22 de dezembro de 2014

ÊXODO: DEUSES E REIS (2014)

O novo longa-metragem dirigido por Ridley Scott recebe o título de Êxodo: Deuses e Reis e, conforme o nome diz, conta a história da libertação do povo hebreu que eram escravos dos egípcios. Para aqueles cinéfilos mais familiarizados com o clássico Os Dez Mandamentos, a trama é a mesma que a gente conhece. Sendo assim, veremos Moisés no exílio, tendo uma transformação de sua pessoa de numa forma gradual, até se tornar o libertador dos cativos, aliado com a chegada das pragas e o início para a liberdade.

Embora a trama se apresente de uma forma resumida, o filme nos convence, mesmo a gente sabendo de que, se tratando de um personagem histórico como Moisés, daria para fazer mais de um filme. A história como todos sabem é bíblica, mas logicamente passou por algumas adaptações nas mãos dos roteiristas, transformando diversas situações de uma forma mais realista. Certas coisas vistas na tela são diferentes do que está escrito no velho testamento, mas nem por isso o crente mais ferrenho irá deixar de gostar.

O curioso é observar da maneira como é mostrado as obras de Deus no filme, sendo num clima "pé no chão" ou melhor dizendo, num alto grau de verossimilhança. Pegamos, por exemplo, o primeiro encontro entre o protagonista e Deus: uma simples pedrada na cabeça pode de um lado levantar, tanto teorias científicas, como também uma forma de apresentar de um jeito mais convincente o possível (ou não) encontro com o todo poderoso. 

Embora eu goste dessa coragem de misturar fantasia e realismo, a impressão que se dá em alguns momentos, é o que filme não sabe que direção quer tomar. Porém é de se tirar o chapéu com relação aos efeitos especiais fantásticos, principalmente com relação a travessia do Mar Vermelho que, de todos os momentos, é o de maior grau de realismo e por isso mesmo se torna tão grandioso. A trilha sonora se casa muito bem com esses momentos onipresentes, mesmo quando eles se tornam forçados demais.

Entretanto, se um momento ou outro parece forçado, a trama tem a ousadia de se dividir entre ciência e crença: os conselheiros do faraó sempre dão imersão na ciência egípcia, que de fato sabiam muita coisa sobre medicina e a natureza. A própria travessia pelo Mar Vermelho segue um conceito que já foi explicado em diversos documentários mundo a fora. Com isso, se percebe a intenção dos roteiristas em agradar, tanto os que vivem da fé cega, como também da lógica, mas que infelizmente (e com razão) não agradou muito a critica internacional. Não culpo Ridley Scott por ter optado por essa escolha em agradar tudo e a todos, pois o próprio mundo em que hoje vivemos se encontra dividido entre a fé e a razão e o filme corresponde um pouco a esse dilema contemporâneo.

Polêmicas à parte, tecnicamente o filme é perfeito em termos de reconstituição. A começar pela ambientação, que foi pensada em fazer com que o público se sentisse vendo um retrato fiel daquele período. Além disso, o título retrata bem os vilarejos construídos em partes distantes, dando um contexto significativo à história. Os cenários internos também deixam claro como era a realidade dos escravos e é difícil encontrar algum defeito nesse quesito.

O figurino também foi feito de uma forma com que parecesse realmente saído daquela época: às vestimentas do Faraó e dos membros do conselho egípcio, juntando aqui a questão das armas, que ganha destaque na espada de Moisés, temos uma obra coerente e muito bem detalhada. As atuações dão vida aos personagens históricos, com destaque a Christian Bale como Moisés, que nos convence em quase todos os momentos durante a projeção, tanto nas cenas de ação, como em momentos em que exige uma dramatização maior do seu ser. Porém, os coadjuvantes não ficam muito atrás: Joel Edgerton (Ramses) tem um desempenho daqueles que fazem o restante do elenco em cena desaparecer e John Turturro (Seti) e Aaron Paul (Josué) não decepcionam nos seus respectivos papéis. Entretanto, não podemos desmerecer Ben Kingsley, Sigourney Weaver e a belíssima María Valverde.

Com pouco mais de duas horas e meia de duração, Êxodo: Deuses e Reis é um filme que nos prende do começo ao fim, mas fica a impressão se era realmente necessário haver mais outra versão sobre essa conhecida história para o cinema.


16 de dezembro de 2014

OPERAÇÃO BIG HERO (2014)

Transformers já teve ao todo quatro filmes para o cinema que, embora tenham sido sucessos de bilheteria, será lembrada como uma franquia que não tinha o que era essencial para agradar a critica em geral: emoção!

Emoção é a palavra de ordem para a mais nova animação da Disney, Operação Big Hero que, pela primeira vez, é uma animação com selo Marvel, já que a casa do Mickey explora uma da filiais japonesas da Casa das Ideias e que reúne o melhor dos dois mundos. Assistindo a esse filme se encontra elementos, tanto do que já foi visto em outras animações Disney, como também do que já foi visto em outras animações japonesas. Belo exemplo disso são os minutos iniciais, onde vem em nossa mente animações como Pokemon.

O próprio protagonista Hiro Hamada (voz de Ryan Potter) tem as tão conhecidas características de um tipico protagonista de animações japonesa: Cabelo preto (meio arrepiado), olhos grandes e roupa com partes vermelhas. Porém, a sua personalidade apresentada gradualmente no decorrer do filme, assim como o caminho que irá trilhar, lembra e muito os personagens típicos da Marvel como o Homem Aranha. Acima de tudo, o filme possui uma alta dose de mensagem positiva com relação a saber superar os obstáculos e realizar os seus sonhos.

Hiro tem um irmão chamado Tadashi (voz de Daniel Henney), que servirá de empurrão para que ele vá atrás do seus objetivos. Infelizmente Tadashi morre num (aparentemente) acidente, fazendo com que Hiro siga o caminho do herói que irá começar a percorrer, mesmo que num primeiro momento não era essa a sua real intenção. Nesse percurso, Hiro terá companhia da maior criação de seu irmão: Baymax!

Se eu cutuco na ferida com relação a Transformers, é pelo fato que, mesmo com inúmeros robôs apresentados na tela, nenhum é carismático e tão pouco nos passa vida. Já Baimax, mesmo sendo um robô, já nos conquista de imediato pela sua pureza, ingenuidade, visual (que lembra um boneco de marchimelo) e que nele, guarda o melhor do irmão de Hiro, literalmente. Os melhores momentos de humor do filme são protagonizados por Baymax, sendo que a cena que ele tapa os seus furos com fita adesiva é hilária.

Acima de tudo, Operação Big Hero é uma representação do domínio dos nerds nestes primeiros anos do século 21. Antes reclusos ao segundo plano do universo cultural, agora a maioria dos filmes de aventura, ficção e fantasia (na maioria baseada em HQ) são uma representação desse domínio que, vem gerando lucro aos estúdios, mas que felizmente tem rendido boas historias para nós. O grupo de amigos nerds de Hiro, onde cada um cria seus próprios trajes e poderes para combater o crime, é nada mais do que uma representação dessa mania sem precedentes.

Como todo o filme desse porte, há um vilão com segundas intenções. Porém, os roteiristas foram engenhosos em não cair no óbvio, sendo que a verdadeira identidade vilanesca e suas motivações são uma das grandes surpresas do filme. Aliás, o filme é carregado de inúmeras surpresas que, quando se acha que irá acontecer algo que nós já estamos montando em nossas mentes, sempre ocorre algo inesperado.

Em termos técnicos, Operação Big Hero mantem as mesmas qualidades de som e imagem dos últimos filmes da Disney, sendo que cada cena vista no decorrer da animação é de encher os olhos. Por ser um universo que reúne o melhor dos dois mundos, a cidade de San Fransokyo é uma mistura tanto de San Francisco como também de Tókio, gerando então um mosaico cultural dos dois países, sendo algo que somente vi em filmes como Blade Runner, mas com uma realidade mais limpa e esperançosa.

É claro que nem tudo são flores para esse filme, pois eu acredito que a Disney não foi 100% corajosa na hora de encerrar a trama. Digo isso porque o filme poderia muito bem em deixar em aberto com relação ao destino de um dos personagens. Porém, nos últimos segundos do segundo tempo, eles decidem resolver tudo tão facilmente, que acaba meio que soando forçado demais.

