Hubert Monteilhet, mas que, num primeiro momento, lembra  o clássico de 1958. A primeira vista parece ser mais um de inúmeros filmes sobre o holocausto, mas Petzold vai por outro caminho, focando mais as consequências de tais atrocidades que afligiram inúmeros judeus naquele tempo.
Acompanhamos então uma trama, ambientada no ano de 1945, aonde conhecemos Nelly Lenz (Nina Hoss, ótima), uma sobrevivente dos campos de concentração nazistas que, apesar de ter escapado do sofrimento que passou, sofreu vários ferimentos e seu rosto e ficou totalmente desfigurado. Sem qualquer terror, vê a desunião das moléculas de sua própria existência, até que chega a sua vida, Lene Winter (Nina Kunzendorf), funcionária de uma agência judaica, que toma como missão cuidar e ajudar ela de todas as maneiras que é capaz. Junto com Lene, chega também à possibilidade de Nelly reencontrar seu marido. Mas será que ele vai reconhecê-la?
Nina Hoss interpreta a sofrida Nelly Lenz como se fosse o ultimo papel de sua carreira. O sofrimento dessa linda personagem nos conquista no primeiro ato, que é mais bem compreendido no seu segundo. Nos minutos finais do arco final, pode-se dizer que é um dos mais surpreendentes, e desde já, um dos melhores momentos do cinema desse ano. Já que a cena  por si só é muito bem executada, surpreende o cinéfilo que assiste e que explica muito de todo o contexto da trama.
Claro que, por melhor que fosse a trama, ela não seria nada sem um grande elenco, que ainda conta com os bons desempenhos de Nina Kunzendorf e Ronald Zehrfeld, ambos inspirados em seus papéis. Como um todo, o filme é modelado com inúmeros momentos inspirados, e que vão melhorando, conforme descobrimos mais sobre os protagonistas. A narrativa é lenta, mas proposital, para conhecermos melhor cada personagem daquele mundo, do qual aonde eles tentam reconstruir o que foi tirado em suas vidas.
O cenário destruído “pós-guerra” nada mais é então do que representação das vidas de cada um que se encontra ali. Todavia, assim como a Fênix mitologia Grega, é uma Alemanha renascida das cinzas da sua autodestruição. Como eu já disse acima, final é belo, ecoante dessas mesmas memórias, um assombroso arrepio ao som de “Speak Low” (composto por Kurt Weill). Provavelmente um dos desfechos mais perfeitos do cinema recente.
 

17 de julho de 2015

HOMEM-FORMIGA (Ant-Man, 2015)

Homem-Formiga, do diretor Peyton Reed, faz algumas das melhores coisas que nunca vimos em um filme da Marvel. Scott Lang, personagem de Paul Rudd proporciona inúmeras cenas memoráveis, cheias de risos e ação. Não há nenhum enredo esmagador ou incoerente, a diversão não se baseia apenas em ver ou apreciar as referências aos outros filmes da Marvel. Também não é sobre salvar o mundo ou o universo, os riscos não são tão elevados como outros filmes da Marvel.

A ação e aventura fornece mais do que razões suficientes para fazer o Homem-Formiga ser um alívio dentro do universo cinematográfico da Marvel. O filme se baseia em um conceito chamado de macrofotografia, de modo que, quando Scott Lang encolhe, o seu entorno, banheiras, tábuas, placas de circuito, ficam extremamente detalhados, porque, em sua maior parte, eles são. É uma forma inovadora de olhar para o mundo super poderoso da Marvel, algo que até agora não vimos em nenhum filme dessa superpotência do cinema.

As impressões digitais de Edgar Wright, que roteirizou a primeira versão do filme, Nunca estiveram mais óbvias, principalmente nas cenas em que Scott encolhe, quando se esgueira através de situações, desarmando guardas mortais, tudo isso mostra que a influência de Wright esta lá e foi muito bem usada.
Dito isto, outras vozes criativas têm a sua marca em todo o Homem-Formiga, incluindo Peyton Reed, o diretor com a tarefa nada invejável de assumir as rédeas de um dos cineastas mais amados na história recente da cultura pop, com apenas algumas semanas para se preparar para o montar tudo isso. Dada a enorme batalha que enfrentou, a capacidade de Reed para dirigir Homem-Formiga é uma maldição admirável.
Entretanto, grande parte do crédito também pertence à Rudd, que interveio no script após Wright e o co-escritor Joe Cornish irem embora no ano passado. Ele e o colaborador frequente Adam McKay carregam o Homem-Formiga com o timing cômico que ambos são conhecidos. No entanto, eles trouxeram mais do que apenas risadas, eles trouxeram uma carga emocional, também, visto mais claramente nos temas da paternidade; todo mundo tem um problema com sua figura de pai, Darren contra Hank e Scott que luta contra seus próprios fracassos como um pai para sua filha Cassie.

