24 de fevereiro de 2014

12 ANOS DE ESCRAVIDÃO (12 Years of Slave, 2013)

Steve McQueen, até o momento, dirigiu pouco, mas já falou muito. Desde o filme Fome, de 2008, ele vem ganhando destaque por aqueles que procuram no cinema americano algo, no mínimo, diferente do convencional. Tanto Fome como Shame (2011) são dois dos belos exemplos de cinema, cuja a emoção nasce facilmente no espectador. Uma das características mais lembradas de McQueen é de sua parceria com o ator Michael Fassbender que, desde Fome, vem provando que ambos geram frutos genuínos no mundo da sétima arte, como 12 Anos de Escravidão que, para mim, é o melhor trabalho da dupla até então. 

12 Anos de Escravidão é um filme que, embora tenha chegado tardiamente, nos lembra do horror que foi os tempos da escravatura. Por ser baseado em uma história real, isso somente aumenta o aperto na garganta quando nos damos de cara com a insanidade do lado mais obscuro do ser humano, daqueles tempos em que se tratavam os negros como propriedade ou simplesmente animais para serem domesticados. O longa é baseado no livro - que dá título ao filme - escrito pelo próprio Solomon Northup, personagem principal da obra, vivido pela atuação espetacular de Chiwetel Ejiofor. Do inicio ao fim, ficamos perguntando por quê o ser humano age de formas tão animalescas, ao ponto de não ter como achar uma resposta razoável que satisfaça esses pensamentos. 

12 Anos de Escravidão é uma historia simples, mas que, infelizmente, disseca um período sombrio antes de tempos até mesmo difíceis como da iminente Guerra Civil americana. Assistimos à história de Solomon Northup, homem negro livre, casado e pai de um casal de crianças que, certo dia, é enganado por dois brancos com a promessa de tocar violino em um circo na Capital e acaba sendo vendido como escravo. Enviado para trabalhar nas fazendas do sul, Solomon enfrenta a realidade crua de milhares de escravos negros, sofrendo todos os abusos físicos e psíquicos oriundos da sociedade escravocrata dominada pelos brancos que se diziam serem seus mestres.
A obra é recheada por momentos marcantes e que nos fazem ter uma boa dose de reflexão tanto sobre a história dos EUA como também do Brasil, que teve seu regime escravocrata. É impossível não se encolher e ficar petrificado perante a primeira surra que Solomon recebe em cativeiro, logo após ter sido enganado. Embora cruéis e duras de se ver, percebo que as cenas de violência estão ali para tornar o filme melhor do que ele já é, sendo que elas não são jogadas na tela gratuitamente, mas sim para que a história flua de uma forma que não tem como imaginar sem elas.

McQueen, entretanto, optou por mostrar o terror nos rostos daqueles que eram castigados, ao invés de jorrar sangue na tela, sendo que foi uma decisão mais do que acertada. Cria-se então uma ligação entre espectador e os escravos, desejando que eles não estivessem em nenhum momento naquela situação terrível. O chicoteamento que ocorre no ato final da trama realizado pelo Mestre Edwin Epps (Fassbender) contra a escrava (Lupita Nyongo, espetacular) é uma das cenas mais marcantes e dolorosas do filme e que se torna cada vez pior, no momento que Solomon é obrigado, por seu senhor, a chicotear sua companheira.
Um fato curioso são as diferenças entre a sociedade negra estadunidense: os homens e mulheres negros nascidos livres chamam os escravos de "negros", em tom pejorativo, e não parecem se importar em, eles mesmos, terem escravos. Acho que Steve McQueen foi feliz na escolha de apontar esses preconceitos durante o filme: a obra mostra, com imparcialidade, os dois lados da sociedade escravocrata, mas que, obviamente, condena o tratamento dos homens brancos dados aos homens negros. Além de toda a tristeza que permeia o filme, o espectador se torna em revolta ao final da projeção, quando os letreiros finais contam o que ocorreu a Solomon e o julgamento de seus sequestradores.

O que mais me espanta é que fica a pergunta em nossas mentes após o filme: "Será que isso realmente mudou?" Sabemos que os EUA são uma sociedade extremamente racista e sabemos que o Brasil também é, sendo que são duas nações que têm sangue de escravos em suas mãos e que parecem não querer lavá-las tão cedo. Por isso, 12 Anos de Escravidão é um filme obrigatório e que merece ser visto.

Confira o trailer do filme:


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