10 de março de 2014

CLUBE DE COMPRAS DALLAS (Dallas Buyers Club, 2013)

Quando eu estudava no primeiro grau, nos anos 80, a AIDS já era muito comentada. As pessoas temiam pelo contágio, até porque não se sabia ao certo como se contraia a doença. Isso se estendeu até inicio dos anos 90, quando se descobriu que a doença se pegava através do ato sexual e sangue, mas que, infelizmente, pessoas preconceituosas e com medo, não pensava exatamente dessa forma. Nunca me esqueço quando uma professora minha dizia que se pegavam AIDS somente com o aperto de mão, demonstrando verdadeira falta de conhecimento e puro preconceito.

Clube de Compras Dallas sintetiza mais ou menos isso que rolava naquele tempo, onde um número cada vez maior de doentes foi surgindo e fazendo com que inúmeros países entrassem estado de alerta. Quem acabou então saindo mais prejudicado foram os homossexuais, representantes de boa parte dos infectados e fazendo com que as pessoas da área da medicina e principalmente pessoas preconceituosas acreditassem que a doença vinha deles. Ron Woodroof (Matthew McConaughey) é um belo representante desse segundo grupo, mas que sente na pele quando descobre que possui o vírus e tem apenas um mês de vida.

Pessoa típica do Texas, Ron é apenas um eletricista que nas horas vagas gosta de montar em touros e participar de inúmeras orgias com mulheres. Uma vez que adquire o vírus, em vez de se preparar para o pior, decide então usar todos os seus recursos para continuar vivendo, nem que para isso aja de forma clandestina. É neste ponto que o filme aborda o fato de que os médicos e a indústria farmacêutica vendiam somente a droga AZT (com efeitos duvidosos), que era a única legal, enquanto outras drogas estrangeiras eram consideradas ilegais.

Num ato de desespero, Ron acaba parando numa cidade do México, onde encontra inúmeros pacientes que estão sendo tratados com uma droga, cujo o efeito é muito melhor que o AZT e, com isso, decide não somente usar para ele, como também tirar proveito da situação e vendê-la ilegalmente em solo americano. Nesse percurso, conhece o travesti Rayon (Jared Leto) também portador do vírus, que decide ajudá-lo na empreitada. Desta união, Ron começa a enxergar um outro lado da sua situação e gradualmente começa a compreender o quanto as pessoas são cruéis com relação ao que não entende, sendo que ele mesmo era uma delas.
Matthew McConaughey, Melhor Ator no Oscar 2014
Mesmo com poucos títulos no currículo (sendo o mais conhecido A Jovem Rainha Vitoria, de 2009), Jean-Marc Vallée conseguiu extrair um ótimo desempenho de cada um do elenco, principalmente Matthew McConaughey: conhecido por ter atuado em comédias românticas descartáveis, Mcconaughey chutou o pau da barraca no momento que começou atuar em filmes que o desafiassem mais e, ao interpretar Ron, acaba encontra o ápice dessa ótima fase. Irreconhecível, com 15 quilos a menos, McConaughey nos brinda com uma interpretação crua e corajosa, ao construir a imagem de um homem comum, preconceituoso, mas que vai aprendendo em meios aos espinhos a ser até mesmo solidário com o próximo, mesmo quando nunca demonstra. 

Jared Leto, por sua vez, nos brinda com o melhor momento de sua carreira, que mesmo não tendo o mesmo tempo de McConaughey em cena, sua presença sempre chama atenção de todos, ao construir um personagem que não finge o que realmente é, mas que sofre por dentro devido o caminho que sempre desejou seguir. Destaco também o bom desempenho de Jennifer Garner, ao interpretar uma médica dividida entre as regras rígidas do mundo da medicina, com o mundo em que Ron está criando e que dá mais esperança para as pessoas.
Jared Leto, Melhor Ator Coadjuvante no Oscar 2014
Curiosamente o filme toca num tema que eu sempre fiquei pensando, com relação a nunca acharem um tratamento definitivo para a extinção da AIDS. A meu ver enquanto existir doentes, a indústria farmacêutica sempre sairá ganhando, mas achando uma cura definitiva seria logicamente uma grande perda nos negócios. O filme levanta essa questão espinhosa de uma forma crua, mas que não pode ser nenhum pouco ignorada.

Com uma linguagem e produção que remete ao cinema americano dos anos 70, Clube de Compras Dallas é um ótimo filme, mas que, infelizmente, chegou as telas tardiamente. Se tivesse sido lançado no início da década de noventa, por exemplo, seria não só polêmico como também corajoso ao tocar o dedo em certas feridas sobre assuntos que muitos preferem deixar quieto e nunca ser manifestado.


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