Apesar desse deslise, Operação Big Hero pode facilmente ser rotulado como a melhor e a mais divertida animação desse ano e provando o verdadeiro potencial positivo da parceria Disney e Marvel.

As aventuras do avião vermelho (2014)

Quando se pensa em animação brasileira, a primeira coisa que vem na mente do povo em geral, talvez sejam os especiais protagonizados pela turma da Mônica. Contudo, ao longo de nossa história, o nosso cinema provou que, pode sim, criar diversos e bons longas metragens que, podem muito bem se equiparar a outras produções estrangeiras (vide Disney/Pixar). Uma Historia de Amor e Fúria (com vozes de Selton Mello e Camila Pitanga) veio para provar que as animações brasileiras podem ir mais longe do que se imagina e esse As Aventuras do avião vermelho é um exemplo que, mesmo com a velha e boa animação tradicional, se pode conquistar o público infantil com uma história de aventura simples, porém, com boas doses de pura nostalgia. 

Nostalgia é a palavra certa para esse simpático longa, pois a história de Fernandinho (voz de Pedro Yan), que vive num mundo de aventuras imaginárias para salvar um protagonista de um livro que o seu pai lhe deu, nada mais é do que um pequeno retrato da infância de cada um de nós. Quem nunca se imaginou participando de inúmeras aventuras com o seu personagem preferido de infância, ou sendo o seu próprio herói? O filme sintetiza isso como um todo e gradualmente nos conquista.

Dentro do seu quarto, Fernandinho adentra num universo particular, onde usa os cenários do seu livro para viajar e ter diversas aventuras que, por vezes, presta homenagem às matinês antigas de aventura inocente e bem ao estilo Flash Gordon. Nesta empreitada, Fernandinho tem a companhia de dois simpáticos coadjuvantes, que nada mais são do que seus brinquedos preferidos: Ursinho (Wandi Doratiotto) e Chocolate (Lázaro Ramos). Além deles, o avião vermelho que, eles usam para viajar pelo globo, também tem personalidade e possui a voz de Milton Gonçalves.

Não há como negar que dentre as vozes que dão vida aos personagens, quem se sobressai é realmente Lazaro Ramos, sendo que a última vez que ele havia dublado um desenho foi no já clássico O Homem que Copiava, em que seu personagem se tornava um. Aliás, o seu personagem é protagonista das piadas que mais possuem momentos subliminares, dos quais somente os adultos que forem acompanhar os seus filhos irão entender. Interessante que esse longa (baseado na obra de Érico Veríssimo de 1936) se mantem fiel da forma em que ela foi escrita na época e preservando assim algumas passagens que, talvez alguns considerem politicamente incorretas para os dias de hoje, mas isso demonstra total fé que os produtores tiveram com o seu pequeno projeto.

Com uma das músicas cantada pela minha amiga, cantora e dubladora Luíza Caspary, As aventuras do avião vermelho é um filme simpático, divertido e que conquista facilmente aquele adulto que mantem em sua mente as suas aventuras imaginárias e coloridas do seu tempo.


12 de dezembro de 2014

A NOITE DA VIRADA (2014)

Existe um incentivo cada vez maior atualmente de se querer fazer outros filmes de gênero dentro do nosso cinema brasileiro e não ficarmos presos somente a uma fórmula de sucesso. O que move a massa e dá lucro atualmente aos estúdios são as comédias brasileiras que, mesmo com roteiros previsíveis, garantem um retorno garantido. Infelizmente essa fé cega por esse gênero acaba gerando filmes tão horrorosos, que não me surpreenderia que chegamos ao ápice da mediocridade. 

A Noite da Virada talvez seja o princípio do fim com relação a trajetória das comédias de sucesso do país, pois é uma hora e meia de filme, cuja a proposta é querer fazer o público rir, mas no máximo que irá puxar de nós nesse meio tempo será um leve sorriso forçado e mentiroso. A trama sobre vizinhos e amigos que se reúnem para a festa da virada, nada mais é do que uma mistura de ideias e fórmulas já bem manjadas de outros filmes americanos, demonstrando total falta de identidade própria e criatividade. Quando se assiste A Noite da Virada, vem à mente imediatamente filmes como Se Beber não Case e Projeto X. Ou seja: uma cópia de uma cópia de outra cópia e tudo beirando ao artificial.

Traições, sexo e drogas são os ingredientes que moldam a trama, alinhado com piadas politicamente incorretas, mas da maneira de como são dirigidas, soam tão falsamente chocantes, que poderia ser tranquilamente exibido numa Sessão da Tarde qualquer da vida. O elenco Global conhecido não ajuda muito: Luana Piovani novamente atuando como ela mesma e Marcos Palmeira, mesmo com o talento de intérprete na veia, entra e sai no piloto automático. 

Júlia Rabello como a mulher traída, Martha Nowill e Luana Martau que, interpretam as personagens que só tem sexo em suas mentes, acabam meio que sobressaindo em meio a esse humor sem sal, mas o trio acaba não sendo o suficiente para salvar esse barco que afunda antes mesmo de entrar na água. E, como se a situação não poderia piorar mais, o filme enlaça todas as sub-tramas e as resolvem de uma forma tão ruim no seu ato final, que você se arrepende de ter embarcado na uma hora e meia mais longa de sua vida. 

Com uma ponta medíocre e rápida de Alexandre Frota (dando a entender que precisava participar para pagar as suas contas atrasadas) A Noite da Virada pode não ser a ultima pá de terra para o gênero da comédia por aqui, mas bem que se esforçou para se criar tal feito.


9 de dezembro de 2014

ABUTRE (Nightcrawler, 2014)

Ao longo da vida eu conheci pessoas que, no princípio, se apresentavam como verdadeiros maus-caráteres, mas que mesmo assim se davam bem na vida. Num primeiro momento, podemos dizer que talvez essas pessoas tenham se vendido para conseguir uns degraus a mais da vida, mas e se eles mesmo se colocaram lá, sujando as mãos e manipulando outras pessoas? Esse pensamento me veio ao assistir o filme Abutre que, para o bem ou para o mal, é uma representação do homem comum contemporâneo que, não importa o que acharem de sua imagem, desde que ele consiga chegar aos seus objetivos!

Estreando como diretor (antes roteirista de filmes como Gigantes de Aço), Dan Gilroy conduz a história de Lou Bloom (Jake Gyllenhaal), que busca a oportunidade de crescer na vida. Para isso, busca meios nada politicamente corretos, para registrar as melhores cenas de crimes e acidentes que ocorrem na cidade de Los Angeles. Não demora muito para ele ganhar prestígio e atingir os seus objetivos.

Independente de qual a profissão que a pessoa exerça, quem for assistir irá se identificar com a trama. O que vemos é um protagonista sem escrúpulos, que não mede esforços para conseguir os seus objetivos, nem que isso custe até a vida das pessoas em volta. Por mais cru que possa ser, é um retrato de inúmeras pessoas que usam meios nada corretos para se ganhar a vida hoje em dia que, na maioria das vezes, pisa em outras pessoas antes que seja pisado por elas.

Num ano que tem provado cada vez mais versatilidade em seu trabalhos (os últimos foram Os Suspeitos e O Homem Duplicado) Jake Gyllenhaal surpreende novamente ao criar para o seu personagem uma personalidade forte, persistente, cuja ambição e genialidade andam de mãos dadas no decorrer do filme. Por mais que desprezemos suas atitudes para alcançar suas ambições, seu Lou Bloom é aquele personagem que você odeia, mas ao mesmo tempo o ama, pois as suas palavras sobre como movem as engrenagens do mundo dos negócios, independentemente de quais elas forem, faz com que nós, querendo ou não, concordemos com ele.

Em parte, não o culpamos por ele ser o que é, pois o mundo no qual ele trabalha (ou seja a imprensa) chega a ser tão culpada quanto ele. Nesse caso, a personagem Nina Romina (Rene Russo, ótima) que comanda um jornal do qual transmite as imagens que Bloom filma, só não é pior do que ele porque ela tenta, mesmo que de uma forma hipócrita, passar uma conduta de pessoa insubornável e justa. Mas verdade seja dita: uma vez demonstrando interesse pelo material de Bloom, ela acredita num primeiro momento que está com a galinha dos ovos de ouro em mãos, mas ela mesmo se torna uma peça para o jogo de xadrez e ambição do protagonista.

