26 de dezembro de 2013

SOLIDÕES (2013)

Em seu segundo longa metragem (o primeiro foi Léo e Bia) Oswaldo Montenegro explora várias facetas da solidão que, aliás, está presente em algumas de suas músicas. Em pouco mais de uma hora e meia de projeção, somos pegos em uma enorme teia de eventos, de inúmeros personagens, onde o principal tema é a solidão desses seres: o homem (Pedro Nercessian) que encontra uma versão de sua vinda em uma realidade alternativa. Uma garota (Vanessa Giácomo) que tem amnésia após - segundo ela - ter tido um ataque de raiva. Um garçom (Eduardo Canto) que coleciona frases e compartilha com uma solitária no bar (Kamila Pistori). Músico cheio de talento tentando a sorte o quanto pode na cidade carioca e dentre outras historias. 

O roteiro feito pelo próprio cantor, usa inúmeras metáforas para se discutir os significados sobre a solidão. Algumas acertam ao adicionar uma grande dose de profundidade e que fazem o espectador se emocionar, principalmente na participação de figuras ilustres do nosso país, como o nosso velho palhaço Cocada. Claro que nem todas as passagens onde se procura o significado da solidão ou sobre o que é solitário na vida, acaba meio que soando forçado demais. Bom exemplo disso é quando o personagem de Pedro Nercessian está conversando com sua contra-parte, cita inúmeras coisas que são solitárias, mas que, por vezes, não faz muito sentido. 

Em contrapartida, a trama é repleta de frases engenhosas, por exemplo: "Ilha é aquele pedaço de mim que sobrou de tudo o mais que foi destruído". Além disso, o filme é repleto de músicas inspiradas, nas quais a maioria delas é composta ou cantadas pelo próprio Oswaldo Montenegro. São essas músicas, mais a trilha sonora e uma fotografia caprichada, que fazem com que o filme jamais perca o ritmo. 
Não há como se esquecer da engenhosa montagem feita pela equipe, que faz com que as inúmeras sub-tramas fluam muito bem, uma sobre a outra, jamais fazendo com que o espectador se perca durante o percurso. Devido a isso, o filme pode soar até mesmo como um verdadeiro "clipão", ou musical, mas no saldo geral o filme é uma mistura de tudo um pouco, chegando até mesmo, em algumas passagens, parecer um documentário. Bom exemplo disso são os depoimentos de pessoas comuns sobre o que é para elas o significado da palavra solidão, sendo que algumas são emocionantes e outras muito engraçadas. 

Embora sendo curto o filme (inicialmente seriam quatro horas de duração), cada ator tem os seus personagens bem aproveitados durante a trama. Merecem destaque os ótimos desempenhos de Vanessa Giácomo, Kamila Pistori e Pedro Nercessian. Contudo, quem rouba a cena é próprio Oswaldo Montenegro ao interpretar ninguém mesmo que o Diabo, em uma das melhores passagens do longa. 
Bonito, frenético,  inteligente e reflexivo, Solidões nada mais é do que uma obra experimental que foi muito além disso, provando que o nosso cinema tem muito mais a oferecer do que podemos imaginar. Basta ter empenho e teimosia como o Oswaldo Montenegro em querer ir contra a maré do cinema convencional.


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