Rudd parece bem seguro interpretando o herói, ele retira todos os aspectos extraordinários do Homem-Formiga e apresenta um personagem mais conhecido pelos seus momentos de comédia do que pelas suas “habilidades de Karatê”. Rudd também faz um grande jogo de tela com Michael Douglas, que interpreta o Dr. Hank Pym, que mesmo sob uma barba e um olhar severo parece ter suas pontas de comédia.

Darren Cross, personagem de Corey Stoll, é principalmente mal. Quando ele coloca o traje do Jaqueta Amarela ele se torna extremamente intimidador, com uma voz e atitude verdadeiramente vilanesca. 

O maior ladrão em cena, depois de Rudd, é Luis, personagem de Michael Peña, como amigo de Scott e talvez o criminoso mais feliz do mundo. O personagem de Peña nos apresenta cenas hilariantes; um exemplo disso é a inabilidade do personagem de contar uma história de forma objetiva e acabar sendo sempre prolixo, exagerando nas gírias e maneirismos.
Homem-Formiga funciona porque é pequeno, porque tem coração e porque não é tudo o que você esperaria de um filme da Marvel. Ele prova que o menor super-herói dos quadrinhos pode ser um sucesso muito grande nas mãos certas, mesmo não sendo tão grande quanto os filmes que ele está tentando se amarrar. Fazendo referencia aos Vingadores e utilizando aparições reais de Vingadores de vez em quando, ele faz um esforço para manter as coisas conectadas. Mesmo que as ligações entre o Homem-Formiga com o Universo Marvel seja um pouco fina, às vezes, há grandes momentos em que novas possibilidades de ver o herói nos vingadores parecem possíveis, novas possibilidades que certamente serão exploradas em Vingadores: Guerra Infinita e, talvez, mais rapidamente em Capitão América: Guerra Civil.


15 de julho de 2015

JAUJA (2014)

Quando o cinema nasceu, era praticamente uma espécie de quadros em movimento, em que o espectador simplesmente apreciava as imagens que soltavam na tela, mas quase ou sem nada de tramas para contar. Claro que ao longo do tempo isso mudou, graças aos pioneiros da sétima arte (como Georges Méliès) que introduziram tramas e fizeram com que o cinema evoluísse e se tornasse o que é hoje.

Porém, existe atualmente uma tendência de retrocesso, mas no bom sentido, onde cada vez mais se percebe que há filmes que usam velhos recursos para se contar uma história. Até pouco tempo, George Miller apresentou a sua obra prima Mad Max: Estrada Perdida, onde o seu prólogo possui um movimento de imagem de alta velocidade, cuja intenção era remeter aos primeiros filmes filmados do final do século 19. O espanhol Branca de Neve, o francês O Artista e até o nosso filme gaúcho A Festa de Margarette, foram rodados em preto e branco, e mudo, fazendo a gente relembrar as primeiras décadas do cinema no século 20.

São velhos recursos, mas que conseguem criar uma história, mesmo quando ela fica por vezes em segundo plano e dando destaque à parte técnica. Na co-produção de vários países (incluindo até mesmo o Brasil), Jauja, do diretor argentino Lisandro Alonso, a trama, sobre a cruzada de um pai (Viggo Mortensen) em busca de sua filha desaparecida (Viilbjørk Malling Agger) é o que faz a trama se movimentar. Contudo, essa cruzada se encaminha para o segundo plano, pois o que nos distrai enquanto estamos assistindo é a forma como foi filmado.

Filmado em belas paisagens do país dos nossos hermanos, o filme tem assinatura do fotógrafo Timo Salminen que criou cada cena para que se parecesse com um quadro pintado, mas em movimento. Diferente dos formatos de hoje, o filme não possui tela larga, mas sim uma imagem quadrada, remetendo aos filmes do final do século 19 e imitando até mesmo as limitações dos movimentos daquelas câmeras de antigamente. Com isso, há muitas cenas paradas, onde somente vemos os personagens dialogando ou se misturando com a natureza em volta.

Isso exige, é claro, um esforço ou até mesmo paciência do cinéfilo que assiste, mas, comprando a ideia, irá apreciar um filme diferente do convencional, cuja suas imagens têm mais a dizer do que as próprias palavras ditas dos personagens principais. Falando em imagem, vale lembrar que o filme é carregado de simbolismo, por vezes não bem decifrado. Esses símbolos reaparecem nos minutos finais da trama e esclarecem (ou não) o que ocorreu na verdade nas quase duas horas de projeção.

