15 de julho de 2015

JAUJA (2014)

Quando o cinema nasceu, era praticamente uma espécie de quadros em movimento, em que o espectador simplesmente apreciava as imagens que soltavam na tela, mas quase ou sem nada de tramas para contar. Claro que ao longo do tempo isso mudou, graças aos pioneiros da sétima arte (como Georges Méliès) que introduziram tramas e fizeram com que o cinema evoluísse e se tornasse o que é hoje.

Porém, existe atualmente uma tendência de retrocesso, mas no bom sentido, onde cada vez mais se percebe que há filmes que usam velhos recursos para se contar uma história. Até pouco tempo, George Miller apresentou a sua obra prima Mad Max: Estrada Perdida, onde o seu prólogo possui um movimento de imagem de alta velocidade, cuja intenção era remeter aos primeiros filmes filmados do final do século 19. O espanhol Branca de Neve, o francês O Artista e até o nosso filme gaúcho A Festa de Margarette, foram rodados em preto e branco, e mudo, fazendo a gente relembrar as primeiras décadas do cinema no século 20.

São velhos recursos, mas que conseguem criar uma história, mesmo quando ela fica por vezes em segundo plano e dando destaque à parte técnica. Na co-produção de vários países (incluindo até mesmo o Brasil), Jauja, do diretor argentino Lisandro Alonso, a trama, sobre a cruzada de um pai (Viggo Mortensen) em busca de sua filha desaparecida (Viilbjørk Malling Agger) é o que faz a trama se movimentar. Contudo, essa cruzada se encaminha para o segundo plano, pois o que nos distrai enquanto estamos assistindo é a forma como foi filmado.

Filmado em belas paisagens do país dos nossos hermanos, o filme tem assinatura do fotógrafo Timo Salminen que criou cada cena para que se parecesse com um quadro pintado, mas em movimento. Diferente dos formatos de hoje, o filme não possui tela larga, mas sim uma imagem quadrada, remetendo aos filmes do final do século 19 e imitando até mesmo as limitações dos movimentos daquelas câmeras de antigamente. Com isso, há muitas cenas paradas, onde somente vemos os personagens dialogando ou se misturando com a natureza em volta.

Isso exige, é claro, um esforço ou até mesmo paciência do cinéfilo que assiste, mas, comprando a ideia, irá apreciar um filme diferente do convencional, cuja suas imagens têm mais a dizer do que as próprias palavras ditas dos personagens principais. Falando em imagem, vale lembrar que o filme é carregado de simbolismo, por vezes não bem decifrado. Esses símbolos reaparecem nos minutos finais da trama e esclarecem (ou não) o que ocorreu na verdade nas quase duas horas de projeção.

Falando no seu final, ele me fez relembrar de imediato dos minutos finais do clássico A Idade do Ouro, do cineasta Luis Buñuel, mas que, embora sejam finais (aparentemente) diferentes, eles possuem uma quebra na trama, da qual ficamos nos perguntando pelos quais motivos levaram para acontecer isso. Como eu disse acima, o que nos foi apresentado no decorrer da trama é o que nos pode dar as respostas para o seu final, mesmo quando os seus inúmeros símbolos levantam mais perguntas do que respostas para nós.

Independente de a pessoa gostar ou não, Jauja é uma pequena experiência cinematográfica, da qual nos faz voltar no tempo, e observar como velhas fórmulas de filmagens ainda não são obsoletas, mas sim frescas para os novos olhos.


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