27 de dezembro de 2013

AMOR BANDIDO (Mud, 2012)

A perda da inocência, encarar o fato de que aquele 'conto de fadas' não era exatamente real, é sempre difícil de ser encarado, mas é preciso vê-lo de frente para poder então abrir novos rumos na vida. No seu filme anterior (O Abrigo), o diretor Jeff Nichols usava a possível catástrofe natural como uma espécie de metáfora sobre a crise econômica que se alastrou nos EUA. Aqui, ele usa a foz que deságua no imenso Mississípi, como uma espécie de símbolo com relação a nossa própria vida, que é cheia de possibilidades, infinitos lugares que ainda pode-se ir, mesmo quando a vida lhe decepciona e lhe desencoraja a navegá-la.

Na trama, Ellis (Tye Sheridan) vive um garoto que, durante um passeio de barco, conhece Mud (Matthew McConaughey), um foragido da justiça que tenta se reunir com sua amada, Juniper (Reese Witherspoon). Ellis resolve ajudar o estranho porque, inconscientemente, tenta refazer com Mud e Juniper o amor partido de seus pais que estão se divorciando. Ao mesmo tempo, o jovem enxerga em Mud como uma espécie de exemplo do que ele acredita sobre o amor, mas ao mesmo tempo irá aprender com ele que não é bem assim que as coisas funcionam com relação aos sentimentos.

Embora aparente ser uma trama simples, o filme gradualmente apresenta a transformação de cada um dos personagens, fazendo com que eles amadureçam, tanto nas suas ações, como também da forma como cada um deles enxergava o mundo. Descoberto no filme A Árvore da Vida, Tye Sheridan é sem sombra de dúvida a mais nova promessa do cinema americano. Expressivo e cheio de capacidade, Sheridan nos brinda com um personagem que facilmente nos identificamos, pois, assim como Ellis, a maioria de nós sofreu com o golpe duro da realidade, mas necessário para então sobrevivermos aos desafios mais simples da vida. 
Matthew McConaughey, por sua vez, prova de uma vez por todas que é um ator versátil, fazendo do seu Mud uma pessoa cheia de vida, sonhadora, mas que não escapou das decepções que a vida lhe trouxe, principalmente quando o assunto é amor. Com Ellis, ele enxerga o garoto romântico e cheio de esperança que já foi um dia, mas que será preciso se reerguer e enfrentar sozinho as correntezas de vida e agarrar as novas oportunidades que ela pode trazer. O filme ainda tem as participações excepcionais de Reese Witherspoon, Sam Shepard (de Os Eleitos) e Michael Shannon, que já havia trabalhado com o diretor em O Abrigo sendo o protagonista.

Embora com um final que poderia ir mais além se fosse um pouco mais corajoso, Amor Bandido, é um ótimo filme para aqueles que procuram se identificar com os personagens que, aqui, é uma identificação universal e muito bem-vinda.


26 de dezembro de 2013

SOLIDÕES (2013)

Em seu segundo longa metragem (o primeiro foi Léo e Bia) Oswaldo Montenegro explora várias facetas da solidão que, aliás, está presente em algumas de suas músicas. Em pouco mais de uma hora e meia de projeção, somos pegos em uma enorme teia de eventos, de inúmeros personagens, onde o principal tema é a solidão desses seres: o homem (Pedro Nercessian) que encontra uma versão de sua vinda em uma realidade alternativa. Uma garota (Vanessa Giácomo) que tem amnésia após - segundo ela - ter tido um ataque de raiva. Um garçom (Eduardo Canto) que coleciona frases e compartilha com uma solitária no bar (Kamila Pistori). Músico cheio de talento tentando a sorte o quanto pode na cidade carioca e dentre outras historias. 

O roteiro feito pelo próprio cantor, usa inúmeras metáforas para se discutir os significados sobre a solidão. Algumas acertam ao adicionar uma grande dose de profundidade e que fazem o espectador se emocionar, principalmente na participação de figuras ilustres do nosso país, como o nosso velho palhaço Cocada. Claro que nem todas as passagens onde se procura o significado da solidão ou sobre o que é solitário na vida, acaba meio que soando forçado demais. Bom exemplo disso é quando o personagem de Pedro Nercessian está conversando com sua contra-parte, cita inúmeras coisas que são solitárias, mas que, por vezes, não faz muito sentido. 

Em contrapartida, a trama é repleta de frases engenhosas, por exemplo: "Ilha é aquele pedaço de mim que sobrou de tudo o mais que foi destruído". Além disso, o filme é repleto de músicas inspiradas, nas quais a maioria delas é composta ou cantadas pelo próprio Oswaldo Montenegro. São essas músicas, mais a trilha sonora e uma fotografia caprichada, que fazem com que o filme jamais perca o ritmo. 
Não há como se esquecer da engenhosa montagem feita pela equipe, que faz com que as inúmeras sub-tramas fluam muito bem, uma sobre a outra, jamais fazendo com que o espectador se perca durante o percurso. Devido a isso, o filme pode soar até mesmo como um verdadeiro "clipão", ou musical, mas no saldo geral o filme é uma mistura de tudo um pouco, chegando até mesmo, em algumas passagens, parecer um documentário. Bom exemplo disso são os depoimentos de pessoas comuns sobre o que é para elas o significado da palavra solidão, sendo que algumas são emocionantes e outras muito engraçadas. 

Embora sendo curto o filme (inicialmente seriam quatro horas de duração), cada ator tem os seus personagens bem aproveitados durante a trama. Merecem destaque os ótimos desempenhos de Vanessa Giácomo, Kamila Pistori e Pedro Nercessian. Contudo, quem rouba a cena é próprio Oswaldo Montenegro ao interpretar ninguém mesmo que o Diabo, em uma das melhores passagens do longa. 
Bonito, frenético,  inteligente e reflexivo, Solidões nada mais é do que uma obra experimental que foi muito além disso, provando que o nosso cinema tem muito mais a oferecer do que podemos imaginar. Basta ter empenho e teimosia como o Oswaldo Montenegro em querer ir contra a maré do cinema convencional.


23 de dezembro de 2013

Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013)

Qualquer criança sabe que extraterrestre que se preza vêm do espaço, das galáxias, dos céus - ou seja - lá de cima, não é mesmo? Só que em Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013) não é bem assim. Nesse último filme de Guillermo del Toro, monstros alienígenas invadiram a Terra através de uma fenda conectada a outra dimensão, no fundo do Pacífico. Desde então, essas enormes criaturas, chamadas de Kaijus, vêm causando muita destruição e ameaçando a existência da humanidade; para tentar combatê-los, os humanos criaram os Jaegers, robôs gigantes tripulados por duas pessoas e ligados à maquina através de uma conexão neural. 

Oceano Pacífico, monstros gigantes contra robôs heróis…você deve estar pensando que já viu isso antes, e viu mesmo! Círculo de Fogo é uma homenagem de Guillermo del Toro aos filmes e seriados japoneses do gênero nos anos 60 e 70, tais como Ultraman, Spectreman, Ultraseven, Robô Gigante, entre outros. A trama se passa em 2020, que convenhamos, é logo depois de amanhã, sendo curioso pensar num cenário futurista dessa complexidade em tão pouco tempo. Mas ficção é ficção. E Círculo de Fogo é ficção das boas. 

