25 de abril de 2014

Documentário “O Poder entre as grades” estreia 25 de Abril

Nova produção da Panda Filmes, com direção de Tatiana Sager e Zeca Brito, tem a história do crime organizado no RS e do Presídio Central de Porto Alegre como narrativa principal. O filme é baseado na obra Falange Gaúcha, do jornalista Renato Dorneles. 
O dia-a-dia no Presídio Central de Porto Alegre, considerado o berço do crime organizado no RS, e o poder das facções criminosas, que contribuíram para a evolução do crime organizado no Rio Grande do Sul, serão parte central da narrativa do documentário “O Poder entre as grades”, que estreia no dia 25 de Abril na TVE. 

O Presídio Central de Porto Alegre (PCPA) já foi considerado a pior penitenciária do país, segundo a conclusão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Sistema Carcerário, da Câmara dos Deputados, instaurada em 2008. E até hoje a penitenciária, que abriga 4.591 presos, mas com capacidade para apenas 1.984 detentos, é vista como a pior unidade prisional do Brasil. 
Presídios mal estruturados e superlotados tem sido uma realidade comum em todo país. No início desse ano, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) notificou o governo brasileiro a adotar medidas cautelares que garantam a integridade dos detentos do Presídio Central, em Porto Alegre (RS). A comissão pediu a redução do número de presos no local, a garantia de higiene e tratamento médico aos apenados, além da recuperação do controle da segurança em todas as áreas do Presídio, que segue nas mãos de facções criminosas. 
Dessa forma, o documentário, inspirado no livro “Falange Gaúcha”, fruto da experiência do jornalista Renato Dorneles como repórter policial, torna-se atual e necessário ao expor essa realidade. A partir do dia 22 de Abril, a TVE vai exibir produções audiovisuais inéditas, realizadas por produtoras do RS e viabilizadas com financiamento do Fundo de Apoio à Cultura. Entre os 12 documentários, que serão exibidos no programa “Documenta Rio Grande”, está “O Poder entre as grades”, de produção da Panda Filmes com direção de Tatiana Sager e Zeca Brito. O filme será exibido na sexta-feira às 20h, e terá reprise na madrugada de sábado para domingo, às 00h30 e 1h, e no domingo às 15h30. O documentário foi um dos ganhadores do edital Rio Grande do Sul - Pólo Audiovisual, do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) de 2012, que destinou, para a produção dos documentários e minisséries, R$ 1,26 milhão às produtoras do Rio Grande do Sul. 

RENATO DORNELES 
Renato Dorneles faz reportagem policial no Estado há 22 anos. Desde o assassinato do deputado José Daudt, participou das principais coberturas policiais, motins no Presídio Central, sequestros, fugas, assassinatos. O resultado desta experiência está contido no livro “Falange Gaúcha – O Presídio Central e a história do crime organizado no RS”, lançado em 2008. Em 2007, Renato também ganhou o Prêmio ARI de Jornalismo, por uma série de reportagens baseadas na mesma temática e publicadas no Jornal Diário Gaúcho, onde atualmente trabalha como colunista e Editor Assistente na Editoria de Dia a dia. 

Assessoria de Imprensa 
Calvin Furtado e Paola Rodrigues

24 de abril de 2014

SAUDOSISMO OU FALTA DE CRIATIVIDADE?

O que está acontecendo com o universo do cinema? Estamos saudosos, querendo reviver sucessos ou a criatividade encontrou seu apogeu e ruma à ruína?

