22 de novembro de 2011

Meus Filmes Favoritos: Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995) e Antes do Pôr-do-Sol (Before Sunset, 2004)

Eu frequentemente escrevo aqui no Cinema Sem Frescura e, de vez em quando, no meu blog The Groover com algumas posições mais pessoais sobre filmes. Algumas vezes já me questionaram sobre qual o meu filme favorito de todos os tempos. Pois bem, acho que eu posso responder essa pergunta depois de alguma reflexão sobre o tópico. Na verdade, acontece que meu "filme" favorito são na verdade dois filmes: Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol.




Antes do Amanhecer.

Esse filme, de 1995, é uma pequena joia que infelizmente não é tão conhecido, mas os poucos que o assistiram sabem da sua importância.

A história é simples e cativante. Dois jovens, um americano viajando pela Europa e uma francesa retornando para casa, se conhecem em um trem. Eles sentem uma sintonia e resolvem impulsivamente descer e passar a noite em Viena, se conhecendo melhor. O problema é que eles tem apenas essa noite, já que na manhã seguinte cada um deve seguir o seu caminho. E assim começa a história de Jesse e Celine...

O diretor Richard Linklater conseguiu uma série de seguidores fanáticos depois desse filme e não é de se espantar, pois o charme da obra é inegável. Quem assiste a esse filme vira fã incondicional. Me lembro de uma vez eu estar conversando com uma mulher e ela não estava me dando a menor bola, casualmente eu mencionei o filme e ficamos conversando por horas. Meses mais tarde ela me contou que estava prestes a me dispensar e nunca mais falar comigo, mas gostava tanto desse filme, que era tão especial para ela, que resolveu continuar nossa conversa. Isso dá uma idéia de o quão poderoso é esse filme...

Eu já havia visto a capa do filme na locadora por muitos anos e sempre decidi passar batido por ele. Mal sabia eu que ali residia uma obra-prima.
Ao contrário da "mágica" onipresente em Hollywood onde um casal se apaixona através de uma troca de olhares ou através da implicância mútua, Antes do Amanhecer deixa de lado esse cinismo e mergulha em uma paixão pura, mas realista.

Enquanto a noite vai passando o casal vai se aproximando cada vez mais e começam a questionar o mérito de tentarem permanecer juntos. Obviamente há uma questão básica, normalmente feita por aqueles que entendem o mote do filme, mas ainda não o assistiram: se os dois se apaixonaram porque não ficarem juntos? Eu não vou ser simplório e diminuir o filme tentando explicar isso dentro do contexto dos dois personagens, apenas posso dizer que, além da lógica incluída na obra, há algo real no valor que conseguimos dar a algo que sabemos que podemos perder nas próximas horas. Algo que realmente nos é caro, mas não sabemos se conseguiremos manter. Se você já amou alguém e, enquanto sentia isso sabia que não ficaria com essa pessoa, você conhece essa sensação.

Em um outro nível, Antes do Amanhecer também é muito simples: "garoto conhece garota" é normalmente o ponto de partida, mas raramente a história completa de um filme. Pequenas cenas memoráveis permeiam o longa e esse nível de eficiência com um material tão simples é uma de suas qualidades.

Aquele momento perfeito no qual você está com a pessoa certa e o tempo parece parar, aquele momento em que você não sabe como será a sua vida, mas você sabe que quer que seja com aquela pessoa, todos nós já tivemos um momento assim. O amanhecer do filme, que marca o horário no qual eles devem se separar, é o representante da vida que inevitavelmente virá e fará com que todos nós sejamos subtraídos desse momento tão precioso.

Há uma tristeza inerente ao filme, essa certeza da separação é algo que eu sempre acreditei que tornasse impossível podermos apreciar algo completamente. Com Antes do Amanhecer eu aprendi que, independente de quanto tempo você tenha, você deve se entregar completamente. Seja uma hora ou oitenta anos, tudo tem um fim e é essa certeza que deve nos encorajar a nos lançarmos sem reservas quando essas oportunidades aparecem.

Essa dualidade está presente na tagline do poster do filme que me intriga e assusta na mesma quantidade: "Pode o maior romance da sua vida durar apenas uma noite?"