Para não dizer que todos desse universo são comprados de acordo com os seus desejos, o assistente de Bloom, Rick (Riz Ahmed), que o ajuda na busca dos crimes e acidentes pela cidade, se torna uma espécie de "bom senso" perante ao seu chefe. Ele quer apenas trabalhar e ganhar o necessário para sobreviver, mesmo quando começa a se dar conta de que tipo de pessoa é Bloom. Porém, até as ovelhas podem ser compradas, mesmo tendo a consciência de estar se encaminhando para o caldeirão.

Tecnicamente o filme é impecável em termos de agilidade, sendo que a sua montagem rápida, faz com que as cenas em busca de um furo jornalístico se tornem um verdadeiro balé de imagens rápidas e eficazes. Na realidade isso é proposital, pois tanto o protagonista como outro rival do seu ramo (aqui interpretado por Bill Paxton) correm sempre contra o relógio para ver quem consegue chegar mais rápido no local dos acontecimentos, para capitar as imagens que lhe darão algum lucro. Porém, o filme se beneficia mais ainda nos momentos de pura tensão, em que Bloom se arrisca ao máximo para conseguir um furo, nem que para isso consiga que determinados crimes se tornem piores para então se beneficiar disso.

Com um final corajoso para os padrões do cinema norte americano atual, Abutre é aquele tipo de filme que nos faz pensar e questionar até aonde iriamos para alcançar os nossos objetivos. Vale mais a pena alcançar degraus acima profissionalmente ou manchar a imagem da sua pessoa? Para o bem ou para o mal a gente sempre colhe o que planta!

8 de dezembro de 2014

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (2014)

Muito eu reclamei do fato do cineasta Peter Jackson ter adaptado o pequeno livro de O Hobbit para uma trilogia cinematográfica, onde cada filme tem duração de quase três horas. Para piorar, a segunda parte (A Desolação de Smaug) terminou de uma forma tão abrupta que temia pelo resultado final da terceira e última parte. Se, por um lado, A Batalha dos Cinco Exércitos não termina de uma forma tão inesquecível como foi na trilogia original, por outro, felizmente, se encerra de forma satisfatória e fazendo jus a proposta inicial desse grande projeto.

Se no filme anterior havia uma prólogo engenhoso, criado pelo cineasta para situar um marinheiro de primeira viagem, aqui não há tempo para isso (exigindo que se veja os filmes anteriores) e, sendo assim, a trama já começa exatamente aonde havia encerrado A Desolação de Smaug. Portanto, testemunhamos a quase extinção dos humanos na cidade flutuante, cabendo então a Bard (Luke Evans) encarar o dragão sozinho e se tornando um dos grandes heróis dessa nova trilogia. No entanto, se por um lado se encerra esse momento dramático que tanto esperamos durante um ano, por outro, sentimos que foi um tanto rápido a participação final desse incrível dragão que impressionou no filme anterior, graças a voz onipresente de Benedict Cumberbatch (de Álbum de Família).

Após isso, testemunhamos um novo começo para todas as sub-tramas que haviam sido não concluídas no capitulo anterior. Jackson se torna habilidoso em não se enrolar muito nelas e portanto todas as pontas soltas com seus determinados protagonistas se reúnem para a inevitável guerra que irá se abater na frente na montanha de Erebor. Anões, humanos, orcs e elfos, todos desejam a mesma coisa: invadir o local e adquirir suas riquezas, principalmente a Pedra Arken.

Uma coisa que eu sempre admirei na obra de Tolkien e que foi transportada fielmente nas mãos de Jackson, foi o fato de os protagonistas sempre viverem na corda bamba com relação ao poder e ambição que desperta neles. Se na trilogia anterior "o anel" provoca esse mal, aqui o mar de ouro de Erebor desperta a ambição de todos os povos, inclusive daquele que a gente menos espera. Se no filme anterior, a ambição que surge de forma repentina em Thorin (Richard Armitage) ao readquirir seu reinado era um tanto que forçada, aqui o ator finalmente nos convence do contrário, nos brindando com uma interpretação digna de nota.
Embora Bilbo Bolseiro (Martin Freema) e Gandaf (Ian McKellen) sejam a força moral que tentam colocar um pouco de luz nesses inúmeros personagens, cujo o desejo é somente guerrear pelo poder, é interessante observar que no decorrer da trama, cada um irá aprender do seu modo, de que haverá sempre um bem maior para se lutar do que adquirir riqueza e glória. Thorin e o rei elfo Thranduil (Lee Pace) irão perceber da melhor e da pior maneira possível o quanto estavam errados com relação ao que eles realmente queriam. Sendo assim, esse último filme pode ser interpretado como uma engenhosa metáfora com relação às guerras entre os povos de ontem e principalmente os de hoje que, por vezes, lutam por desejos mesquinhos e que poderiam encerrar as suas diferenças com um diálogo racional.

Tecnicamente, o filme nos brinda com batalhas campais deslumbrantes, onde a Weta digital mostra o quanto evoluiu e provou que é o melhor estúdio em termos de efeitos visuais atualmente. Quando os exércitos começam a se guerrearem entre si na frente da montanha de Erebor, testemunhamos as melhores cenas de ação desde o encerramento da trilogia original. Destaco principalmente Legolas (Orlando Bloon) que novamente protagoniza as melhores (e absurdas) cenas de ação como sempre.


Mas em meio a tanto efeito visual, Peter Jackson prova que uma história com boas doses de emoção é que conquistam realmente o público. Com isso, testemunhamos o embate final entre Thorin e seu inimigo mortal, o orc pálido Azog, cujo o resultado final é surpreendente e que ficará na memoria dos fãs por um bom tempo. E se a relação amorosa nascida entre a elfa Tauriel (Evangeline Lilly) com o anão Kili (Aidan Turner) soava um tanto que forçado no filme anterior, aqui é concluído de uma forma emocionante e que nos faz perdoar o cineasta em ter inserido essa historia de amor na trama que não havia no livro.

Com um final que enlaça de uma forma perfeita com o início do filme A Sociedade do Anel de 2001, O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos encerra essa trilogia de uma forma digna e provando que o lado ambicioso de Peter Jackson em transformar um simples livro infantil de aventura numa grande trilogia talvez não estivesse tão errado, mesmo com os inúmeros percalços que ele percorreu nessa grande jornada que nós testemunhamos.


3 de dezembro de 2014

Meninos de Kichute (2009)

Ontem (02/12/14) no Cinebancários de Porto Alegre, assisti Meninos Kichute que, embora eu não tenha vivido no período do qual a trama se passa (1975), é um filme que facilmente nos identificamos, já que a trama, protagonizada por crianças, acaba por fazer com que muitas pessoas se lembrem de algo parecido visto na tela. O filme se passa no interior de São Paulo e somos apresentados a Beto, o filho do meio de uma família simples de um bairro operário, que sonha em ser goleiro de futebol e superar os obstáculos – o principal deles, a resistência do pai, autoritário e religioso, para o qual competição é pecado. Porém, o próprio pai pratica um pecado muito maior, o que torna então uma pessoa hipócrita perante as outras pessoas com quem vive.

Enquanto isso acompanhamos os jovens criando o Meninos de Kichute Futebol Clube, (kichute era o tênis conhecido entre os garotos que cresceram entre o fim dos anos 1960 e o início dos 1980). Embora seja um filme protagonizado por crianças, a trama possui alguns momentos de drama que, mesmo não sendo o foco principal, ele engloba também o papel político brasileiro da época, sob o regime da ditadura militar. Produzido em 2008 e exibido em alguns festivais em 2010, o filme, infelizmente, chegou tardiamente por aqui.

A trilha sonora ajuda também a direcionar a pessoa cada vez mais ao filme e fazê-la se identificar, pois possui inúmeras canções de sucesso, criando-se então uma sensação de pura nostalgia com: "Que Fim Levaram todas as Flores" de Secos e Molhados, "Filho Maravilha" de Jorge Ben e "Eu Quero Botar meu Bloco na Rua" de Sergio Sampaio. Mesmo com poucos recursos na mão, a direção de arte também faz um trabalho primoroso, especialmente mostrando os carros, a moda de se vestir da época e os cortes dos cabelos dos garotos que, aliás, eram os mesmos que eu usava nos meus primeiros anos de vida nos anos 80.