O filme transcende a mera pirotecnia das narrativas de superherói, unindo uma boa história com imagens e sequências exuberantes. Os Kaijus, no melhor estilo Godzila, metem medo de verdade e pisoteiam nossas cidades como quem passa por cima de castelo de areia na praia. As cenas de destruição causariam calafrios em qualquer ministro da defesa. Por sua vez, os Jaegers são colossais e impressionantes, sendo que o lance da conexão neural dos seus pilotos é mais um elemento que chama a atenção e nos prende à história. Apesar da inspiração nipônica, o enredo também traz alguns chavões clássicos de filmes americanos de ação: quando as coisas parecem estar perdidas, as esperanças recaem em um ex-combatente traumatizado, interpretado por Charlie Hunnam, e sua ajudante novata, japonesa e gatinha (Rinko Kikuch). 
Se na época dos filmes japoneses os recursos da época possibilitavam efeitos toscos, onde o imaginário infanto-juvenil criava toda atmosfera, em Círculo de Fogo, Guillermo del Toro se vale do melhor da tecnologia cinematográfica para criar um filme empolgante de grande apelo visual. Ultraman e seus colegas de salvação do planeta recomendam!


20 de dezembro de 2013

O MORDOMO DA CASA BRANCA (The Butler, 2013)

Lee Daniels se consagrou dirigindo Preciosa, um conto de fadas contemporâneo, sombrio, mas que havia ali um sinal de esperança e superação. Esses ingredientes são usados novamente em O Mordomo da Casa Branca. O filme se inspira em uma reportagem de jornal sobre a história de um mordomo negro que serviu os presidentes dos Estados Unidos entre os anos 1950's e 1980's. Cecil (Whitaker) surge como uma espécie de Forrest Gump da capital americana, onde fica observando de perto os principais momentos políticos do país, principalmente com o começo dos direitos civis dos negros que intensificou no inicio dos anos 60.

Enquanto o protagonista fica em cima do muro somente observando, a trama coloca o filho como um jovem revolucionário, atuando ao lado de personalidades como Martin Luther King, Malcom X e com os Panteras Negras. Isso acaba servindo para mostrar como os negros, ou qualquer outra minoria daquela época, sofria com a hipocrisia de um governo que valorizava o discurso da liberdade. Há, então, um equilíbrio entre o pai, negro, que serve aos brancos e o filho que luta pela igualdade, em meio aos principais acontecimentos da história americana. Essa passagem no tempo faz, por demais, lembrar Forrest Gump, mas, no geral, essa fórmula funciona.

O elenco de estrelas rouba a cena em diversos momentos, sendo que os presidentes são interpretados por grandes talentos. Contudo, o mais importante deles (Kennedy), é interpretado pelo sem sal James Marsden (X-Men), que quase compromete uma das principais partes da trama. O destaque fica mesmo para Forrest Whitaker (de O Último Rei da Escócia), que atravessa as várias décadas de vidas de Cecil de forma convincente e emocionante. O Mordomo da Casa Branca é o típico filme que os membros da academia do Oscar gostam: defesa de direitos civis, história americana e, acima de tudo, uma trama sobre superação.
É claro que o principal propósito de todo esse épico era fechar a saga de servidão e luta com a eleição de Barack Obama. Acontece que os recentes equívocos que mancharam a imagem do presidente tiram um pouco da graça no ato final que pretendia ser inesquecível. Apesar de ser um tema importante que não pode ser esquecido, de uma trilha imponente e de uma ótima reconstituição de época, o filme meio que quebra a cara por soar pretensioso demais nos seus minutos finais. Entretanto, se esquecermos os erros políticos americanos da realidade, o filme pode, sim, ser bem visto.

19 de dezembro de 2013

LORE (2012)

Dirigido pela cineasta australiana Cate Shortland (de Somersault, 2004), o drama sobre a segunda guerra mundial, Lore, é uma troca de perspectiva sobre o holocausto, diferente do que estamos acostumados a assistir sobre o tema no cinema. Se fossemos resumir a mensagem da trama, é que os vilões também sofrem e isso é mostrado sem dó, com muitos detalhes, neste estupendo trabalho. A atriz Saskia Rosendahl dá um verdadeiro show de interpretação na pele da protagonista que dá nome à trama e, com certeza, veremos mais em filmes posteriormente. 

Lore é baseado na obra The Dark Room, de Rachel Seiffert e conta a história de uma irmã que leva seus irmãos em uma viagem expondo-os à verdade das crenças ensinadas por seus pais. Durante o caminho, um encontro com um refugiado misterioso faz a protagonista aprender a confiar em alguém que em toda a sua vida foi ensinada a desprezar. Ao mesmo tempo, vai descobrindo a verdade sobre a família e o regime onde foi educada. Segura e com novas convicções para seu futuro, ruma para um destino cheio de surpresas.

O roteiro é muito bem escrito por Robin Mukherjee. Consegue recriar o cenário imaginado de melancolia, desespero e sofrimento que a história lança à nossa frente. A emoção é interrupta, dosada na medida certa para comover, gerar indignações e questionamentos, sendo que essas últimas estão concentradas nos derradeiros momentos da trama. Não chega a ser uma lição de moral, mas demonstra que a vida é uma grande caixa de surpresas e que, nem sempre, o mundo no qual nós vivemos é mostrado com clareza sobre os fatos apresentados em nossa volta. 
A co-produção Alemanha-Austrália consegue fazer diferença dos outros filmes que abordam esse mesmo assunto. Neste drama, somos surpreendidos por uma visão diferente dos fatos, mais ou menos como ocorre no emocionante O Menino do Pijama Listrado (2008). A descoberta dos irmãos sobre todos os horrores feitos durante anos por pessoas perto deles acaba desconstruindo e transformando esses personagens para uma nova realidade ainda desconhecida por eles. O público é levado facilmente pelas ótimas sequências captadas por Cate Shortland. A grande lição que fica da história é melancólica, mas não deixa de ser uma verdade para todos nos: ame o improvável, porque é o único que não irá lhe magoar.

Confira o trailer do filme abaixo:


18 de dezembro de 2013

O Hobbit: A Desolação de Smaug (2013)

A crítica dessa vez é uma contribuição do Artur Colombo, ele é estudante de jornalismo, geek, sobretudo viciado em filmes. Confira abaixo.

Peter Jackson, o homem que nasceu para adaptar as obras de J.R.R. Tolkien, volta às telas com O Hobbit: A Desolação de Smaug, provando que ainda consegue conduzir uma narrativa fluída e um bom desenvolvimento de personagens, como fazia nos filmes da franquia O Senhor dos Anéis. Porém não conseguiu fazer com precisão em O Hobbit: Uma Jornada Inesperada.

O filme ainda tem algumas “barrigas” e cenas que não tem necessidade, mas elas são tão bem construídas que não deixam o filme se arrastar. Essas cenas são ótimas para os amantes das obras de Tolkien, contudo a quantidade de cenas desnecessárias e uma narrativa arrastada no primeiro filme tiraram um pouco a empolgação dos fãs, o que definitivamente não aconteceu nesse segundo filme da franquia. O longa-metragem ainda conta com uma pontinha de Peter Jackson em uma das primeiras cenas, o que mostra o quanto o diretor está confortável com a franquia, além de ser um belo agradecimento a todos os fãs que acompanham a trilogia.

A ação é uma das melhores evoluções do filme, sem dúvida é bem mais nítida em A Desolação de Smaug. Nesta sequência o diretor conseguiu empregar cenas de ação fluídas, com mil coisas acontecendo ao mesmo tempo, mas tão bem detalhadas que podem ser acompanhadas sem o perigo de se perder dentro da ação desenfreada.

Além da ação, o inimigo também muda de forma, enquanto tínhamos os orcs como inimigos centrais em Uma Jornada Inesperada, neste segundo filme eles vão perdendo espaço e dando cena ao verdadeiro vilão, o grande dragão avarento Smaug (Benedict Cumberbatch). O filme também nos insere, aos poucos, no que seria o vilão de “O Senhor dos Anéis”, Sauron, e nos mostra a cobiça que Bilbo tem pelo anel. 
O filme tem o seu ápice quando, finalmente, Bilbo (Martin Freeman) tem seu encontro tão esperado com o dragão Smaug. Assim, podemos ficar surpresos ao ver a grandiosidade do imenso dragão comparado à inferioridade do pequeno Hobbit. Sem falar da ameaçadora voz de Benedict Cumberbatch, que só em poucas falas já nos passa toda a ameaça que Bilbo sente no momento do encontro.