Vários filmes tentam misturar intencionalmente realidade e ficção através de representações de eventos do mundo real, ou atores interpretando eles mesmos ou citações à nossa cultura. Antes do Amanhecer consegue transcender a tela simplesmente porque seus atores e seu roteiro fazem com que você acredite que ali há não apenas uma história de amor real, mas uma história que poderia acontecer com você. No fim, apesar da tristeza remanescente do destino dos dois amantes (e essa tristeza tem mais a ver com a maneira como fomos acostumados pelas outras obras românticas do século 20 e 21, do que com  o final em si) há um chamado para se viver a vida que é clamado de forma brilhante pela canção "Living Life", mais uma vez reforçando a ideia de que devemos valorizar o que temos, enquanto temos. Antes do Amanhecer é um filme que é brilhante desde o ínicio até o fim.




Antes do Pôr-do-Sol.

Antes do Pôr-do-Sol é um filme recheado de méritos próprios, mas grande parte da razão de eu gostar tanto dele está relacionado a seu antecessor, Antes do Amanhecer. O filme anterior se encerra com a promessa de que Jesse e Celine se encontrariam depois de 6 meses na mesma estação de trem. Antes do Pôr-do-Sol foi lançado em 2004 e Antes do Amanhecer, em 1995. Eu assisti a Antes do Amanhecer pela primeira vez em 2001 e durante três anos eu eventualmente ficava pensando se Jesse e Celine haviam realmente se encontrado. Uma pergunta que eu achava que jamais seria respondida. Me lembro da emoção que senti ao ver o trailer. Você sabe que um filme é especial para você quando você se emociona vendo o trailer dele.

Nove anos depois, Jesse e Celine se encontram em Paris. Reencontramos esses personagens não mais como "pós-adolescentes" deslumbrados com um amor e com a vida toda pela frente, mas como adultos na casa dos 30 anos que acabaram se tornando mais cínicos com o passar dos anos e com as experiências frustradas em seus relacionamentos.

O clima de realidade do filme, assim como no primeiro é algo palpável. Longas sequências de até 11 minutos sem cortes, nos convencem que realmente estamos assistindo a duas pessoas que se amam se descobrindo novamente. Há mérito nas especulações de que Ethan Hawke e Julie Delpy estavam interpretando a si mesmos no filme, porque a naturalidade dos dois é algo único para mim.

Há algumas coisas que mexem comigo quando eu olho esse filme. Além da sensação geral de insegurança e medo que experimentamos quando reencontramos um amor do passado, há dois pontos no filme que simplesmente marcam e forçam um distanciamento entre você e os protagonistas, para que você possa se sentir confortável. Porém, esse distanciamento é impossível, dada a naturalidade das interpretações e o poder de envolvimento do roteiro, novamente de uma simplicidade e significância incríveis.
Em um determinado momento do filme, Jesse diz a Celine que ele pensava tanto nela que, no dia do seu casamento em Nova York, ele viu uma mulher parecida com ela, enquanto era levado à igreja. Celine responde dizendo que ela morava em Nova York nesse período e exatamente nessa rua. Essas declarações não atingem apenas os personagens, atingem também o público.

No trailer do filme, a seguinte questão é levantada: "E se você tivesse uma segunda chance com aquela pessoa que se foi?". Para mim, essa é uma questão muito mais assustadora do que qualquer outra levantada por qualquer outro filme. O conceito de se apaixonar e ter apenas uma noite para viver esse amor de uma forma real através de diálogo, descobrimento e entrega sincera é algo assustador, mas, depois de 9 anos, reencontrar alguém e ter apenas uma tarde para descobrir se vocês realmente pertencem um ao outro é excruciante e, mesmo assim, eu adoro esse filme.

No fim, por mais que eu tente quantificar os acertos do filme ou exemplificar suas qualidades, Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol não são filmes para serem estudados ou escrutinados, devem ser sentidos. Sempre que me disponho a assisti-los, eles mexem com meus sentimentos e essa é a razão de eles serem meus filmes favoritos.

Ps: Hoje mesmo tive a grata surpresa de saber que Richard Linklater, Julie Delpy e Ethan Hawke estão falando em fazer mais uma sequência sobre a história de Jesse e Celine, passada mais uma vez nove anos depois do último encontro. Segue o link.



2 comentários:

Anônimo disse...

Fiquei curioso, vou ver...

João Colombo disse...

Poisé... também não vi e fiquei curioso. Se sair o 3º como vai se chamar?? "Meia Noite em Paris" seria ideal, mas já fizeram... quem sabe "Ao Meio-Dia"? kkkkkkkkk

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