21 de outubro de 2011

Gigantes de Aço (Real Steel, 2011)

Ainda que tente passar por original e criativo, o filme não é nem um nem outro. A trama tem um ótimo ator mirim e momentos que empolgam.

A convite do Clube do Assinante ZH estivemos em mais uma pré-estreia organizada pela Espaço Z. Eu não apenas esperava que Gigantes de Aço fosse ruim, como eu esperava que fosse embaraçosamente ruim. O trailer não chegava a ser culpado, afinal apenas evidenciava uma história cheia de elementos fracos e que misturava temas demais e sem nenhuma originalidade. Misturar temas diversos e batidos não os transforma em originais só porque eles normalmente não andavam juntos. O fraco e inexperiente candidato ao título de boxe, a ficção científica sobre um futuro próximo e a velha relação "pai abandona filho, são forçados a conviver por um breve e tumultuado período de tempo e descobrem que se amam" não são elementos novos, mas raramente vemos eles andarem juntos. Dito isso, Gigantes de Aço é bem melhor do que eu esperava.

A ação do filme faz sentido e as motivações do personagens não soam forçadas, algo que já serve para colocar o filme acima de muitas das produções atuais. A trama é simples: em um futuro próximo, depois que as lutas de boxe são ultrapassadas o novo esporte é luta entre robôs. Charlie Kenton trabalha no ramo e tem que cuidar de seu filho depois que a mãe do garoto morre.

Infelizmente não havia muito espaço para o sucesso aqui e mesmo quando o filme tenta ser original ele é derivativo de outros filmes (imagine Rocky encontra Transformers). Com um material inicial tão fraco quanto esse, só havia espaço para, na melhor das hipóteses, fazer um filme mediano. Mas, por incrível que pareça, Shawn Levy consegue fazer um filme acima da média, justamente ao diminuir o tom dos temas mais ridículos da trama e reforçar a parte mais realista do filme.

Não espere um robô falante ou com personalidade, não espere uma criança que seja apenas um rostinho inocente. Shawn Levy prepara uma armadilha com tudo o que esperávamos que fosse cliché e, ainda que as vezes ele derrape para essa armadilha, consegue entregar um produto de qualidade.

A fórmula para filmes de boxe é simples (e não se engane, esse é um filme de boxe) faça o protagonista surgir do nada e ser considerado o "underdog" por todos, treinar e ganhar algumas lutas, apanhar feio na maioria dos rounds da última luta e, no final, derrotar o campeão. Gigantes de Aço consegue (ainda que ligeiramente) escapar dessa formula básica, mas não é nada original para quem já assistiu a série Rocky.

No final o que define um bom filme de boxe é se você está realmente torcendo pelo protagonista na última luta. Quando você consegue isso, mesmo com um robô sem personalidade e sem expressões faciais você fez o seu trabalho e isso Gigantes de Aço faz sem problemas.
A parte técnica do filme é de primeira classe, os robôs nunca parecem feitos inteiramente de efeitos especiais e os efeitos sonoros são essencias em uma luta com protagonistas mudos. A cenografia do filme é competente e mistura bem velhos cenários americanos com lutas no submundo em um futuro quase palpável. O único desapontamento nessa área é Danny Elfman que não chega a fazer diferença na trilha sonora.

Hugh Jackman é creditado como o protagonista do filme, mas esqueça isso, ele é o coadjuvante aqui. O show é de Dakota Goyo, que interpreta seu filho Max no filme. O garoto carrega o filme e, uma decisão de elenco errada nesse papel, poderia ter custado a Levy toda a credibilidade da história.

Jackman mantém a presença de tela que ele sempre teve. Se ele é um bom ator ou não é outro assunto mas ele tem carisma e isso é inegável. Entre os coadjuvantes, as grandes decepções são Evangeline Lilly, que mostra que depois de Lost não há nenhuma razão para assisti-la em absolutamente nada, seja na tv ou no cinema e Karl Yune, que interpreta Tak Mashido, a mente brilhante por trás dos melhores robôs do filme (e alternativa de vilão já que o campeão a ser derrotado é outro robô sem expressão). A interpretação de Yune é tão amadora que consegue diminuir a qualidade do filme como um todo.

Shawn Levy as vezes dá uma escorregada para o sentimentalismo barato e isso cobra o seu preço no produto final. O roteiro foi bem escrito e é bem mais pesado do que  o clima leve do filme sugere. Há diversos nichos de criatividade no roteiro que aparentemente foram subestimados pelo diretor. Na pior das hipóteses foram oportunidades perdidas de transformar algo inteligente em algo mais interessante e com conteúdo, na melhor seriam distrações e adições redundantes que tentavam disfarçar o fraco material inicial da história. A maioria dos personagens (com exceção de Max) parece ter encontrado um ator que não estava disposto a fazer tudo o necessário para dar vida a ele. Quando isso acontece com um ator no filme estamos encarando um equívoco de casting, quando acontece com a maioria dos atores estamos vendo uma falha do diretor. Por exemplo: Charlie Kenton, o personagem de Jackman, é realmente inescrupuloso, porém o ator consegue suavizá-lo e eu tenho minhas dúvidas se essa era realmente a melhor ideia para o filme.

Há uma sensação de que a história poderia ser mais intensa e poderosa, mas isso poderia ter custado ao clima do filme que é envolvente.  Na mão mais firme de algum outro diretor (Spielberg normalmente lida bem com esses temas e ele produz o filme) poderíamos ter um épico sobre máquinas e relação pai e filho. Não é o caso, no entanto há uma energia no filme e isso faz com que você consiga deixar a premissa pobre do filme e se envolver, aceitando os defeitos do filme e percebendo suas qualidades.

Se você só vai ao cinema para ver filmes ótimos, espere o DVD, mas se você já assistiu a vários filmes ruins e quer arriscar, você pode se surpreender com esse filme. Eu recomendaria especialmente para quem tem filhos entre 10 e 15 anos. O apelo do filme é forte para esse público e é um divertimento com uma qualidade muito melhor do que normalmente é direcionado para essa faixa etária.



Um comentário:

João Colombo disse...

Concordo com o Vinício na crítica. Apesar de ser um filme cheio de clichês, é adorável e o jovem Dakota é adorável. Vale a pena, principalmente por não humanizar os robôs, no filme, são só máquinas, sem sentimentos... a humanização fica só na fantasia da criança que vê no robô Atom, um amigo para todos os momentos.

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