É comum aos grandes estúdios de Hollywood engatarem sequências de grandes sucessos, daí surgem as grandes sagas. Também não é raro reproduzirem outros títulos, os tais remakes; algumas das mais renomadas obras do cinema são, na verdade, remakes: Os Infiltrados; Cabo do Medo; Professor Alopradro; A Múmia; Scarface, inclusive o gingante Ben-Hur, de 1959, se baseou no longa de 1925. E isso parece que vem ganhando mais força nos últimos anos, o que gera certa revolta com os fãs de alguns clássicos, como Sexta-feira, 13, O Grande Gatsby e o novo Robocop, por exemplo. No entanto, os jovens cinéfilos parecem ter uma ansiedade em descartar o antigo e abraçar sempre o mais novo, muito mais pela qualidade da imagem, do que por outros fatores como direção e atuação; Um exemplo que cria conflito é Bravura Indômita, o clássico com John Wayne que foi magnificamente refeito com Jeff Bridges e não se tira o mérito de nenhum dos dois.
John Wayne / Jeff Bridges: True Grit
Porém, mais estranho ainda, penso, é quando decidem fazer sequência de algum clássico, muitos e muitos anos depois. Recentemente revistamos alguns dinossauros do cinema: Sylvester Stallone voltou mais uma vez como Rocky Balboa e Rambo, seus mais emblemáticos personagens, e já se fala em mais um filme para cada personagem: Rocky seria o treinador do filho de Apollo, seu maior rival; e Rambo passaria por um recomeço, com outro ator no papel. Tivemos também Harrison Ford de volta como Indiana Jones, já está confirmada sua participação como Han Solo em Guerra Nas Estrelas Ep. VII (em 2015) e especula-se sobre a continuação de Blade Runner (este último, mais provável sem Ford),
Sylvester Stallone em Rambo III (1988) e Rambo IV (2008)
Além de tudo isso, há inúmeros fãs que pedem sequências de seus filmes favoritos. Há um abaixo-assinado na internet para uma quarta parte de O Poderoso Chefão, a ser liderada por Andy Garcia como Don (Vincent Mancini) Corleone, mesmo o diretor Francis Ford Coppola tendo reafirmado diversas vezes que isso é impossível (George Lucas falava o mesmo sobre Star Wars e voilá! teremos o Episódio VII); Outros tantos, choram pelos Caça-Fantasmas não terem efetivado uma trilogia, ainda mais difícil após o falecimento de Harold Ramis, o cientista Egon, que também era o roteirista do filme... fala-se sobre um reboot ou uma terceira parte com uma nova geração a ser treinada por Bill Murray e Dan Aykroyd. Da mesma forma, o clássico da Sessão da Tarde Curtindo a vida adoidado nunca recebeu mais do que uma homenagem em um comercial da Honda durante comercial do Super Bowl em 2012, o que, somado ao falecimento do diretor e roteirista John Hughes, dá a entender que nunca teremos uma continuação com Matthew Broderick no papel mais velho de Ferris Bueller.
Andy Garcia, empossado como Don em Godfather Part III
Agora, a novidade que sacudiu os fãs da sessão pipoca é a confirmação de Os Goonies 2 pelos próprios Richard Donner e Steven Spielberg, que trabalharam no primeiro filme, em 1984. Ainda não divulgaram nada sobre o roteiro, mas a ideia é trazer todo o elenco de volta: Sean Astin, Josh Brolin e Corey Feldman, entre e outros; o que deixa ainda mais curioso, pois todos já estão com mais de 40 anos.
Fora isso, a lista de remakes e sequências parece interminável. Saudosismo ou falta de criatividade? Acredito que um pouco dos dois. O mesmo acontece com produções nacionais, que saem das novelas globais e viram filmes... ou um longa que deu super certo e aí inventam um roteiro raso para uma sequência (Os Normais 2, Como se fosse você 2), mas alguns até superam o primeiro (só Tropa de Elite 2 mesmo). Fato é que o objetivo da indústria cinematográfica é sempre o entretenimento... se conseguirem juntar um pouquinho de arte, melhor ainda. Sobra para nós, reles mortais, ficar na expectativa.

Até a próxima!

22 de abril de 2014

NOÉ (Noah, 2014)

É necessidade do cinema americano reciclar certos gêneros já esquecidos para, assim, conquistar o público atual. Pelo visto, os épicos religiosos, que tanto fizeram sucesso no passado (vide Os Dez Mandamentos) parecem ser a bola da vez. Mas a pergunta que fica no ar é: como conquistar a atenção de um público jovem cada vez mais descrente de certos temas pregados pela bíblia? A resposta é simples: exagere!

