31 de março de 2015

BRANCO SAI, PRETO FICA (2015)

Branco Sai Preto Fica, do cineasta Adirley Queirós namora com o Cinema marginal dos anos 60 e 70, nitidamente se inspirando em filmes de Rogério Sganzerla e Andrea Tonacci (O bandido da luz vermelha e Bang bang). Aqui as regras da verossimilhança são quebradas na construção da trama: desdém aos gêneros, quadrinhos, animação, musical, cultura pop, satírico, documental, ficção, tudo misturado num imenso liquidificador e criando um sabor genuíno.

Nessa salada, Queirós deixa o cinéfilo com a pulga atrás da orelha, pois a ficção e documentário se misturam a todo o momento (lembrando obras recentes como Castanha). Pegando um evento traumático que ocorreu na metade dos anos 80, na cidade satélite de Ceilândia, o cineasta quer falar sobre preconceito e a separação das classes sociais em Brasília (e o Brasil como um todo). Durante um baile funk, policiais militares invadiram e atacaram a socos as pessoas negras do local. Aos gritos, a pessoa que se diz autoridade disse: "Branco sai preto fica". Entre os sobreviventes, acompanhamos as histórias de dois dos dançarinos: Marquim e Sartana. Marquim perdeu o movimento das pernas e Sartana usa perna mecânica, consequência da selvageria policial. Com sonhos arruinados, os dois, na parte fictícia, criam um esquema para destruir a capital do país: lançar uma bomba "cultural", que contém músicas e outros itens que eles consideram importantes e que serão usados como arma contra o preconceito. O filme se passa em três tempos: passado (por meio das fotos e matérias de época, além da narração off e depoimentos), presente (a vida atual dos dois sobreviventes, que moram em Ceilândia e sofrem com a questão da pobreza e do fato de serem deficientes físicos.) e futuro (um vingador vem do futuro para colher registros que comprovem a violência criada pelos policiais). É justamente na parte ficção científica em que o filme nos puxa certas risadas e ganha atenção total do cinéfilo: de uma forma bem simples tecnicamente, mostra um diálogo através de um telão, sendo que esses momentos remetem ao clássico seriado Jornada nas Estrelas. Mostra uma viagem pelo espaço usando trilhos do metrô e um quiosque metálico onde o personagem viaja pelo tempo. Ame ou odeie o filme, uma coisa não há como negar de forma alguma: a coragem do cineasta em querer fazer o seu filme, da sua maneira e sem se intimidar com as suas consequências. Tendo a segurança pelo que faz, apenas pela paixão de gostar naquilo que está criando, se inspirando numa história trágica de seus protagonistas, em meio a uma trilha que remete os bons tempos dos bailes funk, para não dizer.


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