Com um lado mais sombrio e dando mais espaço para ação e menos para o humor, O Hobbit: A Desolação de Smaug faz você sair do cinema com vontade de saber o que vai acontecer no próximo. Esse sentimento era muito comum na trilogia O Senhor dos Anéis, mas não foi passado adiante em Uma Jornada Inesperada. Entretanto, ele volta com toda força nesse novo filme, junto de uma bela fotografia que, como sempre, é um deleite para os olhos e uma trilha sonora que dava certo e continua agradando.
Com o resultado desse novo filme, o próximo O Hobbit: Lá e de Volta Outra Vez promete empolgar e agradar muito aos fãs da franquia. Agora é só esperar que Peter Jackson mantenha o que fez neste ultimo filme e acerte a mão neste próximo também.


17 de dezembro de 2013

Francês Ha (2012)

A partir de qual momento uma pessoa pode se considerar adulta? O marco que define o fim da adolescência ficou cada vez mais nebuloso e os famosos vinte e poucos anos se tornaram muitos. Frances (Greta Gerwin) é uma dessas jovens que, após terminar a faculdade, aos 27 anos, parece ignorar as exigências de uma vida adulta e se atrapalha ao equilibrar sonhos e problemas financeiros.

O refúgio emocional é a relação com a melhor amiga e colega de quarto Sophie (Mickey Sumner), que a deixa na mão para ir morar em seu bairro dos sonhos, Tribeca, que é um local que Frances não tem condições de bancar. Como na dança contemporânea, ela parece disposta a bailar conforme a música, além de voltar atrás: seja para passar o fim de ano na casa dos pais, na Califórnia, seja para voltar ao campus onde estudou, não mais como estudante, mas fazendo um bico em eventos da instituição.

Filmado em preto e branco, Frances Ha tem roteiro assinado pela própria Greta Gerwin e pelo diretor Noah Baumbach (de A lula e a baleia), o que talvez explique a espontaneidade com que Greta interpreta a protagonista atrapalhada e divertida.

16 de dezembro de 2013

CAPITÃO PHILLIPS (Captain Phillips, 2013)

Se a trilogia do Borne, estrelado por Matt Damon fez sucesso, tanto de público como de critica (e ter conquistado três Oscars no terceiro filme), muito se deve a uma pessoa: Paul Greengrass. Ao lado de Christopher Nolan (Cavaleiro das Trevas) Greengrass talvez seja um dos poucos cineastas atuais que consiga trazer uma verossimilhança nas sequências de ação, nas quais faz com que o público que assiste acredite nelas e, ao mesmo tempo, sinta uma tensão genuína. Por conta desse talento, dirigindo uma trama baseada em fatos verídicos surpreendentes, o resultado final seria, no mínimo, positivo.

Baseado no livro "A Captain's Duty: Somali Pirates, Navy SEALs, and Dangerous Days at Sea", sendo escrito pelo verdadeiro Richard Phillips, acompanhamos sua história (interpretado com intensidade por Tom Hanks) que teve seu navio atacado por apenas quatro piratas da Somália, mas o suficiente para a trama se descarrilar para momentos de pura tensão. A situação piora no momento em que os quatro piratas sequestram o capitão e ficam presos dentro de um bote, onde começa a longa negociação com os serviços especiais americanos.

Tudo é muito bem orquestrado, sendo que Greengrass reserva o tempo na tela para a construção dos personagens principais: Phillips (Hanks) é veterano no mar, profissional em todos os sentidos e que, acima de tudo, arrisca a vida para proteger sua tripulação. Já do lado dos piratas da Somália temos o líder Muse (Barkhad Abdi, ótimo) que não poupa os meios que forem necessários para adquirir o que quer no navio. O que é apresentado na tela são dois lados da mesma moeda, mas que a situação os colocaram em vidas diferentes.
Embora nós torçamos para que capitão Philips saia bem dessa, ao mesmo tempo o roteiro não entrega a velha fórmula de mocinho e bandido que tanto vemos nos filmes americanos. Aqui, nos são apresentadas pessoas comuns, que tentam sobreviver no seu cotidiano, mas que, infelizmente, as circunstâncias fazem que seus mundos diferentes um do outro se colidem de tal forma que simplesmente não há volta. Os somali estão ali saqueando, pois acreditam que não há escolha para eles na vida e que a pirataria é o seu único meio de vida.

Culpamos quem nessa situação? Os países que não ajudaram a Somália? O próprio governo daquele país? As escolhas erradas que aqueles indivíduos tomaram? Cada um que assiste a trama tira suas próprias conclusões! 
Polêmicas à parte, do segundo ao terceiro ato da trama é uma verdadeira claustrofobia, já que os protagonistas principais ficam presos dentro de um bote onde os destinos de cada um estão selados. Até lá, Greengrass cria uma verdadeira montanha russa emocional, na qual só aumenta essa sensação graças à sua câmera movimentada, sempre passando a sensação documental, embalado com uma montagem ligeira e que dá uma verdadeira aula de como se faz as cenas. Tudo isso vai de encontro aos minutos finais da trama, onde momentos cruciais se aproximam e Greengrass passa a mesma sensação de um terrível e amargo fim, assim como foi visto nos duros minutos finais de Vôo United 93.

Não tenho dúvidas que o filme se torne o franco favorito em montagem, além de, claro, uma indicação para o cineasta e para Hanks, que pode se tornar o franco favorito no ano que vem. Filme indispensável para aqueles que buscam ação e suspense, mas tudo na medida certa e muito bem dirigida.

13 de dezembro de 2013

9ª edição do Festival de Verão terá Mostra Banrisul de cinema francês

A Avant-première do 9º FESTIVAL DE VERÃO que inicia nesta sexta-feira trata clássicos do cinema francês, alguns deles ainda inéditos em Porto Alegre.
Produzido pela Panda Filmes, o Festival, que tem patrocínio exclusivo do Banrisul, traz uma mostra dedicada aos diretores Alain Resnais e Jacques Tati. Resnais conquistou definitivamente fama e prestígio com dois marcos do cinema moderno criados em torno de investigações sobre a memória: Hiroshima, Meu Amor, de 1959 e O Ano Passado em Marienbad, de 1961. Ambos serão exibidos na Cinemateca Paulo Amorim e no Instituto NT entre os dias 13 e 19 de dezembro

Considerado pela crítica especializada como o mais original comediante surgido no cinema depois de Charles Chaplin, Jacques Tati também é homenageado nessa edição. A Mostra Banrisul Cinefrance dedicada ao diretor traz seis filmes, com destaque para os curtas Cuida da tua esquerda, Curso noturno e A escola dos carteiros, ainda desconhecidos entre boa parte do público gaúcho. 

A abertura oficial desta espécie de “pré-temporada” do 9º Festival de Verão de Cinema Internacional, que batizamos de “avant-première”, terá sessão gratuita dia 13/12, sexta-feira, às 21h, e exibirá O Rio Nos Pertence. Filme que participou da mostra competitiva no conceituado Festival de Rotterdam em 2013 e recebeu prêmio de finalização. As demais sessões tem o valor estabelecido pelas salas de cinema. 