Independente de qual geração a pessoa nasceu, a força principal mesmo do filme é a identificação que ele nos provoca. Vemos disputa nos campinhos de futebol, as curiosidades do mundo adulto através de revistas para maiores de 18 anos, brigas durante uma pelada, o bullying na escola (que na época nem tinha esse nome) e é impossível não reviver com nostalgia registros de uma infância que a cada dia se torna mais distante e dourada para nós.

O filme é uma adaptação do livro homônimo de Márcio Américo, comediante e escritor. No filme, o autor dividiu o roteiro com o diretor Lucas Amberg. Acreditasse que foram mais de 600 crianças que passaram pelo processo de seleção de atores e foram escolhidas 20 para a criação do elenco mirim.

Elas se destacam nas cenas da escola, no ferro velho e no campinho. Por ser um filme agradável e nostálgico em assisti-lo, o filme ganhou o Prêmio do Público na categoria Melhor Filme Brasileiro da Mostra Internacional de Cinema der São Paulo.

2 de dezembro de 2014

De Volta ao Jogo (John Wick, 2014)


Keanu Reeves não atuava num filme bom desde o cultuado Constantine, de 2005, mas também não se pode esperar muito desse, que é um regresso do astro aos filmes de ação. O filme, entretanto, não é dele, mas sim dos dublês e agora diretores Chad Stahelski e David Leitch. São as coreografias e cenas de ação, cheio de clichês batidos, mas com certo estilo, que roubam cena no filme.


Ex-assassino de aluguel, extremamente eficiente, temido por todos, tentando se recuperar da perda da esposa, que morre por causas naturais, John Wick (Reeves) é obrigado a voltar à ativa depois que um playboy sem noção rouba seu carro e mata seu pequeno cachorro de estimação. Acontece que o incauto Iosef (Alfie Allen) é filho do chefão da máfia russa Viggo (Michael Nyqvist), antigo patrão de Wick. E, conhecendo-o mais do que ninguém, o patriarca sabe que vem uma grande tempestade.

O nome do personagem dá uma pista do registro que se pretende: John Wick, "João Pavio (curto)" ou ainda, por uma pronúncia aproximada, João Fraco. Só a partir da chave da ironia é que se pode entender que De Volta ao Jogo é uma paródia de filmes de ação com vingança, em que seu perpetrador tem direito de eliminar quem não respeita o código de ética da classe. Wick é uma máquina adormecida, despertada pelo roubo de um automóvel antigo e pela morte do pequeno cão. 

Por isso também o velho hotel no centro da cidade, que funciona como uma espécie de clube, em que o staff sabe que está lidando com uma classe especial de profissionais, sem deixar de mencionar a eficientíssima equipe de limpeza, faz seu complicado trabalho sem nada perguntar. Esse humor sutil e as muitas referências, além do elenco, que inclui Willem Dafoe, John Leguizamo e Adrianne Palicki, é que faz o filme um despretensioso passatempo, desde que desligue o seu cérebro.
 

Boyhood - Da infância à juventude (2014)

Eu ouvi muito falar a respeito sobre o mais novo filme do diretor Richard Linklater (Antes do Amanhecer) e, portanto, fazia questão de assisti-lo. Não me resta dúvida nenhuma que Boyhood: Da Infância à Juventude, não é somente um ótimo filme, como também um feito notável e raro do cinema recente. Acompanhando doze anos da vida do pequeno Mason (Ellar Coltrane) e a trama é basicamente isso, mas que nos enlaça de tal forma que não vemos o tempo passar durante a projeção.

Embora o projeto seja corajoso (rodado durante quatro dias por ano, num total de doze) é uma trama simples, onde assistimos o seu protagonista envelhecendo (dos seis aos dezoito anos), acompanhando os seus dramas do dia a dia com os seus familiares, seus conflitos internos da adolescência e seus relacionamentos amorosos, que vão da curtição à frustração. Nesse sentido, Boyhood é um retrato do nosso mundo real, em vez de uma mera trama mirabolante juvenil. As conversas soam familiares, a maneira de se vestir e a forma como ele age com os seus familiares. Tudo pelo que nós mesmos já passamos, talvez até com as mesmas reações de Mason.

Embora comece de uma forma devagar, o filme nos prende e nos cativa rapidamente. Talvez por transmitir um olhar real do jovem interprete, sendo que o próprio já havia afirmado em uma entrevista que ele mesmo não conseguia às vezes separar o seu mundo real com a trama fictícia que participava. Isso se deve muito pelo fato do filme não apresentar nenhum personagem fora do comum, mas isso torna mais um ponto a favor para produção, já que o cinema contemporâneo de hoje vive escasso com personagens que deveriam ser algumas vezes 'gente como a gente'.

Em outra entrevista, Ellar disse que ao assistir as imagens do filme pela primeira vez se maravilhou. As lembranças em sua mente se misturavam e, após se dedicar doze anos participando das filmagens, ele não se lembrava mais que tinha participado de determinadas cenas. O jovem protagonista Mason realmente se confunde com seu intérprete.

Existe muito do ator no personagem fictício, sendo que ambos não comem carne e amam de paixão o mundo da fotografia. O ator falou que quando tomava uma decisão de fazer algo com relação ao corpo, logo em seguida ligava para o cineasta, para ver se dava para colocar um brinco ou pintar o cabelo. Linklater por sua vez dava liberdade total para que Coltrane fosse natural, para que o jovem de ontem e hoje se identificasse facilmente com ele.

Alguns dos diálogos filosóficos que Mason dispara na tela foram na realidade algumas sugestões do próprio ator. Antes de começar as filmagens de cada ano, Linklater fazia uma rodada de conversas descontraídas com o elenco principal, de onde se tirava inúmeras ideias para serem aproveitadas durante as filmagens. Embora cineasta afirmasse que realmente havia um roteiro escrito, as conversas dessas rodadas serviam unicamente para que equipe e elenco se atualizassem e que pudessem passar durante as filmagens uma forma de naturalismo ao máximo possível. Quem acompanha a obra do diretor sabe que ele já usava esse artifício, principalmente na sua trilogia que se iniciou em Antes do Amanhecer.

Embora a trama seja toda concentrada em Mason, o filme não seria nada sem a presença de sua mãe. Interpretada por Patricia Arquette (Amor a Queima Roupa) ela passa uma imagem real de uma mãe de ontem e hoje: tentando batalhar para realizar os sonhos dos seus filhos e os seus, mas que infelizmente acaba se perdendo algumas vezes no trajeto, alternando em escolhas erradas (com relação a escolhas de maridos ) como também em certas, ao se dedicar a carreira que queria. A irmã mais velha de Mason e o pai, interpretado por Ethan Hawke (parceiro habitual do cineasta), são também personagens essências na vida do jovem protagonista, mesmo eles não influenciando muito as suas escolhas.

Mason nunca tenta ser uma imagem espelhada dos seus pais, mas isso não significa que ele não aceite da maneira como eles são. Unicamente ele vive como um adolescente como os outros, sem ser revoltado, mas também não muito conformado com a realidade em que vive e com isso vive se perguntando para si mesmo inúmeras coisas, que por vezes não obtém uma resposta. Embora nunca aja um letreiro nos dizendo quando acontece um pulo no tempo, nós sabemos quando isso acontece: as mudanças do rosto e o físico dos personagens, assim como a cultura, desde musicas, objetos, cortes de cabelo e de um momento divertido com relação ao Harry Potter.

E é assim durante as quase 3 horas de projeção, acompanhamos o crescimento do protagonista, que desde sua primeira cena, como um sonhador deitado na grama, para uma jornada de doze anos aonde acompanhamos de tudo um pouco de sua vida. Vemos sua mudança física e mental, suas desavenças na escola, sua chegada em uma faculdade, seu primeiro serviço e as diversas mudanças com a mãe que vive também em busca de um lugar nesse mundo. Infelizmente o filme termina de uma forma abrupta e fazendo com que nós quiséssemos continuar ao lado do personagem e vê-lo até aonde ele vai durante o seu percurso na vida. O protagonista se vai, para continuar a sua jornada, nos deixando sem a sua presença, mas fazendo a gente pensar em suas atitudes e escolhas.


