25 de março de 2014

OS BELOS DIAS (Les beaux jours, 2013)

Por quanto tempo viveremos bem ao longo dos anos?

Essa pergunta não é para muitos, nem mesmo para aqueles que ainda não chegaram à casa dos 50 anos. Talvez, atualmente, sejam as pessoas na casa dos 60 anos que ficam se perguntando isso, mas jamais acham uma resposta bem definida. Caroline (Fanny Ardant, ótima) perdeu a pouco a sua grande e melhor amiga, o que acaba colocando-a num estado de depressão e à procura de algum sentido nos seus dias.

Aposentada da sua vida de dentista, acaba tendo tempo de sobra, mas não sabendo ao certo como aproveitar. O pior de tudo é que ninguém se dá conta da culpa que Caroline arrasta para um clube de aposentados, onde o marido (Patrick Chesnais) e as duas filhas com trinta anos, casadas e com filhos, acham que ela se distrai. O clube de aposentados “Beaux Jours” é um lugar onde ela fica mais cabisbaixa e não suportando a maneira alienada que as pessoas agem naquele lugar.

Mas, mesmo assim, ela vai segurando essa cruz, participando de aulas de teatro, cerâmica, yoga e enologia. Nesta última aula citada, ela está mais interessada em beber até cair do que aprender algo que já sabe de cor e salteado. Mas é ai então que surge na sua vida Julien (Laurent Lafitte), o professor de informática, um galã que puxa Caroline para seus braços sem muito esforço. Bonito, sexy, mas com algumas atitudes controversas, paquerador nato e tem a idade para ser o filho dela.

Alguns que forem assistir irão dizer que uma mulher mais velha com um homem mais jovem e com tempo de sobra na vida, seja uma espécie de busca para sentir os tempos da juventude. Outros, percebendo que Caroline ainda sente dor pela perda da amiga que amava, podem pensar que ela não se importa em ser enganada inevitavelmente pelo amante, para não pensar na morte dela, que a enche de dor, com medos interiores e inevitáveis.

A diretora Marion Vernoux não coloca essa situação da protagonista em julgamento politicamente correto. Só mostra o que ela faz em suas ações e o que irá fazer em seguida com relação a isso. Os Belos Dias foi adaptado do romance “Une Jeune Fille aux Cheveux Blancs” que, em português, se chama “Uma Garota de Cabelos Brancos”, escrito por Fanny Chesnel, que foi coautora do roteiro com a diretora. As conversas entre os personagens são mais do que humanas e, nos momentos em a protagonista caminha pela praia, são momentos de calmaria e de grande beleza.
O caso é que nunca é fácil ficar velho, menos ainda para uma mulher bonita, que quer ter e sentir algo de bom, em vez de cair na decadência nos seus dias. A atriz Fanny Ardant, que sempre foi um dos mais belos e ótimos talentos do cinema francês, conhece bem o que é passar a sentir o luto na carne. Na ficção, sua personagem perde a amiga e, na vida rea,l ela perdeu o seu grande amor, o diretor François Truffaut (1932-1984), quando ela tinha 35 anos. Só ela, em sua solidão pessoal, sabe muito bem como superou isso. Felizmente ela foi forte e destemida ao longo dos anos e mesmo estando com 64 anos continua mais bela do que nunca.

Os Belos Dias não é um filme para ser julgado, mas sim sentido, pois na vida, talvez devemos experimentar o imprevisível para nos fazer sentir bem, mesmo sabendo que todo o começo tem um inevitável fim.


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