Não que o trabalho do genial Darren Aronofsky (de Cisne Negro) tenha se transformado num verdadeiro videogame com teor bíblico, mas está na cara, do começo ao fim, que o filme foi moldado para atrair um público acostumado a grandes espetáculos: Noé (Russell Crowe) está longe de ser aquela imagem de um velho sábio, mas sim com um visual de herói forte e que não mede esforços em seguir o que acredita (através de visões e sonhos). E se muitas pessoas duvidam que esse filme não é para o público jovem inquieto, o que dizer dos anjos caídos, que defendem a arca, transformados em gigantes de pedra, que parecem mais saídos de um filme do Senhor dos Anéis. 

Embora com essas apelações forçadas, Aronofsky conhece o vespeiro em que se meteu e quis, então, tanto agradar o público "pipoca", como também as pessoas que seguem cegamente a bíblia. Bom exemplo é a sequencia que Noé conta a origem da vida, através de belas imagens com desenhos tradicionais e que sintetizam a maneira que os povos da antiguidade enxergavam as escrituras. Não há como negar que o filme, em si, segue a risca a maneira que certas religiões gostariam de ver no filme, mas fica a pergunta se eles engoliriam o fato do filme tentar agradar tanto eles como o público interessado somente num grande espetáculo.
Felizmente, o elenco também é um ponto que salva o filme da negatividade completa: Russell Crowe não está muito diferente de seus desempenhos como herói visto em filmes como Gladiador e O Homem de Aço. No entanto, se por um lado não existe originalidade em sua interpretação como Noé, felizmente isso não prejudica o resultado final, principalmente em momentos chaves que exigem mais do seu talento. Embora estando em segundo plano, Jennifer Connelly está à vontade ao interpretar a esposa de Noé e a química de ambos funciona muito bem, pois, afinal, ambos já haviam trabalhado juntos em Uma Mente Brilhante. Emma Watson (de Harry Potter) surpreende num papel dramático, ao interpretar a filha adotiva de Noé que fará com que o protagonista teste a sua própria fé e lealdade perante Deus. 

Em suma, NOÉ é um exemplo do desespero de Hollywood ao tentar agradar todos os públicos, seja ele novo ou velho. Embora o resultado seja mais positivo do que qualquer outra coisa, resta saber se essa fórmula durará por muito tempo.


14 de abril de 2014

CAPITÃO AMÉRICA 2: O SOLDADO INVERNAL (2014)

Embora tenha se tornado recentemente uma das marcas mais bem sucedidas do cinema atual, muitos ainda criticam com o fato do estúdio Marvel não querer se arriscar com os seus filmes. Ao apresentar sempre uma produção redondinha, com começo, meio e fim, os filmes são, por vezes, previsíveis demais. Por talvez ouvir essas críticas, o estúdio finalmente decidiu se arriscar e ir além da sua fórmula de sucesso, que embora o termo "arriscar" seja um tiro no pé no cinema americano atual, não custa também, pelo menos, tentar somente uma vez. Capitão América 2 - O Soldado Invernal é o primeiro filme que o estúdio se arrisca e pelo visto, de uma maneira muito bem sucedida.

Embora seja sequência da aventura anterior do Capitão (e dos eventos vistos em outros filmes como Vingadores) o clima por aqui não está pra brincadeira e o protagonista já parte para uma missão comandada pela SHIELD, mal sabendo ele das verdades que descobriria a seguir. Com um clima de filme de espionagem, que por vezes lembra muito o própio gênero que fazia sucesso na década 70, o filme entra num território ainda inédito, que é de não se confiar em ninguém, tão pouco em seus próprios aliados. No final das contas, o filme é uma metáfora sobre os nossos lideres do mundo atual que, por vezes, não são exatamente eles que puxam as cordinhas na hora de dar as ordens. 

