3 de fevereiro de 2013

DJANGO LIVRE (Django Unchained, 2012)

Um filme de Quentin Tarantino nunca é avaliado por seus próprios méritos. Isso seria uma vantagem injusta se fosse aplicada a qualquer outro diretor. Não seria certo, por exemplo, considerar Lincoln um filme melhor só porque ele é dirigido por Spielberg. Já Tarantino merece essa distinção. Django Livre poderia ser exatamente igual e ser um filme menor caso não fizesse parte da filmografia do aclamado diretor. A razão para isso é que Tarantino nos lembra constantemente que não devemos considerar essa como uma obra qualquer porque esse é um filme "dele".

A trilha sonora, figurino, elenco e principalmente alguns diálogos seriam quase inaceitáveis nas mãos de outro diretor mas aqui brilham quando aplicados aparentemente fora de contexto mas na verdade reforçando a ideia central do filme. O cinema de Tarantino ficou um pouco mais temático e fetichista em seus últimos dois capítulos. Bastardos Inglórios deu a judeus a chance de aterrorizar nazistas e agora os escravos tem a chance de se vingar dos seus cruéis senhores.

Se tratando de Tarantino e de sua violência exagerada (e por isso mesmo pouco chocante) eu fiquei surpreso ao perceber que o diretor teve a sensibilidade de deixar a violência contra os escravos o mais perturbadora e menos gráfica possível. Houve uma certa polêmica nos Estados Unidos pelo uso exagerado da palavra "nigger" no filme. No Brasil ela foi substituída pelo igualmente ofensivo "crioulo" o que mantém o espirito original.

Christoph Waltz mantém o mesmo nível de seu trabalho anterior com o diretor e esse já é um feito considerável. Se há alguma observação a ser feita é de que claramente Waltz não é o coadjuvante e sim o personagem principal. Jamie Foxx se sai muito bem como Django e mantém uma intensidade contida por boa parte do filme. Quando ele finalmente assume seu papel como condutor da história a trama já não tem mais para onde se desenvolver.
Leonardo DiCaprio entrega um bom vilão que intriga e interessa ao espectador, mas que parece se sair melhor nas cenas em que é mais suave e que acaba confundindo gritos esporádicos com intensidade.

Quem deveria ter sido indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante é Samuel L Jackson que, desde Pulp Fiction, não tinha um papel tão brilhante em uma obra do diretor. Jakson interpreta um negro racista que se vê como branco e, apesar da aparência frágil, encarna o perigo real do vilão do filme.

Eu assisti ao Django original (não que essa seja uma refilmagem) com Franco Nero e posso dizer que, apesar de se tratar de um clássico, o filme de Tarantino é superior.

Um comentário:

João Colombo disse...

Cara, eu achei o filme fantástico. Muito bom mesmo.

O legal é ver que realmente, durante os primeiros 20 minutos de filme, Waltz parece ser o ator principal, mas o personagem de Foxx cresce durante todo o filme, mostrando porque ele é o principal.

Além disso, achei muito bacana do Tarantino possibilitar uma participação especial do Franco Nero no filme, homenageando seu personagem mais famoso.

É realmente um Tarantino esse filme!

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