Pode-se imaginar um pneu de carro como protagonista de um filme? Foi mais ou menos isso que o diretor Quentin Dupieux havia apresentado em seu primeiro filme em 2010, chamado Rubber e que deu o que falar. Como resultado, muitos esperavam que o seu próximo filme fosse no mínimo mais bizarro do que aquilo, mas, no fim das contas, ele seguiu pela fórmula mais tradicional de se contar uma história em Wrong, porém não menos inusitada.
Se formos simplificar, Wrong seria um filme que vai contra as expectativas do espectador. Vejamos: um furgão está queimando na estrada, mas, em vez dos bombeiros fazerem alguma coisa, eles ficam relaxados jogando a conversa fora e um deles chega ao cúmulo de ficar sentado na privada lendo jornal enquanto o veículo continua pegando fogo. Mas nada supera quando o protagonista, Dolph (Jack Plotnick), vai para o seu trabalho (área de turismo), mas quando chega lá no escritório está sempre chovendo, lá dentro.
Talvez essas situações que nos são apresentadas, façam com que a gente não ache tão absurdo o fato de o protagonista ficar tão dependente do seu cachorro que, por sinal, desaparece no início do filme, culminando numa série de eventos que irão afetar não só a ele, como outros que se encontram a sua volta. No momento em que o cachorro some, Dolph age das formas mais estranhas possíveis, dando a entender que, talvez, haja uma conspiração contra ele. Isso culmina na ligação que ele faz para uma atendente de pizzaria, sendo que esta última (interpretada por Alexis Dziena) fique perdidamente apaixonada por ele mesmo sem vê-lo.
Através dessa atendente compreendemos que o diretor quer passar um recado sobre o fato de que as pessoas estão cada vez mais carentes atualmente, mesmo que exista cada vez mais a ideia de cada um querer a sua independência e não ficar muito prisioneiro da pessoa próxima. Neste último caso, isso é muito bem representado pelo jardineiro de Dolph (interpretado por Eric Judor) que, embora tenha tal profissão, vai também contra a expectativa do cinéfilo, pois ele fala francês e fica desenhando a todo o momento com relação ao que vê. Por ele, vemos a representação do homem que busca diversão rápida e que não deseja nenhum compromisso, sendo que a própria ideia de se sentir preso a uma pessoa próxima, lhe faz provocar um pesadelo no mínimo desconcertante.
Tem-se então uma verdadeira teia de eventos sobre carência, a falta de afeto e o que faz da pessoa querer encontrar tudo isso através do seu bicho de estimação. O que acaba então se criando é um elo mental entre o dono e o animal, que por sinal, é exemplificado pelo personagem Master Chang (William Fichtner), que se torna peça fundamental para os eventos que acontecem durante o filme. Tudo isso moldado num humor negro delicioso, onde os personagens interagem de uma forma como se estivessem numa realidade que não pertence a eles, e que faz com que desejem não estar ali naquele momento.
Pode-se dizer que até pode ter um final feliz na jornada de Dolph com relação à busca pelo seu cão, mas ao término da sessão, se tem a leve sensação de que aqueles personagens estão mais sozinhos naquele mundo do que nunca. Dá a entender que as pequenas coisas da vida tornam-se o essencial para as pessoas terem, no mínimo, um pouco de felicidade na sua vida confusa e que, no fundo, não desejam estarem nesta posição.
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