Com isso, não somente o protagonista, como também os poucos aliados que lhe restam, se vêem envolvidos numa verdadeira caçada, onde ninguém está a salvo: a sequência em que o líder da SHIELD, Nik Fury (por Samuel L. Jackson) é perseguido por pessoas que se dizem da polícia, já dá uma bela dica do que virá a seguir. Essa sequência de ação, aliás, é espetacular e não deve nada aos outros filmes de perseguição como a genial trilogia Bourne.
Ainda nesta bela e bem dirigida sequência de cenas, nos é apresentado o que talvez seja o mais trágico vilão (ou anti-herói) do estúdio Marvel até aqui, o Soldado Invernal, interpretado pelo ator Sebastian Stan; o personagem na verdade é ninguém menos que Bucky Barnes. Colega de Steve Rogers no primeiro filme, o rapaz cai do alto de uma montanha rumo à morte aparente. No entanto, assim como nos quadrinhos, seu corpo congelado acaba resgatado pelos inimigos do Capitão, ainda com vida, mas sem um braço e sem memória. Visualmente, o personagem tem o mesmo porte ameaçador e solitário visto nos quadrinhos, mas que não esconde um conflito interno de não saber exatamente quem ou o que é. 

Dramas à parte, o herói precisa se aliar com aqueles que ele realmente confia. Aí, então, surgem velhos conhecidos e novos aliados: Scarlett Johansson novamente se sai muito bem como a heroína Viúva Negra, mas que, aqui, cada vez mais é revelado o seu passado nebuloso, assim como o lado podre escondido da SHIELD. Anthony Mackie se torna uma grata surpresa, ao interpretar o herói Falcão e braço direito do Capitão. Da ala dos que pode ou não confiar, Robert Redford surge como um dos chefões da SHIELD de uma forma ambígua, mas que não demora muito para revelar suas reais intenções. 

Em meio a revelações e traições, o clima de imprevisibilidade toma conta do filme do começo ao fim, onde mortes acontecem de uma forma desenfreada e que acabamos até mesmo temendo pelo destinos de nossos heróis. Os diretores Anthony Russo e Joe Russo, que antes somente cineastas de filmes de comédias, mostram o que sabem fazer de melhor, criando belas cenas de ação e luta, que não devem nada ao que Paul Greengrass fez, na já citada aqui, trilogia de Bourne como exemplo. Se acham que eu estou exagerando nas comparações, esperem para ver a sequência em que o Soldado Invernal caça, sem dó, o Capitão em companhia, onde, pela montagem e efeitos visuais, se cria um verdadeiro balé visual de tirar o folego de qualquer um. 

Com as habituais cenas finais que revelam que o melhor estar por vir (Vingadores 2?), Capitão América 2 - O Soldado Invernal é uma prova que o estúdio Marvel não pretende tão cedo largar o osso, pois ao dar um passo à frente nesta nova aventura do herói bandeiroso, ficamos nos perguntando o que de melhor virá a seguir na casa das ideias. Vai ficar sempre chupando o dedo DC/Warner?


8 de abril de 2014

NEBRASKA (2013)

Alexander Payne gosta de criar um filme, cuja trama investiga o lado bom e ruim de uma família que, embora aparentemente normal, possui os seus defeitos escondidos num armário. Foi assim no seu último filme Os Descendentes e aqui, em Nebraska, não é diferente; usando o cenário do gênero Road Movie como uma espécie de "sessão de terapia" para os protagonistas se redescobrirem. No caso aqui é o filho que não compreende o pai, assim como o pai não compreende o filho, mas que, no final das contas, se amam. 

A trama mostra Woody Grant (Bruce Dern) obcecado em querer ir a Nebraska, acreditando cegamente que ganhou um milhão de dólares, o que torna-se o início de uma grande jornada. Durante o percurso, pai e filho David (Will Forte) acabam dando de encontro com o passado do primeiro, onde velhas lembranças são postas novamente na mesa e grandes revelações são colocadas à prova. O grande charme disso fica por conta de David, que começa a enxergar seu pai de uma forma diferente, a partir do momento que descobre mais de sua história, como, por exemplo, conhecer uma antiga paixão do seu velho.