Programação completa da Mostra Banrisul Cinefrance

13/12/2013 – Cinemateca Paulo Amorim
14h30 – Mostra Banrisul Cinefrance Jacques Tati – Meu tio
16h30 - Mostra Banrisul Cinefrance Alain Resnais – Ano passado em Marienbad
18h30 - Mostra Banrisul Cinefrance Alain Resnais – Hiroshima Meu amor

13/12/2013 – Instituto NT
13h30 - Mostra Banrisul Cinefrance Alain Resnais – Meu tio na América

14/12/2013 - Cinemateca Paulo Amorim
14h30 - Mostra Banrisul Cinefrance Jacques Tati – As férias do Sr. Hulot

14/12/2013 – Instituto NT
13h30 - Mostra Banrisul Cinefrance Alain Resnais – Muriel
15h40 – Mostra Banrisul Cinefrance Alain Resnais - Hiroshima, meu amor

15/12/2013 - Cinemateca Paulo Amorim
14h30 - Mostra Banrisul Cinefrance Jacques Tati – Meu Tio
16h30 - Mostra Banrisul Cinefrance Alain Resnais – Hiroshima Meu amor

15/12/2013 - Instituto NT
13h30 - Mostra Banrisul Cinefrance Alain Resnais – Ano passado em Marienbad
15h15 - Mostra Banrisul Cinefrance Alain Resnais – Noite e Neblina

16/12/2013 - Instituto NT
13h30 - Mostra Banrisul Cinefrance Alain Resnais – Noite e Neblina
14h15 - Mostra Banrisul Cinefrance Alain Resnais – Muriel

17/12/2013 - Cinemateca Paulo Amorim
14h30 - Mostra Banrisul Cinefrance Alain Resnais – Meu tio na América
16h45 - Mostra Banrisul Cinefrance Jacques Tati – Curtas: Cuida da tua esquerda, Curso noturno e A escola dos carteiros

17/12/2013 - Instituto NT
13h30 - Mostra Banrisul Cinefrance Jacques Tati – Playtime TEMPO DE DIVERSÃO
18/12/2013 - Cinemateca Paulo Amorim
14h30 - Mostra Banrisul Cinefrance Jacques Tati - Curtas: Cuida da tua esquerda, Curso noturno e A escola dos carteiros
16h - Mostra Banrisul Cinefrance Alain Resnais – Meu tio na América

18/12/2013 - Instituto NT
13h30 - Mostra Banrisul Cinefrance Jacques Tati – As férias do Sr. Hulot
15h45 - Mostra Banrisul Cinefrance Jacques Tati – Curso Noturno

19/12/2013 - Cinemateca Paulo Amorim
14h30- Mostra Banrisul Cinefrance Jacques Tati - Curtas: Cuida da tua esquerda, Curso noturno e A escola dos carteiros
19/12/2013 - Instituto NT
13h30 - Mostra Banrisul Cinefrance Jacques Tati – Curso Noturno
14h15 - Mostra Banrisul Cinefrance Jacques Tati – Meu tio

Laís Ribeiro 
Assessoria de Imprensa 

11 de dezembro de 2013

EM BREVE: Ender’s Game – O Jogo do Exterminador

A Paris Filmes apresenta a mais nova saga de sucesso
Ender’s Game – O Jogo do Exterminador.
Após sobreviver a um ataque devastador dos alienígenas Formics, o povo da Terra passou anos se preparando para um possível novo ataque, criando uma nova geração de crianças treinadas como guerreiros. Os jovens mais talentosos e brilhantes do planeta vão à Escola de Batalha, uma estação espacial na qual competem por uma chance de se tornarem comandantes das Forças Internacionais. Utilizando avançados simuladores e exercícios de estratégia rigorosos, o treinamento acontece em uma atmosfera violenta e de competição intensa, sabendo que apenas um deles será escolhido líder.

Ender Wiggins (Asa Butterfield), um brilhante e talentoso garoto de 12 anos de idade, é excepcional mesmo entre seus extraordinários colegas. Sua combinação única de inteligência, empatia e estratégia o destacam em sua classe e na Sala de Batalha — um playground com gravidade zero no qual um jogo futurista com lasers testa as aptidões estratégicas e físicas dos candidatos. As aptidões únicas de Ender causam inveja em seus colegas e o comandante da escola, Coronel Hyrum Graff (Harrison Ford), aposta todas as suas fichas em Ender para desenvolver suas habilidades de liderança. Certos de que um novo ataque pelos Formics é iminente, o coronel acredita ter apenas algumas semanas até que Ender esteja pronto para liderar a Frota Internacional em uma batalha pela sobrevivência planetária. Mas enquanto o garoto se prepara para o teste final, ele começa a refletir sobre a monumental tarefa que o espera: Será essa a melhor estratégia para alcançar a paz?

O filme, baseado no best-seller do autor Orson Scott Card teve como orçamento R$110 milhões, o que garante um dos melhores efeitos especiais dos últimos anos.

Para quem ainda não conhece o filme, segue trailer e página oficial no Facebook para mais informações:

Link da página oficial no face: https://www.facebook.com/EndersGameOJogoDoExterminador

Trailer do filme:


10 de dezembro de 2013

Azul é a cor mais quente

Num determinado momento da primeira hora de Azul é a cor mais quente, Adele (Adèle Exarchopoulos) tem um sonho erótico com relação à garota que havia cruzado na rua, Emma (Léa Seydouxs). No princípio, o travesseiro que ela usava era todo branco, mas bastou ela começar a ter o sonho, que ele começou a ficar manchado de azul, ao ponto de ficar diferente da primeira cena em que ele surgiu. Essa seqüência representa muito bem inúmeros momentos do filme, em que objetos de cena, assim como o fundo do cenário, possuem a cor azul. Tais cenas transmitem a ideia de que talvez eles não estejam exatamente nesta cor, mas estão assim devido aos pensamentos de Adele, que transbordam na tela, principalmente com relação à pessoa que ela busca para amar. 

Dirigido por Abdellatif Kechiche (O Segredo do Grão, 2007), e baseado na HQ escrita por Julie Maroh, Azul é a cor mais quente me fez sentir o mesmo de quando eu havia assistido O Segredo de Brokeback Mountain de Ang Lee: não é sobre a relação de duas pessoas do mesmo sexo, mas sim sobre uma história de amor como qualquer outra, de altos e baixos e que para o bem ou o mal, lhes trazem sofrimento, mas amadurecimento com relação a certos obstáculos da vida. Com isso, não tem como a pessoa não se identificar com os personagens, seja hétero ou não. 

Mais do que uma história de amor, o filme também desvenda como, por vezes, é difícil a vida, com relação ao saber o que realmente a pessoa quer para ela, principalmente na fase da adolescência. Nessa época, algumas vezes, nós mesmos nos pegávamos de uma maneira deprimida, mas não sabíamos por quê; parece que falta algo para a gente ser feliz ou que a gente não descobriu outro lado de nós. Adele é mais ou menos assim: vivendo o dia a dia, indo e voltando para escola, mas com pensamentos e dores internas nas quais ela mesma não pode explicar nem para ela mesma. 

Tudo isso é mostrado gradualmente pela câmera de Kechiche, onde ele consegue extrair cada gesto, detalhes e pensamentos vindos dos olhos da protagonista, criando um verdadeiro mosaico, tanto de imagens sugestivas, como também fazer com que a gente consiga saber o que ela pensa através dos seus olhos. Isso muito se deve também a estupenda interpretação de Adèle Exarchopoulos, que carrega todo o filme nas costas, mas de uma maneira surpreendente, segura e se transformando numa das grandes revelações do ano. 
Embora com suas três horas de duração, o longa-metragem desperta curiosidade com relação ao destino da personagem, fazendo com que nos tornemos parceiros ao lado dela nessa jornada. Bom exemplo é a primeira hora do filme que, embora Adele tenha cruzado e trocado olhares com Emma na primeira meia hora de filme, leva um bom tempo até elas se reencontrarem. Até lá, vivenciamos as descobertas que a protagonista experimenta, desde fazer sexo pela primeira vez com um rapaz, como também ter o seu primeiro beijo com outra garota.