Falando no seu final, ele me fez relembrar de imediato dos minutos finais do clássico A Idade do Ouro, do cineasta Luis Buñuel, mas que, embora sejam finais (aparentemente) diferentes, eles possuem uma quebra na trama, da qual ficamos nos perguntando pelos quais motivos levaram para acontecer isso. Como eu disse acima, o que nos foi apresentado no decorrer da trama é o que nos pode dar as respostas para o seu final, mesmo quando os seus inúmeros símbolos levantam mais perguntas do que respostas para nós.

Independente de a pessoa gostar ou não, Jauja é uma pequena experiência cinematográfica, da qual nos faz voltar no tempo, e observar como velhas fórmulas de filmagens ainda não são obsoletas, mas sim frescas para os novos olhos.


8 de julho de 2015

O CRÍTICO (El crítico, 2013)

O Crítico é uma boa e curiosa comédia romântica argentina, sendo o primeiro filme do crítico de cinema Hernán Guerschuny, que já era conhecido há 20 anos escrevendo para a revista Haciendo Filmes. O filme, por vezes, é uma despretensiosa piada com relação à imagem de um crítico de cinema que ranzinza, mal humorado e que odeia comédias românticas. Durante duas décadas, o protagonista Victor Tellez (Rafael Spregelburd), é um famoso crítico de um jornal que, há um bom tempo, não faz uma crítica no jornal que mereça 5 poltronas (bonequinho ou estrela como a gente conhece).

O filme nos convida para conhecer melhor Victor, que entra e sai de cabines com seus colegas do ramo. Curiosamente, parece que eles não prestam mais atenção aos filmes que assistem, mas sim dormem, comem e falam mal da obra a todo o momento, como se a profissão já não fizesse muito sentido e acabam vivendo no piloto automático. E, após as sessões, vão a um ponto de encontro, onde continuam a falar mal, comer e desprezar as obras que assistem que, para eles, não oferecem mais nenhuma trama original.

Quando vai procurar um novo lugar para morar, Victor dá de encontro com Sofia (Dolores Fonzi), uma espécie personagem dos filmes de comédia romântica que ele tanto odeia. Entre os dois, começa então uma curiosa história recheada de todos os estereótipos que Victor não gosta: câmera lenta, música clichê chuva e fogos de artifício. A intenção é clara da produção em querer prestar homenagem a um dos gêneros mais previsíveis da história do cinema (comédia romântica), e devido a isso, o filme se divide em momentos genuinamente inesperados e divertidos, para momentos propositalmente previsíveis e fazendo com que não tenha uma exata direção a tomar no decorrer da trama.

Com isso, alguns personagens acabam por ser mal aproveitados: o trio de críticos é bem divertido (um deles é a cara do cineasta Michael Moore) e a personagem da sobrinha também poderia ter rendido muito mais, mas infelizmente fica no meio do caminho e não se sabe para que veio na trama. Felizmente o filme nos brinda com muitos diálogos geniais, como a singela conversa entre o protagonista e um dos seus amigos críticos, que assume ser nerd desde sempre.

Claro que é uma obra que terá muita força entre os fãs da sétima arte e até mesmo para aqueles que seguem a profissão de crítico, mesmo quando eles são representados de uma forma estereotipada e que tem pouca a ver com a realidade nossa. Curiosamente, o ator Rafael Spregelburd fez uma participação no filme O homem ao lado, e talvez isso explique a brincadeira mostrada sobre o buraco que fazem na parede do protagonista. Infelizmente essa piada somente funciona quem assistiu a aquele filme.


Dica de Cinema: CIDADES DE PAPEL

CIDADES DE PAPEL
09 DE JULHO NOS CINEMAS


SOBRE O FILME

Gênero: Drama/Aventura
Direção: Jake Schreier
Elenco: Nat Wolf, Cara Delevingne e Halston Sage
Distribuidora: Fox Film
Sinopse: Baseado no best-seller de John Green, Cidades de Papel é uma história sobre amadurecimento, centrada em Quentin e em sua enigmática vizinha, Margo, que gostava tanto de mistérios, que acabou se tornando um. Depois de levá-lo a uma noite de aventuras pela cidade, Margo desaparece, deixando para trás pistas para Quentin decifrar. A busca coloca Quentin e seus amigos em uma jornada eletrizante. Para encontrá-la, Quentin deve entender o verdadeiro significado de amizade – e de amor.

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