Embora a bela fotografia passe uma sensação de frieza naquele mundo que eles percorrem, boa parte da trama possui inúmeros momentos de humor inesperado, sendo que boa parte deles se concentra nos amigos e familiares que eles acabam encontrando. O filme é corajoso em não esconder o fato de que os laços de sangue se tornam insignificantes para alguns, principalmente no momento que o assunto 'dinheiro' surge em cena. Com isso, o filme nos brinda com momentos hilários em que determinados parentes começam a cobrar do protagonista certo favores do passado, por acreditarem que ele realmente ganhou um milhão de dólares.
Apesar da decepção ao encarar as verdadeiras intenções de alguns familiares, o filme também passa a mensagem da preservação da memória dos entes queridos que já se foram a tempos. Bom exemplo disso é quando pai, filho e mais a mãe (June Squibb) visitam o cemitério da família, onde cada lápide possui um nome e uma história para se contar. Embora seja uma sequência de reflexão, a personagem de June Squibb nos brinda com um momento imprevisível, mas, ao mesmo tempo, hilário.

Com uma bela química entre todo o elenco, principalmente da dupla pai e filho, Nebraska passa uma leve sensação dos melhores momentos do cinema americano dos anos 70; filmes como A Última Sessão de Cinema passaram facilmente pela minha cabeça durante a exibição de Nebraska. O antigo símbolo da Paramount, apresentado no início do filme, dá uma bela dica do que viríamos no decorrer de duas horas de projeção.


7 de abril de 2014

WRONG (2012)

Pode-se imaginar um pneu de carro como protagonista de um filme? Foi mais ou menos isso que o diretor Quentin Dupieux havia apresentado em seu primeiro filme em 2010, chamado Rubber e que deu o que falar. Como resultado, muitos esperavam que o seu próximo filme fosse no mínimo mais bizarro do que aquilo, mas, no fim das contas, ele seguiu pela fórmula mais tradicional de se contar uma história em Wrong, porém não menos inusitada.

Se formos simplificar, Wrong seria um filme que vai contra as expectativas do espectador. Vejamos: um furgão está queimando na estrada, mas, em vez dos bombeiros fazerem alguma coisa, eles ficam relaxados jogando a conversa fora e um deles chega ao cúmulo de ficar sentado na privada lendo jornal enquanto o veículo continua pegando fogo. Mas nada supera quando o protagonista, Dolph (Jack Plotnick), vai para o seu trabalho (área de turismo), mas quando chega lá no escritório está sempre chovendo, lá dentro. 

Talvez essas situações que nos são apresentadas, façam com que a gente não ache tão absurdo o fato de o protagonista ficar tão dependente do seu cachorro que, por sinal, desaparece no início do filme, culminando numa série de eventos que irão afetar não só a ele, como outros que se encontram a sua volta. No momento em que o cachorro some, Dolph age das formas mais estranhas possíveis, dando a entender que, talvez, haja uma conspiração contra ele. Isso culmina na ligação que ele faz para uma atendente de pizzaria, sendo que esta última (interpretada por Alexis Dziena) fique perdidamente apaixonada por ele mesmo sem vê-lo.

Através dessa atendente compreendemos que o diretor quer passar um recado sobre o fato de que as pessoas estão cada vez mais carentes atualmente, mesmo que exista cada vez mais a ideia de cada um querer a sua independência e não ficar muito prisioneiro da pessoa próxima. Neste último caso, isso é muito bem representado pelo jardineiro de Dolph (interpretado por Eric Judor) que, embora tenha tal profissão, vai também contra a expectativa do cinéfilo, pois ele fala francês e fica desenhando a todo o momento com relação ao que vê. Por ele, vemos a representação do homem que busca diversão rápida e que não deseja nenhum compromisso, sendo que a própria ideia de se sentir preso a uma pessoa próxima, lhe faz provocar um pesadelo no mínimo desconcertante.
Tem-se então uma verdadeira teia de eventos sobre carência, a falta de afeto e o que faz da pessoa querer encontrar tudo isso através do seu bicho de estimação. O que acaba então se criando é um elo mental entre o dono e o animal, que por sinal, é exemplificado pelo personagem Master Chang (William Fichtner), que se torna peça fundamental para os eventos que acontecem durante o filme. Tudo isso moldado num humor negro delicioso, onde os personagens interagem de uma forma como se estivessem numa realidade que não pertence a eles, e que faz com que desejem não estar ali naquele momento.

