O post de hoje é mais uma contribuição do Rainer Alves. Confiram!
Alemanha Oriental, Novembro de 1984. Cinco anos antes da queda do Muro de Berlim, o governo socialista tentava manter seu poder às custas de um sistema cruel de vigilância e controle. Quando um oficial de alta patente coloca um dos seus melhores agentes para espionar o famoso escritor Georg Dreymann e sua namorada Christa Maria Sieland, o agente esperava um avanço substancial na carreira.
Em seguida acontece algo que o agente Wiesler não esperava: ter acesso ao cotidiano íntimo do casal acaba mudando os seus valores e a perspectiva sobre o mundo ao seu redor. Ao acompanhar de perto "a vida dos outros", ele começa a ter noção da banalidade da sua própria vida e passa a conhecer o desconhecido mundo do amor, pensamento livre e liberdade de expressão, coisas que ele mal conseguia compreender.
O Agente Wiesler, em ótima interpretação do ator Ulrich Mühe, não é um indivíduo, mas sim uma metáfora para todo o regime nazista alemão, onde as pessoas eram incapazes de sentimento e faziam tudo que lhes era dito. Do outro lado temos o escritor famoso e sua esposa representado a contra-cultura, os intelectuais, que eram duramente perseguidos, presos e assassinados pelo governo.
O aspecto mais assustador no filme é a banalidade de tudo. Os escritórios nazistas são desprovidos de vida e os policiais discutem operações brutais como se fosse algo casual. Ver os agentes se comportando como serventes entediados, e a "casualidade" da função que exercem torna tudo mais assustador.
O diretor Florian Henckel-Donnersmarck, consegue recriar o clima de vigilância e espionagem constantes. Em uma das cenas mais perturbadoras, uma simples piada se transforma no centro de suspeitas e medo. É possível ter uma boa noção no filme de como era a vida para a população da Alemanha Oriental nos anos finais da DDR, ao serem obrigados a viver sob constante restrição da liberdade de opinião.
A Alemanha produziu vários filmes interessantes na última década, mas "A Vida dos Outros" está em um patamar muito além. As maiores qualidades de um filme, na minha opinião, sempre foram dois aspectos: boa história e boa ambientação; esse filme tem os dois. A história mantém você interessado durante o tempo todo, e a ambientação transporta você para os anos 80, durante a Alemanha socialista. As locações foram cuidadosamente escolhidas, o clima "acinzentado" é recriado com perfeição, e o medo que a população alemã sentia do próprio governo é retratado de forma impecável. Os últimos 20 minutos do filme são inacreditáveis.
Trata-se de um filme brilhante, e que merecidamente ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2007.
Abraços e feliz ano novo!
2 comentários:
Cara, estou louco para ver esse filme.
Rainer, ótimo texto!
Minha irmã me indicou esse filme na época em que ele saiu, e recomendei pra vários amigos nos últimos anos.
Ela gostou tanto que se baseou no filme pra escrever uma tese de graduação em Psicologia, mas nós leitores do Cine Sem Frescura podemos apenas apreciá-lo e passar a dica adiante. Obrigado por postarem o texto :-)
Postar um comentário