Boyhood: Da Infância a Juventude pode não ser uma grande obra prima como muitos dizem, mas está muito longe de ser um mero filme como os outros que existe aos montes por ai. Acima de tudo, é uma realização incomum sobre a vida comum e um feito de realização dos mais fascinantes e que ficará sendo lembrado por todo cinéfilo que se preze.

28 de novembro de 2014

PAN GANHA PRIMEIRO TRAILER LEGENDADO

Clássico da literatura e das telas, o Peter Pan da Warner Bros. tem Hugh Jackman e Amanda Seyfried no elenco do filme


A Warner Bros. Pictures divulga o primeiro trailer legendado do novo longa Pan (ainda sem título em português), dirigido por Joe Wright ("Desejo e Reparação", "Orgulho e Preconceito"). O vídeo mostra as primeiras cenas da aventura de Peter Pan na Terra do Nunca.
Abordando uma nova visão sobre a origem dos personagens clássicos criados por J.M. Barrie, o filme conta a história de um órfão que se transporta para a mágica Terra do Nunca. Lá, ele encontra diversão e perigos para, finalmente, descobrir o seu destino – se tornar o herói que será conhecido para sempre como Peter Pan.
O elenco é estrelado pelo indicado ao Oscar Hugh Jackman ("Os Miseráveis") como Barba Negra; Garrett Hedlund (“Inside Llewyn Davis - Balada de Um Homem Comum”) como Capitão Gancho; a indicada ao Oscar Rooney Mara (“Os Homens que Não Amavam as Mulheres”) como Tiger Lilly; Adeel Akhtar (“O Ditador”) como Smee; e Levi Miller como Peter.
Amanda Seyfried (“Os Miseráveis”) completa o elenco como Mary, ao lado de Jack Charles ("Mystery Road") como o Chefe /pai de Tiger Lilly; Nonso Anozie (“O Filho de Deus”, “Desejo e Reparação”) como Bishop; Kathy Burke (“O Espião que Sabia Demais”) como Mãe Barnabas; Kurt Egyiawan (“007 - Operação Skyfall”) como Murray; Lewis MacDougall (“In The Name of the Children”, série de TV inglesa) como Nibs; e Leni Zieglmeier como Wendy.
Wright dirigirá a nova aventura Pan com roteiro de Jason Fuchs. Greg Berlanti, Paul Webster e Sarah Schechter são os produtores, com Tim Lewis como produtor-executivo.

As filmagens serão feitas nos estúdios Leavesden da Warner Bros. O filme tem lançamento mundial previsto para 16 de julho de 2015.

*Fonte: Espaço Z

26 de novembro de 2014

Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1


Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1, que dá continuidade às adaptações dos livros escritos pela autora Suzanne Collins, nada mais é do que uma bela metáfora sobre o nosso mundo contemporâneo, que é sempre bombardeado pela mídia, reality shows alienantes e que, por vezes, usam e abusam de assuntos delicados, sendo tudo pela audiência ou por intenções obscuras. O filme dirigido por Francis Lawrence (Constantine) dá continuidade aos eventos do filme anterior (Em Chamas) para vermos a protagonista Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) a serviço do Distrito 13, para tentar a todo custo derrotar a Capital comandada pelo presidente Snow (Donald Sutherland). Ao mesmo tempo Peeta Mellark (Josh Hutcherson) é usado pelo governo para tentar convencer os rebeldes a não começarem uma rebelião.

Diferente dos demais blockbusters atuais, Esperança: Parte 1 vai contra a maré. São relegadas as cenas de ação para o segundo plano e é construída uma verdadeira trama de jogos políticos de ambos os lados do conflito. Enquanto a Capital usa o terror contra aqueles que forem contra eles, o Distrito 13 usa a protagonista a todo custo como símbolo da resistência, numa verdadeira propaganda contra o sistema.

É aí que Jennifer Lawrence novamente brilha em seu papel, pois ela sabe dosar momentos em que sua personagem exige uma demonstração de total falta de preparo quando se transforma num símbolo de propaganda da resistência, como também num momento dramático, em que ela se encontra no campo de guerra e tenta passar pelos meios de comunicação o horror que a Capital cria contra as minorias. Contudo, é fácil rotularmos a Capital como o verdadeiro símbolo cruel da trama, mas o Distrito 13 não fica muito atrás, pois eles usam a protagonista no seu reality show da resistência de tal forma, que é preciso rir para não chorar na situação em que Katniss se encontra.

Se nos capítulos anteriores ela se viu obrigada a disputar uma competição mortal para tentar sobreviver, aqui ela se vê sendo usada como uma peça de um grande xadrez para fins políticos do conflito. Embora ela demonstre apoio pela causa, ao mesmo tempo ela se vê num caminho sem volta. A cena em que a protagonista se encontra brincando com um gato num abrigo subterrâneo, em que ela fica jogando luzes de uma lanterna para que ele fique correndo atrás, sintetiza o exato momento em que ela se dá conta que está numa situação similar a do bichano.

Embora a personagem de Jennifer Lawrence seja a força vital da trama, os outros personagens, com seus respectivos intérpretes não ficam muito atrás: Philip Seymour Hoffman cumpre com louvor o seu desempenho, ao interpretar Plutarch Heavensbee e vê-lo atuando só nos faz lamentar ainda mais sua morte precoce que ocorreu neste ano. Julianne Moore surpreende sempre ao surgir em cena e por vezes até mesmo ofuscando a própria protagonista, mas é novamente Woody Harrelson como Haymitch Abernathy que nos brinda com momentos em que o seu humor negro amenizam o drama que assola o ambiente dos personagens.

De drama o filme está cheio, mas nem por isso as cenas de ação (que são poucas) deixam a desejar quando elas surgem. Francis Lawrence prova ser hábil com a câmera que usa, onde as cenas exigem um movimento dinâmico e quando elas acontecem, por um momento não parece ser mais um filme de Jogos Vorazes mas uma espécie de filme de guerra como A Hora Mais Escura. Atenção para uma cena de resgate na capital às escuras, que se mistura ação, intercalada com momentos de puro suspense. E quando se achava que esse momento de tensão terminaria de uma forma previsível, eis que ele se encerra de uma forma desesperadora e nos fazendo temer pela vida da protagonista. 

Com um final que fica em aberto e abrindo alas para a última parte da franquia, Jogos Vorazes: Esperança - Parte 1 é mais um capítulo da cine série que serve de exemplo de blockbusters com conteúdo e que nos faz questionar a nossa própria realidade, que está cada vez mais afogada por mídias que manipulam os verdadeiros fatos que acontecem e que beneficiam aqueles que se dizem a serviço do povo.


15 de novembro de 2014

Debi & Lóide 2 (Dumb and Dumber To, 2014)

Debi e Lóide: Dois Idiotas em Apuros, eu assisti tantas vezes que perdi as contas, pois, além de eu adorar a obra dos irmãos Bobby Farrelly e Peter Farrelly (Quem vai ficar com Mary), minha mãe fazia questão de ver e rever inúmeras vezes. Ao longo dos anos o filme foi um dos mais reprisados na TV aberta e a cabo e muitos se perguntavam por que não havia uma continuação para que voltássemos a ver as estripulias da dupla novamente. Vinte anos depois, os cineastas decidem trazer Lloyd Christmas (Jim Carrey) e Harry Dunne (Jeff Daniels) de volta em mais uma viagem louca que, embora não seja superior ao original, pelo menos o espírito e nostalgia com relação ao filme de 1994 se mantém intactos.

Verdade seja dita: dificilmente a produção conseguiria superar as piadas do filme original. A solução ficou a cargo de seis roteiristas (mau sinal?), que fizeram questão de levar em conta que se passaram vinte anos desde a última trama, mas que, ao mesmo tempo, mantivessem intactas as mesmas fórmulas de sucesso do filme original. Após uma mirabolante pegadinha, Debi revela a Lóide que precisa o quanto antes operar um rim antes que seja tarde para ele. A solução cai no colo deles, quando ambos descobrem que Debi tem uma filha que mal tinha ideia de sua existência. 

