23 de maio de 2014

A Memória que Me Contam (2012)

Embora seja estrelado por personagens fictícios, a diretora Lúcia Murat (Quase Dois Irmãos), cria uma fábula contemporânea que retrata um pouco do seu passado e presente (na pele de Irene Ravache). Revisitando a ditadura, tudo começa no momento que é internada Ana, guerrilheira que se tornou lenda no circulo de seus amigos (e família), interpretada com intensidade pela atriz Simone Spoladore (Elvis e Madona). A personagem em si, é livremente inspirada em Vera Silvia Magalhães, ex-guerrilheira que participou do sequestro de um embaixador em 1969, tornando-se então um símbolo da resistência. 

O filme é bem arquitetado e possui momentos que surpreendem o espectador pela sua criatividade, principalmente da forma como é apresentada Ana, tanto para o resto dos personagens, como também para os espectadores. Embora o pano de fundo seja esse período turbulento do nosso país, o filme foca mais sobre as pessoas que enfrentaram aquele regime que, embora tenham sobrevivido, vivem com lembranças de um período jaz morto e que se distancia mais e mais. Bom exemplo disso é a forma que a geração de filhos desse grupo se apresenta que, diferente do passado de seus pais, não temem em dar as suas opiniões e tão pouco a esconder o que sentem, tendo então o direito de ir e vir livremente. 

Embora tenha lutado por um bem maior, Lúcia Murat se entrega na tela grande, não negando talvez com a possibilidade de ter errado no seu passado. Principalmente com o fato de que o movimento que participava, caso vencesse, poderia desencadear uma ditadura nova naquele período, fazendo então a gente se perguntar que tipo de realidade seria caso tivessem conseguido o que queriam na época. Política e possibilidades a parte, A Memória que me Contam acaba se tornando mais um exemplo de se extrair daquele período pequenas historias, mas com grande conteúdo, onde cada pessoa que enfrentou aquela realidade, possui grandes histórias para serem contatas, tanto do nosso país, como dos nossos vizinhos (Infância Clandestina). 

No seu ato final, o circulo de amigos pouco pode fazer contra o inevitável momento em que simplesmente terão que encarar a vida seguindo em frente, mas mantendo o passado ainda vivo dentro deles através da sua companheira que se tornou um ícone, pelo menos intimamente para cada um deles.

O filme conta ainda com participação do grande ator Franco Nero.


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