Pode-se dizer que até pode ter um final feliz na jornada de Dolph com relação à busca pelo seu cão, mas ao término da sessão, se tem a leve sensação de que aqueles personagens estão mais sozinhos naquele mundo do que nunca. Dá a entender que as pequenas coisas da vida tornam-se o essencial para as pessoas terem, no mínimo, um pouco de felicidade na sua vida confusa e que, no fundo, não desejam estarem nesta posição.


4 de abril de 2014

GLORIA (2013)

Uma mulher comum, madura, separada do marido já há alguns anos e com dois filhos adultos. Por esta pequena descrição, pode-se ter uma noção não muito complexa sobre a protagonista do filme do diretor chileno Sebastián Lelio. Contudo, esta personagem interpretada por Paulina García, aos poucos, conquista o espectador e mostra seu modo independente, livre e desafiador diante da vida.

Com filhos já independentes e sem ter o que fazer à noite depois do trabalho, Gloria frequenta bailes voltados para a terceira idade: lá se diverte dançando e conhece homens que, invariavelmente a decepcionam. Um dia, no entanto, ela encontra Rodolfo (Sergio Hernández) de 65 anos, ex-militar da marinha, recém-divorciado, e eles começam a ter uma relação mais próxima. No entanto, as diferenças de comportamento e de visão de mundo interferem no relacionamento deles.

Claudia deseja compartilhar Rodolfo com a sua família, mas ela não soube exatamente como fazer isso. Da mesma forma que Rodolfo não soube medir as consequências de suas atitudes no mesmo dia que conhece a família dela, gerando então uma situação embaraçosa. O filme acaba criando certa expectativa a cada cena, pois ficamos nos perguntando qual vai ser a reação desse improvável casal, de acordo com as atitudes um do outro. 

O mérito do filme chileno é não transformar as situações em dramas comuns, como normalmente tem acontecido no cinema atual. Por evitar isso, acaba sendo muito linear e apresenta um ritmo que pode decepcionar alguns. Entretanto, se faz muito próximo do real.
Gloria não é um filme que possui um ritmo frenético, mas que nos conquista pela sua naturalidade rotina de uma pessoa comum e de como pequenas situações podem mudar o percurso de sua vida. No final das contas, é um filme que mostra-se um exemplo de dignidade e independência do ser humano que, embora chegue numa idade avançada, consegue saber ser feliz. Em um longa-metragem que se explora um drama com um certo humor, o realizador acerta ao expor o sexo na terceira idade sem vergonha nenhuma e com total naturalidade.


3 de abril de 2014

O GRANDE HERÓI (Lone Survivor, 2013)

O Grande Herói possui um história rasa, mas não menos emocionante. Um filme que traz uma realidade crua sobre uma situação específica. A história é baseada no livro Lone Survivor, de Marcus Luttrel, um fuzileiro americano que conta sua história, de como sobreviveu no Afeganistão após uma missão mal sucedida.

O filme começa mostrando cenas reais, estilo documentário, do treinamento nada fácil de formação dos fuzileiros navais, os "homens-rã" como são apelidados. Após os créditos, o filme já se foca em grupo de militares que serão centrais na missão "Operação Asa Vermelha", que, 2005, tinha o objetivo de capturar ou matar o líder talibã Ahmad Shah.

