8 de dezembro de 2010

A FESTA DA MENINA MORTA (2008)

A dica / crítica de hoje tem a ilustre contribuição de Thales de Mendonça, o @Liico. Ele nos traz a história "A Festa da Menina Morta", de Matheus Nachtergaele, atacando de Diretor. Vamos ver o que o Thales nos diz:

"Há 20 anos, uma comunidade ribeirinha no Amazonas comemora a "Festa da Menina Morta". O evento gira em torno de Santinho (Daniel Dantas, de "Cazuza"), garoto que ficou conhecido quando recebeu da boca de um cachorro o vestido rasgado da menina desaparecida e, desde então, faz revelações aos devotos no dia da festa. Dentre os devotos estão Tia (Ednelza Sahdo) e Das Graças (Conceição Camarotti) duas senhoras que vivem na casa do rapaz, lhe preparando comida, limpando a casa e aturando seus rompantes de raiva, que tem uma série de manias e aspirações ao estrelismo devido a ser o centro das atenções de toda a comunidade.

"Santinho mantém uma relação incestuosa com seu pai (Jackson Antunes, de "O Palhaço") um alcoólatra que vive encostado na fama do filho e amargurado pelo suicídio da esposa (Cássia Kiss, de "Chico Xavier"), mãe de Santinho. Ela vive nos pensamentos do filho, que tenta encontrar um elo quebrado entre a mulher que o gerou e a pessoa nas lembranças turvas de sua mente. Contrapondo com todos os devotos que seguem piamente os dizeres de Santinho, Tadeu (Juliano Cazarré, de "Vips"), irmão da menina morta, é um rapaz cético que custa a ver sentido na devoção pelo rapaz que faz (ou pelo menos diz fazer) milagres e bençãos. 

"Bebendo da fonte do cineasta Claudio Assis (de "Amarelo Manga"), Nachtergaele apresenta sua própria visão do norte brasileiro, levantando questões como a dicotomia entre o religioso e o profano, o mundano, o lado animal do ser humano que se mostra claro em cada close do diretor, em cada exclamação ou mastigar animal da carne de porco. Detalhe para esse porco, que protagoniza uma das cenas mais agonizantes do filme, onde o mesmo é afogado e somos obrigados a ouvir durante alguns minutos seus gritos de desespero. No entanto, diferente de Assis, Nachtergaele evita o explícito e nos deixa imaginar o quão horrível pode ser, liberando em nossas mentes o lado mais instintivo e cruel, mesmo na cena de sexo incestuoso entre pai e filho, Nachtergaele mostra uma câmera envergonhada, tímida, deixando para nossa imaginação criar a cena que a luz esconde, o que torna tudo mais nojento aos nossos olhos.

"A fotografia de Lula Carvalho é maravilhosa, dramática, teatral ao mesmo tempo que trás um pouco de realidade aos personagens alegóricos e caricatos de Nachtergaele. Santinho é afetado, delicado, e também bruto em suas crises dramáticas, tornando suas cenas um espetáculo que não cabem no cenário, mas que trás ao espectador todo o conflito interno de um rapaz que tenta incessantemente compreender o mundo que o cerca. 

"A festa da Menina Morta mostra ao mundo que Matheus Nachtergaele tem sim grande potencial como diretor, ao mesmo tempo que mostra as deficiências de um diretor em sua estreia. Suas faltas são compreensíveis, pois a vontade de mostrar esse potencial há tanto guardado, fica gravado em cada segundo desta história sobre a eterna dualidade do ser humano."

Abaixo segue o trailer para terem uma ideia do que é esta obra.

Um comentário:

Juliana Puccia disse...

Sensacional o seu texto!! Pegou um filme que é realmente intrigante! Parabéns!!!

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