A desculpa para fazer a trama engrenar é o que menos importa por aqui, sendo que os fãs querem mesmo é rever a dupla na estrada e é exatamente isso que acontece. O grande charme do filme original que, além das piadas politicamente incorretas e inesquecíveis, a obra também era um delicioso road movie (filme de estrada), embalado com uma trilha sonora contagiante e que se casava muito bem com cada momento do filme. Aqui a fórmula se repete descaradamente, mas isso é proposital, para que o “público fã” se sinta em casa em cada cena apresentada na tela.

Entretanto, essa preocupação em respeitar a geração de vinte anos atrás que viu e amou o filme original, acabou meio que prejudicando um pouco na elaboração de uma trama mais criativa e se entregando então para as piadas politicamente incorretas habituais, mas que infelizmente nos faz rir de uma maneira forçada em alguns momentos. Porém, isso é facilmente contornado graças à dupla de protagonistas: Jim Carrey e Jeff Daniels que, para mim, representam uma das melhores duplas de humor da história do cinema (perdendo, claro, para O Gordo e o Magro), sendo que os erros cometidos no roteiro, além de coadjuvantes sem sal, não tiram o brilho da dupla central.

Outro ponto a favor foi o fato das referências, lugares e personagens apresentados no filme anterior ganharem novos contornos por aqui: o destino do garoto cego; uma das primeiras namoradas da dupla Fraida Felcher (Kathleen Turner) tem papel de grande destaque por aqui e como não podia deixar de ser, é revelado o paradeiro do cão móvel. Tudo isso, embalado com piadas de sexo, escatologia e muitas gags por parte dos dois protagonistas. Carrey, aliás, mesmo tendo se passado vinte anos, ainda mantém os mesmos trejeitos e caretas que ele havia injetado no seu personagem e Jeff Daniels que, mesmo tendo se dedicado boa parte da carreira em filmes dramáticos (como Lula e a Baleia) não fica muita atrás de seu companheiro em termos de humor.

Com um final que possui inúmeras reviravoltas, revelações e uma pegadinha bem sacana, Debi & Lóide 2 nada mais é do que uma janela para revisitar velhos queridos personagens e sem exigir muito deles.

10 de novembro de 2014

INTERESTELAR (2014)

Stanley Kubrick disse uma vez que, se caso houvesse alguém que entendesse o final de 2001: Uma Odisseia no Espaço, ele então se sentiria um fracassado, pois a sua obra ser compreendida não era o seu objetivo. Baseado na obra Arthur C. Clarke, o filme de 1968 ainda hoje desperta interesse e levanta inúmeras teorias, principalmente com relação ao seu enigmático ato final. Fã incondicional da obra, Christopher Nolan, sempre desejou fazer algo parecido no cinema e eis que ele lança seu Interestelar, que diferente da obra de Kubrick; aqui há sempre uma preocupação em tentar explicar o que está acontecendo para o cinéfilo que assiste e isso acaba sendo o seu maior calcanhar de Aquiles.

Não que isso vá prejudicar o filme como um todo, pois o seu desenvolvimento, imagens, trilha e acima de tudo o lado humano dos personagens é o que faz da obra ser indispensável. Em um futuro não muito distante, o engenheiro espacial Cooper (Matthew McConaughey) trabalha como fazendeiro cultivando milho para alimentar a população mundial. A maioria dos alimentos da Terra já acabou e as plantações que restam são constantemente atacadas por pestes e tempestades de poeira. Ao lado dos filhos e do sogro (vivido pelo ótimo John Lithgow), ele vive de maneira simples, mas se incomoda com o fato da humanidade ter se contentado em sobreviver e esquecido seu lado empreendedor.

A primeira parte do filme busca fazer gradualmente uma construção crível com relação aos personagens, para que então o cinéfilo se identifique com eles facilmente e aceitar a mirabolante trama, que é sobre salvar a humanidade. O protagonista é chamado para liderar uma missão espacial, que busca explorar novos planetas que podem substituir a Terra. Assim falando pode parecer fácil, mas o filme se adentra há inúmeras teorias de espaço tempo, valorizando muito as questões levantadas por Albert Einstein, que muitos cientistas de hoje aprovam.

Do início ao fim, se percebe como Christopher Nolan tem um vício inabalável sobre querer a qualquer custo dosar inúmeros momentos de verossimilhança na trama e fazer com que gente acredite naquele não muito distante futuro. Bons exemplos estão no primeiro ato, em que, mostra em curtos depoimentos em vídeo, pessoas falando do seu dia a dia difícil. As cenas em que mostram ruas e casas empoeiradas e plantações morrendo devido a uma misteriosa peste dão um ar de apreensão, pois não foge muito da realidade de alguns países de hoje que sofrem com as mudanças climáticas.
E, se por terra a situação é bem realista, pelo espaço a situação não é muito diferente. Assim como o recente Gravidade, Nolan consegue a proeza de jamais exagerar nos efeitos visuais, mas sim faz com que eles se tornem importantes para o desenvolvimento de uma melhor trama. O mesmo se pode dizer da fotografia de Hoyte Van Hoytema, que consegue ser deslumbrante por quase todo filme, assim como também a fantástica montagem, que nos faz ser jogados nas cenas de pura emoção (atenção a sequência quando os protagonistas e a nave estão girando em velocidade máxima).

Mas, de todas as partes técnicas que nos causa realmente emoção, é novamente o trabalho do compositor Hans Zimmer: colaborador de quase todos os filmes de Nolan, Zimmer consegue criar uma trilha original, mas que remete aos outros clássicos da ficção científica, como o já citado 2001 e até mesmo Contatos Imediatos de 3º terceiro grau. Sua trilha possui momentos contemplativos e que, ao mesmo tempo, se casa muito bem com as emoções dos personagens principais, principalmente os momentos protagonizados pelo pai (McConaughey) e sua filha (Mackenzie Foy).

Esses dois, aliás, são o coração do filme como um todo, pois realmente nos passam a insuportável sensação da separação um do outro para um bem maior. O drama aumenta ainda mais, pelo fato que para Cooper (Matthew McConaughey) e Brand (Anne Hathaway, ótima) vão numa missão espacial, cuja sensação para eles são semanas, mas para aqueles que vivem na terra se passam anos. Sendo assim, sai a pequena Mackenzie Foy e entra em cena Jessica Chastain (de A Hora Mais Escura) que consegue a proeza de nos fazer acreditar que ela sim foi um dia a filha do protagonista.

Tamanha dedicação do elenco principal faz com que até mesmo não nos incomodemos num primeiro momento com o ato final da trama que, deveria ser primoroso, mas que acaba sendo o momento mais delicado da obra de Nolan. Em seus derradeiros minutos, Nolan presta uma homenagem explicita á 2001: Uma Odisseia no Espaço, mas como eu disse no texto acima, ele exagera na dose de querer explicar o que está acontecendo em cena e acaba não somente prejudicando o resultado final, como também demonstra uma total falta de fé com relação a nós cinéfilos, em achar que talvez não entendêssemos o que está acontecendo em cena. No decorrer do filme, até que o cineasta pisa no freio de não explicar muito (em A Origem ele explicou demais), porque talvez ele estivesse se guardando para esses minutos que com certeza vão dar o que falar.

Com um elenco estelar que inclui Michael Caine, John Lithgow, Casey Affleck, Wes Bentley e Matt Damon, Interestelar com certeza será lembrado como mais um ótimo filme de Christopher Nolan, mas que está alguns anos luz de distância para ser um novo 2001: Uma Odisseia no Espaço.


7 de novembro de 2014

1º FESTIVAL DE CINEMA DE TRÊS PASSOS

Na próxima semana tem início a primeira edição do Festival de Cinema de Três Passos, na Região Noroeste do Rio Grande do Sul. Serão mais de 60 curtas-metragens na mostra competitiva, além de 10 títulos exibidos fora de competição. O evento acontece com entrada franca de 13 a 15 de novembro no Cine Teatro Globo - uma das mais antigas salas de cinema de rua gaúchas, que completa 60 anos em atividade. 

A programação completa com os filmes, dias e horários das sessões está ao final deste texto e também disponível no site www.cinematrespassos.com.br.