Chega o ponto em que sabemos o que Adele quer: achar Emma e liberar o que ela quer soltar a todo custo, mesmo demonstrando um comportamento um tanto que contido. O reencontro finalmente acontece num bar, onde conhecemos Emma e descobrimos que ela não é somente uma bela imagem Angelical que despertou os desejos da protagonista, como também uma garota entendida e resolvida na vida como uma artista. Embora Léa Seydoux não possua o mesmo tempo de cena de Adele Exarchopoulos, ela simplesmente domina em cena quando ela surge, passando segurança de sua personagem, protagonizando momentos fortes e que não deve nada para a sua colega de cena. 
Com o reencontro e o inicio de uma forte relação amorosa, surge a tão badalada e polêmica cena de amor entre as duas. Embora tenha causado furor no Festival de Cannes devido a essa cena, o que vemos não é nada gratuito, mas sim justificado. Durante mais de uma hora de filme vemos a protagonista em uma cruzada para liberar os seus desejos internos e o que vemos é o resultado mais do que justo. Graças a Abdellatif Kechiche e sua câmera, vemos uma cena de sexo de uma maneira bela, onde presenciamos cada centímetro dos corpos das duas e passando para nos a sensação de fusão de pele entre ambas as protagonistas, criando assim uma visão incomum, em sete minutos que sintetiza muito bem o que ambas sentem uma pela outra naquele momento forte e singelo. 

Após isso, presenciamos a construção dessa relação, onde elas conhecem aos poucos o mundo de cada uma delas, desde os seus atrativos, como também suas imperfeições. Como em toda relação que se preze, o que começa como uma bela historia de amor, acaba não sendo exatamente o que se esperava. Não que ambas não se amem, mas são suas personalidades distintas que colocam a relação em xeque.
Enquanto Emma sabe o que realmente quer na vida, Adele ainda se encontra num redemoinho de incertezas, que há faz descascar outras camadas de sua confusão de pensamentos e sentimentos. A conseqüência disso faz com que elas se coloquem num desafio de saber sobreviver numa realidade em que o amor, por mais que o desejamos, machuca e nos faz nos levar num caminho sem retorno. Provocamos os nossos atos, mas as conseqüências sempre será outra história a ser enfrentada. 

Em seu ato final, vemos as protagonistas sobrevivendo às conseqüências de suas escolhas, mas jamais mudando o que ambas sentem uma pela outra. Não há um final feliz, mas também não é nenhuma tragédia, e sim um recomeço, no qual desejamos segui-lo e saber qual seria o próximo passo delas. 

Apesar das três horas de duração, Azul é a cor mais quente é um filme a ser degustado, saboreado vagarosamente e deve ser visto com mente aberta. Os que não entendem o que eu quero dizer, que fiquem do lado de fora do cinema.

4 de dezembro de 2013

Top 10 Trilhas Sonoras Rejeitadas (por Vinício Oliveira)

Não é necessariamente comum, mas acontece de uma trilha sonora ser rejeitada para um filme logo antes de seu lançamento ou durante a pós-produção. Os motivos são variados: falta de tempo do compositor para concluir seu trabalho, refilmagens que acabam alterando drasticamente a estrutura do filme, divergências artísticas entre diretor e compositor, interferência do estúdio, desaprovação nas exibições teste. Na maioria das vezes a decisão é acertada, porém mesmo que uma trilha sonora orquestrada não seja a melhor opção para um filme isso não significa que a música e os temas apresentados sejam necessariamente ruins. Eu apresento aqui algumas trilhas e temas que apesar de não terem sido a melhor opção para seus filmes são obras bastante interessantes e agradáveis de se ouvir.

10º Maurice Jarre - O Rio Selvagem

Aqui está um score que definitivamente deveria ter ficado de fora do filme. Ele não acompanha muito bem a trama e soa bastante destoante da ideia do filme, mas mesmo assim é bastante interessante e tem alguns temas de ação que soam muito bem, apesar de parecerem diretamente retirados da década de 50.



9º Graeme Revell - O 13º Guerreiro

A trilha sonora de Jerry Goldsmith para O 13º Guerreiro é tão épica que Ridley Scott a utilizou novamente em uma das melhores cenas de Cruzada, talvez esse seja o motivo pelo qual essas ótimas composições de Revell tenham sido rejeitadas. A trilha de Revell é mais medieval do que a de Goldsmith e tem algumas temas mais delicados e misteriosos.



8º Randy Newman - Força Aérea Um

Aqui temos um trabalho bastante inspirado de Newman, mas que novamente não é tão adequado quanto a trilha de Jerry Goldsmith. O clima de urgência de Newman, que não tinha muita experiência com scores de ação, foi substituído pelos temas mais patrióticos de Goldsmith.



7º Christopher Young - Um Lugar Para Recomeçar

Com o filme pronto em 2003 e sendo lançado apenas em 2005, na longa fase de pós-produção quase toda trilha sonora de Young foi substituída por composições de Deborah Lurie que, na verdade, é uma pupila de Young. Eu não consigo analisar imparcialmente qual das trilhas é mais adequada ao filme, mas com certeza as composições de Young são belíssimas e um pouco mais complexas.



6º Ennio Morricone - Amor Além da Vida

Até mesmo mestres como Morricone tiveram scores rejeitados. O filme foi para as telas com uma trilha adequada e bonita composta por Michael Kamen. Ainda assim, as composições de Morricone são belíssimas, mas talvez não tão adequadas à obra que tem uma pegada final mais moderna do que o som de Morricone.



5º Alex North - 2001 Uma Odisséia no Espaço

Não há dúvida que a escolha de Kubrik de utilizar musicas clássicas consagradas para ilustrar sua "space opera" definitiva foi acertada. Porém isso não tira o crédito das boas composições de Alex North para o filme, ainda que possam parecer datadas hoje em dia, elas com certeza tem suas qualidades.



4º Ahmed al-Gendy - O Exterminador do Futuro - A Salvação

Evidente que Danny Elfman tem um nome com muito mais peso para compor a música de um filme do que Ahmed al-Gendy, praticamente um desconhecido. Apesar de achar o score de Elfman bastante inspirado eu considero bastante interessante o tom geral da composição de al-Gendy e acredito que ele não teria apresentado um material ruim.



3º Alan Silvestri - Missão Impossível

Esse é um dos poucos casos em que eu acredito que a trilha dispensada era superior a que chegou às telas. Silvestri entrega um som mais elegante e menos barulhento do que a trilha de Danny Elfman, com uma relação muito mais próxima ao seriado original.



2º Jerry Goldsmith - Timeline

Aqui está um exemplo de uma trilha sonora não apenas melhor do que a que foi usada, mas claramente melhor do que o filme que deveria acompanhar. O mair triste é saber que essa trilha sonora não utilizada foi o último trabalho completo de Jerry Goldsmith. Na verdade a trilha não foi dispensada por não agradar, mas o filme sofreu diversas mudanças durante a produção e a trilha sonora de Goldsmith foi considerada pesada demais para o novo clima do filme.



1º Gabriel Yared - Tróia

Mais um dos casos em que eu acredito que o score rejeitado é definitivamente superior ao utilizado no filme. Yared não tinha muita experiência com trilhas sonoras de filmes de ação e isso acaba trabalhando a seu favor, já que ele entrega temas mais sentimentais e épicos do que a repetição exacerbada de James Horner.

2 de dezembro de 2013

Thor: O Mundo Sombrio (Thor: The Dark World, 2013)

Muitos se perguntam qual é a formula do sucesso da Marvel no cinema, principalmente nos filmes nos quais eles próprios comandam e que, atualmente, existe uma forte interligação entre as produções. A meu ver, o estúdio não está a fim de mudar a vida de ninguém, tampouco mudar a linguagem das adaptações de HQs para o cinema, mas sim criar boas histórias, nas quais tanto podem entreter os pequenos como também o público mais maduro e que cresceu lendo boas HQs. Thor: O Mundo Sombrio é mais ou menos isso: supera seu antecessor, mas mantém o mesmo ritmo apresentado nos outros filmes solos da casa de ideias, dando a entender que o melhor sempre ficará para depois (em Vingadores 2?).

