23 de maio de 2017

Alien: Covenant

Quando o cineasta Ridley Scott criou o projeto Prometheus, ele não somente queria lançar uma luz sobre os eventos que acontecem antes do clássico Alien: 8º Passageiro, como também explorar a possibilidade dos seres humanos terem sido criados por extraterrestres. Porém, o filme dividiu a opinião do público e da crítica, pois lançou mais perguntas do que respostas e dando a entender que elas somente iriam ser respondidas numa eventual sequência. Chega então Alien: Covenant, que, aparentemente, era para dar continuidade e enlaçar as pontas soltas dos eventos vistos no filme anterior, mas não é bem isso que acontece.
Novamente dirigido pelo cineasta, acompanhamos a missão dos tripulantes da Covenant, cuja missão é transportar duas mil pessoas para um novo mundo e assim habitá-lo. Porém, após um desastre que quase vitimou toda a tripulação, eles são colocados em nova rota pela galáxia e dando de encontro com um novo planeta do qual mais parece um paraíso. Porém, ao chegarem ao local, irão se dar conta que o paraíso pode ser até mesmo pior do que o próprio inferno.
Antes desses eventos citados acima, o filme começa com um prólogo engenhoso, onde ele enlaça esse filme com o anterior, mas ao mesmo tempo, explorando embate do criador com a criatura. É nessa cena que assistimos os primeiros passos do androide David (Michael Fassbender, espetacular), do qual começa a dialogar e a discordar de pensamentos vindos do seu criador Peter Weyland (Guy Pearce), e fazendo desse embate uma salada de referências, que vai desde a uma simples comparação ao conto de Frankenstein, como também sobre o papel de Deus na vida do homem. Por meio desses pensamentos, podemos enxergar David como uma espécie de referência ao anjo Lúcifer, sendo o primeiro e mais belo anjo do céu, mas que desafiou o seu próprio criador, desejando destruir o paraíso e sendo condenado então ao inferno.
Com todas essas referências, tanto vindas da literatura como também da própria bíblia, é uma pena então que Scott prefira logo se concentrar em tentar ligar esse longa metragem ao clássico de 1979, sendo que até mesmo a trilha sonora daquele filme ecoa em muitos momentos aqui. Com essa preocupação em querer nos lembrar que, tanto o primeiro Alien, como também do recente Prometheus são ligados a esse novo capítulo, o filme acaba perdendo um pouco de sua identidade própria, mesmo quando o cineasta tenta fazer algo de original no decorrer de mais de duas horas de projeção. Contudo, uma vez que os personagens colocam os pés no planeta, já temos uma idéia sobre o que vira em seguida, o que acaba soando previsível.
Mas se há previsibilidade sobre o que irá acontecer, Ridley Scott consegue ao menos injetar boas doses de tensão nesses momentos que nos soam familiares, mas bem dirigidos e de uma forma da qual nos passe algo novo. A primeira aparição da criatura (numa forma inédita), por exemplo, é desde já o momento mais sinistro e angustiante do filme. É uma pena portanto que ao decorrer do filme não haja cena que supere esse momento e ponto chave da trama.
E se muitos ainda tinham esperanças de que o filme pudesse responder as inúmeras perguntas das quais ficaram no ar no longa metragem anterior, Ridley Scott faz questão de destruir elas numa única tacada só, numa cena emblemática e cheia de prepotência. No meu entendimento, Scott não gostou de nenhuma das críticas que sofreu ao lançar Prometheus, decidindo então pulverizar qualquer possibilidade de nascimento de uma nova teoria e construindo a partir disso tudo do zero. Com isso, o cineasta novamente se concentra na velha história do criador e criatura, dando continuidade ao prólogo do filme e armando o palco para a primeira aparição do Alien do qual nós conhecemos.
É nesse ponto que o cineasta concentra todas as suas fichas no desempenho de Michael Fassbender, sendo que aqui ele interpreta tanto o já conhecido androide David, como também o androide Walter e que veio junto com a nave Covenant. Fassbender dá um verdadeiro show de interpretação, pois tanto David como Walter, embora idênticos, possuem personalidades distintas e Alien: Covenant  o que desencadeia um debate acalorado sobre o papel de ambos em meios aos homens que os criaram. Se antes as motivações de David poderiam ser comparadas ao do próprio Lúcifer, aqui essa comparação se torna ainda mais explicita, pois é neste ponto que a trama lembra até mesmo o poema de Paraíso Perdido, de John Milton, onde o texto explora a história cristã sobre a expulsão de Lúcifer do Jardim do Éden.
Mas se o desempenho de Fassbender é o que dá gás ao filme, por outro lado, isso faz com que a maioria do elenco se torne opaco mesmo com todo o esforço de cada um deles em cena. Nem mesmo o esforço de Katherine Waterston (Animais Fantásticos) dá bom resultado, pois a sua transição de mulher guerreira contra o Alien soa meio que inverossímil. Isso faz então com que a ausência da personagem Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) de Prometheus seja ainda mais sentida, sendo que o seu desaparecimento é explicado, mas sendo algo que poderia ter sido facilmente evitado.
Com um final do qual dá entender que teremos mais um capítulo adiante, Alien: Covenant é aquele tipo de filme que irá fazer surgir alguns adoradores, como também muitos detratores, mas que somente o tempo é o que irá julgá-lo da forma como ele merece.  
 

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