Entre os filmes que concorrem no festival, vários já foram premiados pelo país, como "Brasil", de Ali Muritiba, vencedor de Melhor Roteiro no 5º Festival de Cinema Curta Amazônia; "Au Revoir", de Milena Times, agraciado como Melhor Filme da Curta Mostra Brasil da 13ª Goiânia Mostra Curtas e "Poeira de Prata no Escuro do Quarto", de Carlos Segundo, Melhor Direção no 8º Curta Cabo Frio. Entre as produções gaúchas, serão exibidas as obras ficcionais “Kassandra”, de Ulisses da Motta Costa e “Tomou Café e Esperou”, de Emiliano Cunha; os documentários “Sioma – O papel da fotografia”, de Eneida Serrano e Karine Emerich e “A Cidade”, de Liliana Sulzbach; a animação “Hotel Farrapos”, de Lisandro Santos, entre outros.

Ao todo, foram inscritos 250 curtas de diversas regiões brasileiras, dos quais foram selecionados 61 filmes. Concorrem na categoria Ficção 32 obras, 14 títulos como Animação, dez em Documentário e cinco como Experimental. A premiação ainda abrange Melhor Filme pelo Júri Popular e Melhor Curta de Temática Ambiental, Direção, Ator, Atriz, Roteiro, Fotografia, Trilha Sonora, Edição e Direção de Arte, pelo Júri Técnico. Cada vencedor receberá o troféu Alberto Abrahão Levy, em homenagem ao fundador do espaço de cinema, e a quantia de R$500.

A iniciativa de criar o evento foi de moradores do município amantes da sétima arte e conta com apoio do Instituto Estadual de Cinema (Iecine), da Prefeitura Municipal de Três Passos, da Câmara de Vereadores da cidade, além do patrocínio de diversas empresas locais.

Os organizadores pretendem destacar a história dos 60 anos do Cine Teatro Globo no contexto dos 70 anos do Município de Três Passos. Segundo a Presidente da Comissão Organizadora do Festival Elvidia Zamin, “a iniciativa tem como propósito a democratização do acesso ao cinema, incentivar e promover novos talentos na área audiovisual, intercambiar culturas e formar expectadores, com foco no público jovem”.

O Festival de Cinema de Três Passos foi idealizado ao final de 2013, num encontro de três-passenses. Em junho a comissão organizadora já estava formada e começava a ser divulgado o projeto e a abertura das inscrições para Oficina de Introdução ao Cinema e ao Roteiro, que ocorreu com inscrições esgotadas em julho deste ano, na mesma cidade. Em seguida, foram abertas as inscrições para a mostra competitiva do festival.

SERVIÇO
1º Festival de Cinema de Três Passos - Curta essa História!
Dias 13, 14 e 15 de novembro de 2014
Cine Teatro Globo (Av. Júlio de Castilhos, 490, Três Passos – RS)

ENTRADA FRANCA

PROGRAMAÇÃO:

13/11 – quinta-feira
Das 19h às 22h - abertura - exibição de curtas competitivos – debates

14/11 – sexta-feira
Das 8h às 11h, 14h às 17h e 19h às 22h - exibição de curtas competitivos 
Às 22h – debates

15/11 – sábado
Das 8h30min às 11h30min - exibição de curtas competitivos
Das 14h às 16h30min - exibição de curtas não competitivos
19h - Premiações - Exibição de Curtas Premiados – Encerramento


MOSTRA COMPETITIVA
QUINTA-FEIRA, 13/11 – às 19h
A noite dos palhaços mudos (SP) Ficção
Caçador (RS) Ficção
A Borracha e o Lápis (SP) Animação
Cine Paissandú: história de uma geração (RJ) Documentário
Guida (SP) Animação
Preto ou Branco (SP) Ficção
Sioma – O papel da fotografia (RS) Documentário
Ilha (PB) Ficção
Caminho (SP) Experimental
Hotel Farrapos (RS) Animação
SEXTA-FEIRA, 14/11 – às 8h
Alô, criançada (RJ) Ficção
A Galinha (MG) Experimental
The Master’s Voice: caveirão (SP) Ficção
Estátuas Vivas (SP) Documentário
O Maestro do Tempo (ES) Animação
Pierre e a Mochila (RS) Ficção
O Espantalho Dedicado (SP) Animação
Entulho (SP) Ficção
O Caminhão de Meu Pai (SP) Ficção
Macacos me Mordam (MG) Animação
A Visita (RJ) Ficção
Paleolito (RJ) Animação
Naldo e as Batatas Sorriso (RS) Ficção
O Reino do Chocolate (BA) Animação
O Significador de Insignificâncias (PR) Documentário
SEXTA-FEIRA, 14/11 – tarde, às 14h
Tomou Café e Esperou (RS) Ficção
O Menino que Sabia Voar (SP) Animação
Au Revoir (PE) Ficção
O Clube (RJ) Ficção
Desdobráveis (DF) Documentário
Hooji (RJ) Ficção
A Escada (PE) A Escada
Um Deserto Ondulado (RJ) Experimental
As Cartas de Ahmed (RN) Ficção
Pátio (PR) Documentário
Brasil (PR) Ficção
Poeira de Prata no Escuro do Quarto (SP/MG) Ficção
SEXTA-FEIRA, 14/11 – noite, às 19h
Lobos (RS) Ficção
Power Charques (PE) Experimental
A Princesa (RS) Ficção
Memórias em Sal de Prata (RS) Documentário
Travessia (GO) Ficção
Graffiti Dança (SP) Animação
Kassandra (RS) Ficção
Se eu Demorar uns Meses (SP) Documentário
O Matador de Bagé (RS) Ficção
O Cangaceiro (PE) Animação
O Brilho (RJ) Ficção
Ato Institucional (PB) Ficção
SÁBADO – 15/11 – manhã, às 8h30min
Abrigo ao Sol (ES) Ficção
Ilhas Humanas (MA) Experimental
Piove, il Film di Pio (SP) Documentário
A Libélula e o Sapinho (SP) Animação
A Cidade (RS) Documentário
Em Pedaços (RS/RJ) Ficção
Descompasso (RS) Ficção
Logo Ali ao Sul (RS) Ficção
Esse Coração que me Resta (MG) Ficção
Linda, uma História Horrível (RS) Ficção
O Turista Sad Nessie (SP) Animação
Contínuo (PB) Ficção
MOSTRA NÃO COMPETITIVA
SÁBADO, 15/11 – tarde, às 14h
Nos caminhos do Olímpio (RS) Experimental
Domi Noh (RS) Animação
Sobreforça (RS) Documentário
O Cão (RS) Ficção
O Filme de Carlinhos (BA) Ficção
O Grande “L” (RS) Ficção
O Destino e o Dragão (SP) Ficção
Taí... Ó (SC) Ficção
Amor Mascarado (ES) Animação
Pra Quem Quiser Ouvir (RS) Ficção
ENCERRAMENTO
SÁBADO, 15/11 – noite, a partir das 19h
Cerimônia de Encerramento
Premiação e exibição de curtas vencedores

Patrocínio: Prefeitura Municipal de Três Passos / Santuário Turismo / ENTRESPA / Massas Mamamia / Universal Veículos / Imobiliária Reimann e Seghetto / UNIMED Noroeste-RS / Color Tintas / Casa da Cidadania Herton Lampert / Nice Farmácia / SICREDI Celeiro / Madeireira Larssen / Centro Educacional Young / Mirian Farma / Magazine Fleck / Consórcio Rota do Yucumã / Idéias & Idéias / Moda Pé Esportes / Wizard / Vest Mania / Ferragens Fensterseifer / Rádio Alto Uruguai LTDA / Ellu’s Restaurante e Pizzaria / Artespuma Cortinas e Persianas / Müller Materiais de Construção / Ótica Visual / Organizações Alto Uruguai / Posto Ipiranga Centro / Fitopharma – Farmácia de Manipulação.

Apoio: IECINE – RS, UNIJUÍ – Campus Três Passos, Câmara Municipal de Vereadores, Jornal Atos e Fatos, Jornal Atualidades, Jornal O Regional, Jornal O Observador, Rádio Difusora - 92,5 FM e Rádio Passos FM, 21ª CRE, 7º BPM.