Praticamente a trama é uma continuação dos eventos vistos em Vingadores (de 2012), começando com a prisão perpétua de Loki (Tom Hiddleston, ótimo), mas se concentrando no retorno dos Elfos Negros, liderados pelo tirano Malekith (Christopher Eccleston), cujo objetivo é conquistar uma energia escura, que acaba possuindo Jane Foster (Natalie Portman) e levar os nove reinos a escuridão eterna. Diferente do filme anterior, o filme se concentra mais nos nove reinos e fazendo com que o filme se torne muito mais grandioso e épico. Mas isso já era o esperado, pois a direção ficou a cargo de Alan Taylor - responsável por seis dos melhores episódios da série Game of Thrones - que injetou um tom mais sombrio à trama.

Embora Taylor esteja no comando, não espere uma produção séria, pois o filme é direcionado a todas as idades. Isso pode soar um tanto que perigoso, mas se mostrou eficaz, pois O Mundo Sombrio se alterna em momentos dramáticos para, logo em seguida, surgir momentos de humor certeiros, principalmente protagonizados pela personagem Darcy (Kat Dennings) e por um amalucado Dr. Selvig (Stellan Skarsgård). Contudo, são os momentos de emoção que me conquistaram, pois o filme possui passagens emocionantes, principalmente na seqüência de um funeral após o ataque dos Elfos Negros e que, com certeza, é disparado um dos momentos mais tristes e bonitos dos filmes comandados pela Marvel até agora.

Diferente do filme anterior, alguns personagens ganharam mais tempo na tela: mesmo em pouco tempo, Jaimie Alexander novamente nos conquista com sua guerreira Sif e nos faz torcer para que ela seja a Mulher Maravilha do cinema futuramente. Heimdall (Idris Elba) larga por um tempo a sua tarefa de porteiro de Asgard e demonstra que o seu poder vai muito além. Mas é Frigga (Rene Russo) que, se comparado ao filme anterior, é a personagem que ganha mais importância e se torna protagonista de um dos momentos mais dramáticos da trama. 
Com relação aos peões principais, Chris Hemsworth está mais à vontade do que nunca como Thor e prova que tão cedo não largará o martelo do personagem. Mas, se por um lado Anthony Hopkins está “mais do mesmo” como Odin, por outro, Christopher Eccleston infelizmente acaba se tornando uma decepção como Malekith, pois mesmo com o ameaçador visual e poder do personagem, ele não transmite nada com que faça com que o público tenha simpatia por ele. Felizmente a galeria de vilões é muito bem representada novamente pela presença de Loki e muito se deve à contagiante interpretação de Tom Hiddleston encarnando cada vez melhor o personagem e fazendo com que o cinéfilo sempre torça para ele surgir em cena, pois com ele presente, tudo pode acontecer, rendendo tantos momentos de tensão como também de puro humor. 
Embora ainda ache que as melhores cenas de ação da Marvel estejam no filme Vingadores, Thor: O Mundo Sombrio chegou perto de superar, tanto na seqüência do ataque contra Asgard, como também no ato final da luta do herói contra o vilão elfo. Essa seqüência, aliás, é uma verdadeira montanha russa, pois os personagens se confrontam de corpo a corpo, mas ao mesmo tempo seus corpos voam e saltam no espaço-tempo, sendo jogados em diversos lugares, proporcionando momentos inesperados, mas ao mesmo tempo muito engraçados.
Com começo, meio, fim bem amarrados e deixando as irregularidades do filme anterior de lado, Thor: O Mundo Sombrio surpreende principalmente nos minutos finais da historia, onde deixa dúvida com relação ao destino de um dos personagens e principalmente sobre qual caminho esse gancho inesperado irá ser finalizado: será em Vingadores 2? Guardiões das Galáxias? Thor 3? Só a Marvel (ou não) sabe!

30 de novembro de 2013

A BELA QUE DORME (Bella Addormentata, 2012)

A bela que dorme, de Marco Bellocchio (de Vincere, 2009) mergulha numa discussão delicada que é a eutanásia. Entretanto, por conta de uma disposição caótica e multifacetada no que se referem aos personagens e as situações vividas por eles, a eutanásia acaba sendo pano de fundo para os acontecimentos que ocorrem em três tramas que, embora independentes, possuem certa interligação. Talvez este fato atrapalhe um pouco um cinéfilo desavisado, que tente acompanhar com o mesmo interesse que aflora nos primeiros minutos de projeção. De alguma forma, Bellocchio se atrapalha um pouco nesse assunto tão delicado, estabelecendo pontos de interligação distantes, desintegrados, e sem conseguir amarrá-los para se aprofundar no foco principal.

Eluana Eglaro está em coma vegetativo há anos, gerando então discussões morais, políticas e religiosas em todo o país, se deve continuar viva, ou se desligar os aparelhos seria o melhor para ela. Em meio a este conflito nacional, Bellocchio mostra como o desejo pela morte, o horror à morte e a moral por viver, ainda que vegetando, atinge diversas pessoas com problemáticas diferentes umas da outras, mas sobre a mesma questão.

Algumas passagens valem o filme, outras não (o irmão problemático é uma delas). O conceito de morte e a relação entre os personagens, as cenas dos religiosos e, principalmente, o apego das pessoas em alguma crença - a motivação que cada um de nós possui para continuar vivendo. Bellocchio, como sempre, acerta na criação dos protagonistas. Ele é capaz de ir fundo nas emoções, sentimentos, dramas psicológicos, traçando personalidades bastante verossímeis e humanas.

28 de novembro de 2013

SOBRENATURAL CAPÍTULOS 1 e 2

SOBRENATURAL (Insidious, 2010)

O diretor James Wan (Jogos Mortais, Invocação do Mal) e o produtor Oren Peli (diretor de Atividade Paranormal), provaram serem os homens certos do cinema de horror atual. Com pouco dinheiro e sem abusar do sangue na tela, criam filmes de horror caprichados que fazem o cinéfilo pular da cadeira facilmente. Este Sobrenatural, conta a história de uma família que tenta melhorar sua rotina, abalada após um dos filhos do professor Josh (Patrick Wilson) e da pianista Renai Lambert (Rose Byrne) entrar em um tipo de coma profundo, vítima de um acidente caseiro. Espíritos passam a assombrar a casa, perseguindo-os mesmo após a mudança de residência, tentando se apossar da mente enfraquecida do garoto.

Embora seja produzido por Peli, e possuir um tema semelhante, não espere um novo Atividade Paranormal. Este longa-metragem é narrado de modo tradicional, que lembra os últimos filmes de horror produzidos no final da década de 90, mas sem apelar para os excessos de violência e sangue, e sim em algo sugestivo e bem certeiro. Assim como Invocação do Mal, esta produção remete aos filmes de horror que eram apresentados ao público antigamente: mansão mal assombrada, ruídos ao fundo, algo escondido nas sombras, portas e paredes rangendo e etc. Tudo isso, para criar um clima de apreensão e expectativa de que o pior surja na tela. 

Embora tenha se consagrado em um filme mais violento, como Jogos Mortais, Wan soube comprar a ideia de Peli. Ao ver o filme, acredito que foi um trabalho de equipe, não de um homem só, fazendo com que a obra jamais passe o ar de pretensão de nenhum deles e se preocupando mais com a reação do público. Patrick Wilson (Watchmen) e Rose Byrne (X-Men: Primeira Classe), estão bem como o casal desesperado perante o fato do filho estar em estado de coma e, ao mesmo tempo, com as coisas estranhas que vão acontecendo na casa. 

O ato final, onde é mostrado dois dos personagens principais no mundo dos espíritos, que mais parece uma realidade mais escura e ameaçadora do mundo onde eles vivem, rende inúmeros momentos que provocam verdadeiros arrepios ao espectador e uma forma, até bem original, de mostrar o outro lado desse mundo ainda desconhecidos para os mortais. Como é de costume, o final deixa um belo gancho para uma inevitável continuação. 


