É necessidade do cinema americano reciclar certos gêneros já esquecidos para, assim, conquistar o público atual. Pelo visto, os épicos religiosos, que tanto fizeram sucesso no passado (vide Os Dez Mandamentos) parecem ser a bola da vez. Mas a pergunta que fica no ar é: como conquistar a atenção de um público jovem cada vez mais descrente de certos temas pregados pela bíblia? A resposta é simples: exagere!
Não que o trabalho do genial Darren Aronofsky (de Cisne Negro) tenha se transformado num verdadeiro videogame com teor bíblico, mas está na cara, do começo ao fim, que o filme foi moldado para atrair um público acostumado a grandes espetáculos: Noé (Russell Crowe) está longe de ser aquela imagem de um velho sábio, mas sim com um visual de herói forte e que não mede esforços em seguir o que acredita (através de visões e sonhos). E se muitas pessoas duvidam que esse filme não é para o público jovem inquieto, o que dizer dos anjos caídos, que defendem a arca, transformados em gigantes de pedra, que parecem mais saídos de um filme do Senhor dos Anéis.
Embora com essas apelações forçadas, Aronofsky conhece o vespeiro em que se meteu e quis, então, tanto agradar o público "pipoca", como também as pessoas que seguem cegamente a bíblia. Bom exemplo é a sequencia que Noé conta a origem da vida, através de belas imagens com desenhos tradicionais e que sintetizam a maneira que os povos da antiguidade enxergavam as escrituras. Não há como negar que o filme, em si, segue a risca a maneira que certas religiões gostariam de ver no filme, mas fica a pergunta se eles engoliriam o fato do filme tentar agradar tanto eles como o público interessado somente num grande espetáculo.
Felizmente, o elenco também é um ponto que salva o filme da negatividade completa: Russell Crowe não está muito diferente de seus desempenhos como herói visto em filmes como Gladiador e O Homem de Aço. No entanto, se por um lado não existe originalidade em sua interpretação como Noé, felizmente isso não prejudica o resultado final, principalmente em momentos chaves que exigem mais do seu talento. Embora estando em segundo plano, Jennifer Connelly está à vontade ao interpretar a esposa de Noé e a química de ambos funciona muito bem, pois, afinal, ambos já haviam trabalhado juntos em Uma Mente Brilhante. Emma Watson (de Harry Potter) surpreende num papel dramático, ao interpretar a filha adotiva de Noé que fará com que o protagonista teste a sua própria fé e lealdade perante Deus.
Em suma, NOÉ é um exemplo do desespero de Hollywood ao tentar agradar todos os públicos, seja ele novo ou velho. Embora o resultado seja mais positivo do que qualquer outra coisa, resta saber se essa fórmula durará por muito tempo.
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