Escondidos em uma montanha no coração do Afeganistão, observando um vilarejo onde o Shah pode estar escondido, o quatro militares, incluindo Luttrel, são surpreendidos por uma família de pastores e acabam fazendo deles prisioneiros. Neste ponto eles tem 3 opções: 1) Soltar os pastores e fugir montanha acima antes que o talibã seja avisado, mas seriam encontrados em menos de 1 hora; 2) Fugir para o alto da montanha e deixar os pastores amarrados em árvores, mas estes poderiam morrer de frio ou atacados por lobos; e 3) Eliminar o problema. Como heróis americanos de bom coração, eles escolhem a opção de nº 1.

A partir daí começa um grande conflito nas montanhas e a luta dos 4 amigos para sobreviver ao talibã. O mais impressionante do filme é o realismo das cenas, o som dos tiros ecoando nas montanhas, a frieza que é necessária para atirar em alguém e o desespero de quando se percebe estar cercado de inimigos por todos os lados. Você realmente compartilha psicologicamente da dor física extrema dos personagens levando tiros e quebrando ossos...

Fora isso, como falei a história é rasa... não há uma crítica do autor à política americana sobre guerras no exterior, não há uma busca por auto-conhecimento dos personagens... O filme, de fato, parece um documentário, pois está ali somente para relatar como se desenrolou a situação. No fim, fica apenas o sentimento de pena por tantos homens jovens que morrem na estupidez das guerras. 

Mark Wahlberg estrela o filme como Marcus Luttrell, o autor do livro, que se tornou uma fonte motivacional por suas lições sobre como a força do espírito humano é testada quando somos levados a nossos limites mentais e físicos.


1 de abril de 2014

JOVEM E BELA (Jeune & Jolie, 2013)

De uns tempos para cá, o cinema vem provando que o sexo não precisa ser um assunto delicado para não ser ouvido, pois ele é algo que existe no dia a dia de todos e, portanto, se deve ser tratado como algo comum, para não dizer banal. Até recentemente, as telas tem explorado o sexo com amor (Azul é a cor mais quente), sexo por prazer (Ninfomaníaca), sexo por esporte (O Lobo de Wall Street) e, agora, em Jovem e Bela, se o sexo não passa nenhuma coisa nem outra, então que se invente, para então se tirar algo de diferente. 

A jovem Isabelle (Marine Vacth) perde a virgindade com um rapaz que ela se interessou, mas ele não há fez gozar e tão pouco deu a ela algum prazer. Porém, uma vez perdida a inocência, ela decide usar sua beleza e juventude para atrair homens desesperados, para dar a eles algumas horas de sexo e, assim, ganhar alguns trocados. Isabelle trata o sexo como algo banal, frio, mas que, pelo menos, lhe traz algum lucro. 

É claro que esse universo livre e sem preconceito de Isabelle, vai de encontro com o bom senso vindo de sua mãe (Géraldine Pailhas), que, por sua vez, possui seus próprios segredos. Ao vermos a mãe repreendendo a filha, percebemos o quão hipócrita é aquele mundo em que a jovem vive, onde tudo é sustentado pelas aparências, mas que, no fundo, todos possuem um esqueleto no armário: do irmão mais jovem que vai descobrindo o mundo do sexo a partir das experiências da sua irmã, como o padrasto que silenciosamente enfrenta seus desejos que sente pela enteada. 
O filme, entretanto, não dita por completo que você “deite e role” com relação ao sexo, pois há sempre um porém com relação a tudo. Isabelle aprende que há certos limites, mas isso não faz com que mude de ideia sobre o que realmente quer daqui para frente. O final representa muito bem isso, principalmente com a participação especial da atriz Charlotte Rampling (de Eu, Anna) que dá um verdadeiro show de interpretação mesmo em poucos minutos e criando assim um novo passo para ser dado pela protagonista. 

Jovem e Bela pode ser interpretado de diversas formas, como uma representação da frieza que podemos chegar com relação a certos assuntos espinhosos, ou simplesmente levarmos em conta sobre esses assuntos e sem preconceito nenhum. Se o sexo é errado, então estamos todos queimando no inferno.


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