SOBRENATURAL: CAPÍTULO 2 (Insidious: Chapter 2, 2013)

A trama começa exatamente onde o filme anterior havia terminado, mas essa seqüência pode muito bem ser vista independente da primeira parte. Isso é possível graças ao fato dos produtores terem criado uma pequena sub trama, onde mostra o pequeno Josh Lambert, em 1985, tendo os mesmos problemas com o sobrenatural que teria o seu filho futuramente. Após, retornamos ao presente, com Josh Lambert já adulto (Patrick Wilson), mas agindo de uma forma estranha, após ter resgatado seu filho do mundo sobrenatural. Para piorar, ele se torna o principal suspeito de ter matado a médium Elise (Lin Shaye).

Embora relativamente independente do primeiro, os produtores também foram geniais ao saber explicar eventos pouco esclarecidos vistos no primeiro capítulo. Para isso, fizeram com que alguns protagonistas perambulassem no mundo pós-morte e fazerem com que eles revisitassem tanto o Lambert pequeno do inicio desse filme, como também aos eventos vistos do primeiro capítulo. Isso significa que os produtores não só criaram um engenhoso filme de horror, como também uma espécie de viagem no tempo, pouco visto dentro do gênero, o que, com certeza, muitos irão acabar se lembrando do segundo filme De Volta do Futuro como referência. 

Além disso, não faltam referências a outros filmes de horror e suspense, que vai de Silencio dos Inocentes e até mesmo Psicose. Se por um lado isso possa parecer uma verdadeira salada mista, por outro, prova que James Wan e Oren Peli são verdadeiros fãs do gênero e tentam ao máximo respeitá-lo. É claro que nem tudo é perfeito, pois o filme escorrega em alguns momentos cômicos desnecessários, principalmente protagonizados pela dupla de ajudantes da médium Elise, mas que não compromete muito.

O final em si, resolve todas as pontas soltas de ambos os filmes e faz com que trama dessa família termine por aqui. Contudo, os segundos finais da história acabam criando dois caminhos, onde a cine-série pode ir para uma nova trama independente dessa, ou inventando uma mirabolante revelação, para que a vida do casal protagonista e de seus filhos não fique sossegada por um bom tempo.

25 de novembro de 2013

Blue Jasmine (2013)

A crítica a seguir é mais uma contribuição do Marcelo Castro Moraes, do blog Cinema Sem Anos de Luz. Confira!

Depois de dar um giro pelo mundo contando suas histórias, Woody Allen decidiu novamente trazer o seu universo neurótico para o território americano após alguns anos de ausência. Assim como um bom e velho vinho, Allen prova que não será pela idade já meio avançada que irá deixar o seu talento decair e neste mais novo filme ele fortalece isso que digo. Como sempre, paranóias, inquietudes e duvidas novamente surgem na vida dos personagens e, aqui, em um grau muito maior.

Inspirado no clássico Um Bonde Chamado Desejo, acompanhamos a personagem Jasmine (Cate Blanchett espetacular), tentando se reerguer na vida, após a morte do seu marido (Alec Baldwin) na cadeia. A trama vem e volta no tempo, mostrando a vida dela antes desses eventos e como a sua situação era mais glamorosa, para então depois acontecer uma grande queda. Isso acaba provocando uma Jasmine paranoica, irritada e insatisfeita com as pessoas em volta, como no caso de sua irmã (Sally Hawkins) que vive meio sem perspectivas de vida ao lado do marido grosseiro (Bobby Cannavale).

Não é preciso ser gênio em adivinhar que todo o foco da história está voltado em Jasmine, onde se disseca toda a sua personalidade e caráter, tanto antes como depois. O filme foca principalmente ao fato de que ela sempre vivia em busca de algo maior, mas sempre através da ajuda de outras pessoas: no passado através do seu marido e, no presente, através do mais novo bom partido (Peter Sarsgaard).
Com isso, temos o retrato de uma pessoa que mente para ela própria; que vendia a imagem da pessoa bem sucedida, mas que, no final das contas, se tornou um ser frustrado graças às suas ações suspeitas, tornando-se uma entidade imprevisível, com temperamento explosivo. Arrisco dizer que aqui, Cate Blanchett nos brinda com o seu melhor desempenho da carreira, pois sua Jasmine é um ser de inúmeras camadas, onde cada uma delas pode simplesmente submergir e nos surpreender de uma forma única. O ato final nos reserva revelações surpreendentes, nas quais ficamos chocados e, por que não dizer, frustrados com as ações da protagonista, mesmo quando compreendemos do porquê dela ter agido assim.
Allen, como sempre, cria um humor único, mesmo em meio a situações nas quais, se nós, meros mortais, passássemos, não acharíamos a menor graça. Porém, nos surpreende o fato dele saber casar as cenas de humor com momentos mais pesados, permitindo termos uma ligeira sensação de que entramos em outro filme, principalmente no ato final da trama. Essa mistura de humor e drama ele havia provado que conseguia fazer em Crimes e Pecados (1989), provado novamente em Ponto Final - Match Point (2005) e aqui, atingindo um novo patamar dessa mistura. 
Com uma câmera elegante que jamais perde o foco das ações dos seus personagens, Woody Allen nos brinda com um filme cujo final nos faz querer saber qual seria o próximo passo de cada um deles, principalmente com relação à Jasmine. Personagem afetada não somente pelas ações de pessoas próximas, como também desconstruída por não ter sabido administrar as suas próprias ações e criando um universo no qual ela se isola e se separa do mundo cinzento que ela tenta desvencilhar.

21 de novembro de 2013

Jogos Vorazes: Em Chamas (2013)

A crítica a "The Hunger Games: Catching Fire" foi enviada pelo Marcelo Castro Moraes, do blog Cinema Cem Anos de Luz. Confira:

Vivemos atualmente numa sociedade cada vez mais alienados por reality shows cada vez mais vazios e por uma política, que embora seja uma república, não consegue esconder o fato de sempre querer cobrir os fatos para o público em geral. Se no nosso país vivemos desse problema, o que dizer então de potencias como os EUA que ficam de olho no que o cidadão e outros lideres fazem no seu dia a dia? Não é de se admirar que mais cedo ou mais tarde nos cheguemos ao ponto do que foi mostrado na obra 1984, em que a liberdade e a privacidade deixam de existir!Portanto, é de se tirar o chapéu para a franquia Jogos Vorazes que, além de serem filmes com o intuito de puxar uma grande fatia do público, dá espaço para inúmeras reflexões. Se fossemos resumir a franquia como um todo, seria espécie de metáfora com relação a nossa sociedade contemporânea e do perigo sobre até onde ela pode chegar. O resultado final, por enquanto, são filmes que entretém, mas que faz com que o jovem, ou adulto, saia refletindo com relação ao que acabou de assistir.

Não se esquecendo de nenhum momento dos fatos que haviam acontecido no filme anterior, a trama dessa seqüência continua exatamente aonde havia parado. Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) sente as conseqüências da sua vitória no jogo anterior e por ter se tornado uma espécie de esperança para todos os distritos que desejam a liberdade. Ao mesmo tempo, President Snow (Donald Sutherland) arma um esquema junto com Plutarch Heavensbee (Philip Seymour Hoffman) para reunir os vitoriosos dos últimos jogos e fazer com que eles se digladiem até a morte.