Realização: Movimento Pró-Arte

Mais informações:
Site: www.cinematrespassos.com.br
Facebook: festivaldecinemadetrespassos
Instagram: @cinema_trespassos

4 de novembro de 2014

TIM MAIA (2014)

É engraçado que a maioria dos meus ídolos tenha morrido fazendo o que eles faziam de melhor, mas, por mais mórbido que seja, é melhor assim do que terem morrido como uma pálida imagem do que já foram um dia. Um dos meus ídolos da música brasileira, Tim Maia, veio a falecer logo após a sua ultima apresentação, aonde nem chegou a terminar a primeira música que iria cantar. Mas isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, pois Tim era um gênio, cujo talento ninguém iria poder derrubá-lo, a não ser ele mesmo.

No mais novo filme de Mauro Lima (Meu Nome Não é Johnny), o acompanhamos da infância difícil aos primeiros passos do ramo da música, o auge e a queda inevitável do cantor. Vale destacar os primeiros minutos da obra, que são emoldurados com uma bela fotografia em preto e branco e narrados pelo personagem Fabio (Cauã Reymond) onde conta os primeiros anos de Maia. Já nestes minutos iniciais, se explode uma síntese sobre quem era Tim Maia (primeiros anos vivido por Robson Nunes), onde a apresentação dos créditos e câmera lenta se forma então uma única forma visual, que por ela, compramos a passagem ida, para adentrarmos no filme e irmos até o fim querendo ou não.

Verdade seja dita: nos anos de chumbo, ou você se vendia para o sistema ou iria contra maré e lutar por um sonho impossível. Mesmo todos dizendo ao contrário, Tim Maia seguiu pela segunda opção, lutando somente com o que tinha no bolso e caindo de cabeça pelo mundo. Embora em alguns momentos aparenta ser uma produção com um orçamento limitado, Mauro Lima soube muito bem contornar esse empecilho e retratar muito bem lugares que Maia passou, mas que não existem mais. Bom exemplo é na passagem onde retrata os EUA, que mostra pouco, mas nos convence como um todo.
Mas se reconstituição fiel ao período lhe falta, Lima não poupou em termos de ousadia e que com certeza irá tocar na ferida de muita gente. No período em que Tim Maia buscava uma oportunidade, acompanhamos a sua “via cruz”, na tentativa de buscar uma ajuda através de seu melhor amigo (?), ninguém menos que Roberto Carlos (George Sauma). É de se tirar o chapéu para o cineasta que, de uma forma bem escancarada, apresenta aqui o rei da música de uma forma caricata, vendida e modelada pelo sistema da ditadura da época.

Após ter se vendido (mas não muito) ao sistema (e ao Roberto Carlos) adentramos na segunda fase do filme, onde o cantor (interpretado agora por Babu Santana) começa a construir os seus primeiros anos de sucesso. Ponto para o cineasta onde soube muito bem retratar o período em que Maia introduziu o seu estilo soul (música negra americana) com a música popular brasileira. Aliás, os anos 70 aqui é o melhor período retratado, onde as cores e a moda do período explodem na tela.

É nesta parte que surge Janaína (Aline Moraes, ótima) que é na realidade uma representação condensada de duas mulheres que passaram na vida do cantor. Curiosamente o mesmo vale para o personagem Fabio (Cauã Reymond), que é uma junção de alguns amigos que ajudaram na carreira de Maia. Embora em parte os personagens sejam fictícios, ambos os atores estão muito bem em seus respectivos papéis e Reymond, ao que parece, está deixando aos poucos a fama de interpretar ele mesmo e provando que tem uma veia de interprete, mesmo ainda um pouco escondida.

Se há um ponto falho no filme é dele se alongar mais do que devia e do fato de algumas passagens não terem sido muito bem exploradas, como no caso da época que o cantor se voltou mais para a igreja, mas logo abandonou. Mas isso é contornado graças às ótimas interpretações do elenco e principalmente de Babu Santana: vê-lo falar, cantar e agir como Tim Maia, dá a sensação que o gênio ressuscitou, graças a um desempenho marcante, onde o ápice se vê, nas sequências onde o ícone sucumbe em meio ao sexo e drogas desenfreadas. Com os derradeiros minutos, que retratam os últimos passos do cantor no seu último show em Niterói, de 1998, o filme encerra e nos dá aquela sensação mórbida sobre o inevitável. Porém, essa autodestruição imposta pelo próprio gênio, não foi o suficiente para que ele terminasse num lugar comum, mas sim no coração daqueles que apreciavam uma boa música brasileira, cada vez mais rara hoje em dia.  


28 de outubro de 2014

RELATOS SELVAGENS (Relatos Salvajes, 2014)

Imagine uma pessoa em seu escritório, que fica na sua e leva o seu serviço a sério. O problema é que na sala ao lado tem duas secretárias que, quando o chefe não se encontra, começam a conversar em demasia e falar de coisas por vezes alienadas. Isso acaba estressando-o, ao ponto dele desejar matá-las das mais diversas formas possíveis.

Claro que todo ato há consequências e por mais que a pessoa tenha desejo de botar para fora a raiva que sente, sempre terá algo em seu interior para frear. Mas o que aconteceria se a pessoa dissesse “dane-se o mundo” e colocasse para fora o seu lado mais obscuro? A resposta se encontra no mais novo filme argentino Relatos Selvagens!

Dirigido por Damián Szifrón (Tempos de Valente), o filme apresenta seis seguimentos: passageiros de um avião começam a descobrir que todos têm ligação com o piloto, que por sua vez os culpa devido ao seu passado traumático; garçonete descobre que seu cliente foi alguém que arruinou o seu passado; dois motoristas se cruzam, se desentendem na estrada e a relação nada amistosa os leva para um caminho sem volta; engenheiro de implosões se revolta com as multas que ele vive levando; para salvar o filho, milionário tenta colocar um falso culpado em cena de atropelamento; noiva descobre justamente na festa de seu casamento, que o seu noivo tem uma amante.

Todos os seguimentos da trama são na realidade histórias das quais nós cruzamos todos os dias, ou que nós mesmos já fomos os próprios protagonistas. A diferença está no fato de alguns de nós nunca chegarmos a esse ponto do qual que os personagens chegam, mas acabamos aplaudindo mentalmente determinada pessoa quando comete determinados atos, dos quais não cometemos por falta de coragem ou devido as suas consequências. Pegamos por exemplo o personagem de Ricardo Darín, que, quando chega ao fundo do poço ao alimentar ao máximo o sistema aonde vive, decide se vingar da maneira mais imprevisível e as pessoas à sua volta, que antes passavam pelo mesmo calvário, o aplaudem como herói.

É um filme que possui a mesma mensagem do já clássico Um Dia de Fúria estrelado por Michael Douglas, mas que aqui mira e acerta todos os níveis de nossa sociedade contemporânea que, por vezes, se disfarça com máscaras cada vez mais mentirosas. Por mais que nos culpemos, lá no fundo do nosso subconsciente, não tem como não rirmos de determinadas tramas que sintetizam exatamente o que passamos, vemos e reprovamos. De todos os seguimentos da trama, a da noiva (Erica Rivas, espetacular), que por vezes nos lembra algumas das protagonistas dos filmes de Pedro Almodóvar, desde já é disparada a melhor.

Falar desse que é, na realidade, o último seguimento do filme, estragaria inúmeras surpresas brilhantemente bem filmadas. O que posso dizer é que ele reúne drama, romance, tensão, suspense e, por incrível que pareça, momentos "gore" (sanguinolentos). Um seguimento que é uma representação nenhum pouco disfarçada sobre o modelo do casamento, que atualmente se encontra falido.

Mas para aqueles que ainda acreditam que esse modelo de união ainda funcione e sonhe em se casar de véu e grinalda, adianto que a trama termina de forma épica, otimista, mas que corresponde com a proposta que o filme quer passar para o cinéfilo que assiste. É claro que haverá alguns críticos dizendo que Damián Szifrón é uma espécie de "Quentin Tarantino argentino", por saber unir humor negro com boas doses de violência. Mas num período em que o cinema dos nossos hermanos parecia que estava deixando de lado a criatividade para viver de comédias fáceis, Relatos Selvagens é um filme muito bem-vindo e qualquer tipo de comparação é perdoável.

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