Embora no filme anterior a temática sobre um governo autoritário com mão de ferro se destacava de uma forma um tanto amena, aqui as questões políticas desse futuro sombrio são ampliadas. Dessa vez,  fazem com que os próprios mortais jogos se tornem um certo alivio para o espectador, que sevsente, a todo o momento, apreensivo com relação aos destinos dos personagens, mesmo antes da competição. Em principio, muitos se sentiam receosos ao fato desse lado político com um destaque maior pudesse aborrecer o público em geral, mas é graças ao bom ritmo que a trama apresenta e pelo ótimo desempenho de cada um do elenco que se tem um filme diferenciado.
Essa apreensão pelos personagens se deve principalmente pela presença sinistra do maquiavélico President Snow, numa interpretação magnética do veterano Donald Sutherland e de Plutarch Heavensbee, interpretado de forma opressora por Philip Seymour Hoffman, mas que não esconde certa ambiguidade com relação ao personagem, sendo que suas reais intenções serão somente reveladas nos últimos minutos de filme. Como sempre, Jennifer Lawrence carrega todo o filme nas costas, ao interpretar uma Katniss Everdeen marcada pelas conseqüências do filme anterior e ao mesmo tempo tendo que carregar a chama de esperança que o seu povo tende endeusar. Embora ela deseje ajudá-los, ela preferia estar livre disso a todo o momento. Lawrence, aliás, não cai na armadilha da mesmice. Ela consegue passar para a sua personagem um equilíbrio correto com relação aos seus sentimentos por Peeta Mellark (Josh Hutcherson) e Gale Hawthorne (Liam Hemsworth), já que isso não é o foco principal, sendo que ela tem coisas muito maiores ainda para se preocupar, como a possível perda de entes queridos a sua volta. A cena em que ela vê um personagem próximo a ela ser morto devido as suas ações, é sem duvida um dos momentos mais tristes e angustiantes da franquia até aqui.
Já a parte dos jogos em si, se por um lado se tornaram um tanto que menos violentos visualmente - se comparado ao filme anterior - por outro, se tornaram muito mais fatais, rendendo inúmeros momentos imprevisíveis e que fazem com que os personagens se vêem na corda bamba a todo o momento. Entretanto, diferente de seu antecessor, o casal central decide fazer amizade com alguns competidores, o que torna ainda mais terrível o fato de fazer aliança com pessoas que no fim das contas serão forçadas a ter que matá-las. Para a surpresa de muitos, o final desse jogo mortal acaba de uma forma imprevisível, fazendo com que os destinos de alguns personagens se tornem indefinidos.

Para os desavisados, o final de Jogos Vorazes: Em Chamas fará com que muitos saiam das salas do cinema 'chiando', mas desejando o quanto antes o próximo filme. O terceiro título da franquia será dividido em duas partes. Resta saber se a qualidade e o bom ritmo desses últimos filmes irá se estender nos próximos, que novamente serão comandados por Francis Lawrence.

Publicado originalmente no Cinema Sem Anos Luz.


E aí, o que achou do texto do Constantine? Comente!

19 de novembro de 2013

A Princesa e Kassandra: Um paralelo incrível!

No dia 16 de novembro tive o imenso prazer de assistir aos curtas "A Princesa" e "Kassandra", no Santander Cultural, no Centro de Porto Alegre. O evento fazia parte da programação da Feira do Livro de Porto Alegre (a maior feira cultural a céu aberto da América Latina... quiçá do mundo, como tudo em Porto Alegre) e contava ainda com um debate ao final da exibição com os diretores e roteiristas dos dois filmes.
Da esq para a direita: Rafael Duarte,Taísa Ennes Marques, Kate Schneider, 
a mediadora do debate, Ulisses da Motta Costa e Roger Monteiro. Fonte: kassandrafilme.blogspot,com.br
Antes de falar de cada filme há de se destacar algumas coincidências entre eles que os tornaram concorrentes diretos, mas também complemento um do outro. Ambos se posicionam fortemente sobre um debate feminista, cada um à sua forma: A Princesa mostra uma mulher que deseja se encaixar num mundo "machista", que exige a perfeição feminina, enquanto Kassandra quer se libertar. Ambos utilizam um pássaro numa gaiola como metáfora do desejo de liberdade; os dois utilizam-se de uma violência explícita para encerrar o drama; e ambos foram exibidos no Festival de Gramado de 2013, sem conhecimento um do outro, além de outros aspectos mais técnicos.
O primeiro curta exibido foi A Princesa, de Rafael Duarte e Taísa Ennes Marques, da Machina Filmes. O curta trata da ansiedade de uma jovem em estar esteticamente perfeita num mundo real, urbanizado. Ela esconde seus defeitos, não importando quanta dor possa custar, enquanto suas ações dialogam com seu desejo de liberdade em um um mundo de beleza fantástica e natural, mas irreal. A estética do filme remete diretamente aos contos de fada clássicos: Rapunzel, Cinderela, Chapeuzinho Vermelho, etc. e isso é facilmente identificado nas cenas. No entanto, o curta tem uma ar de obra-prima por toda a composição da fotografia, que é esplendorosa; dos efeitos visuais - sem comparação com outras produções nacionais; uma pós-produção extremamente eficiente, além de uma magnífica trilha sonora, composta pelo próprio Rafael, que bebeu diretamente na fonte de Vangelis em Blade Runner (que ele veio a me confirmar no fim do evento). O curta, sem falas, apresenta a belíssima atriz Aline Jones como a Princesa, papel que lhe rendeu o prêmio de Melhor Atriz em Gramado. Sua beleza e talento, me levam a compará-la diretamente com Jennifer Lawrence. Como se não bastasse a emoção da qualidade visual, o filme arrebata com um final dilacerante. Apesar de ser perfeito tecnicamente, a obra é pura emoção.
Kassandra, de Ulisses da Mota Costa e Roger Monteiro foi exibido em seguida. O suspense retrata o drama de uma jovem com distúrbios psicológicos, aparentemente sofrendo de alucinações e que passou por alguma espécie de trauma que a impossibilita de falar. Vivendo em meio há homens que demonstram querer controlar suas ações, ela anseia por um momento de reação que a faça se libertar de todo o sofrimento. Durante o debate, Ulisses comentou que, curiosamente, se inspirou muito nas pinturas de William Blake para compor a estética do filme. Todo em preto e branco, é realmente difícil perceber alguma referência ao pintor inglês do século XVIII. Apesar de Ulisses considerar que a fotografia ficou atemporal, pessoalmente senti uma forte influência de Hitchcock. Posso estar enganado, mas a distribuição de tons, quase um cinza monocromático na cena em que Kassandra está próxima à gaiola, me direcionou à composição de Psicose. Além disso, os cortes impossibilitavam ao espectador supor o que aconteceria na próxima cena, especialidade de Hitchcock: quando uma porta está entreaberta neste curta, você fica tenso tentando supor se vai aparecer uma alucinação ou se a porta vai simplesmente bater e te dar um tremendo susto. Além disso, a estética geral, no contra-ponto entre luz e sombra, se refere obviamente ao expressionismo alemão, minha escola favorita. A atriz Renata Stein, por sua vez, demonstra que também sofreu psicologicamente - e até fisicamente - para vestir a personagem em sua essência; os outros atores, no entanto, deixam um pouco a desejar, em uma atuação com diálogos precisos demais, tirando a naturalidade de um diálogo. O filme ganhou o prêmio de Melhor Fotografia no festival de Gramado, mas deveria ter ganhado alguma menção pela qualidade do som, cuja mixagem ficou totalmente excelente.

Ambos tratam de forma similar e completamente distinta um mesmo tema: o sofrimento da mulher em um mundo controlado pela vantagem masculina da força física. O que considero mais louvável em ambos, ao mesmo tempo, é que eles não se referem especificamente a lugar nenhum, podendo ser assistido e compreendido em qualquer cultura que trate desse drama.

Não poderia, entretanto, deixar de me posicionar. Apesar de Kassandra ter ganhado prêmio sobre fotografia, a exibição de A Princesa me emocionou de uma forma como não sentia desde que vi A Árvore da Vida, de Terrence Malick. Quando possível, assista a estes ícones do cinema gaúcho, exemplos do potencial que temos para o país, independente de incentivos governamentais.

Confira abaixo os trailer de cada um.

Até a próxima!



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