Ontem (02/12/14) no Cinebancários de Porto Alegre, assisti Meninos Kichute que, embora eu não tenha vivido no período do qual a trama se passa (1975), é um filme que facilmente nos identificamos, já que a trama, protagonizada por crianças, acaba por fazer com que muitas pessoas se lembrem de algo parecido visto na tela. O filme se passa no interior de São Paulo e somos apresentados a Beto, o filho do meio de uma família simples de um bairro operário, que sonha em ser goleiro de futebol e superar os obstáculos – o principal deles, a resistência do pai, autoritário e religioso, para o qual competição é pecado. Porém, o próprio pai pratica um pecado muito maior, o que torna então uma pessoa hipócrita perante as outras pessoas com quem vive.
Enquanto isso acompanhamos os jovens criando o Meninos de Kichute Futebol Clube, (kichute era o tênis conhecido entre os garotos que cresceram entre o fim dos anos 1960 e o início dos 1980). Embora seja um filme protagonizado por crianças, a trama possui alguns momentos de drama que, mesmo não sendo o foco principal, ele engloba também o papel político brasileiro da época, sob o regime da ditadura militar. Produzido em 2008 e exibido em alguns festivais em 2010, o filme, infelizmente, chegou tardiamente por aqui.
A trilha sonora ajuda também a direcionar a pessoa cada vez mais ao filme e fazê-la se identificar, pois possui inúmeras canções de sucesso, criando-se então uma sensação de pura nostalgia com: "Que Fim Levaram todas as Flores" de Secos e Molhados, "Filho Maravilha" de Jorge Ben e "Eu Quero Botar meu Bloco na Rua" de Sergio Sampaio. Mesmo com poucos recursos na mão, a direção de arte também faz um trabalho primoroso, especialmente mostrando os carros, a moda de se vestir da época e os cortes dos cabelos dos garotos que, aliás, eram os mesmos que eu usava nos meus primeiros anos de vida nos anos 80.
Independente de qual geração a pessoa nasceu, a força principal mesmo do filme é a identificação que ele nos provoca. Vemos disputa nos campinhos de futebol, as curiosidades do mundo adulto através de revistas para maiores de 18 anos, brigas durante uma pelada, o bullying na escola (que na época nem tinha esse nome) e é impossível não reviver com nostalgia registros de uma infância que a cada dia se torna mais distante e dourada para nós.
O filme é uma adaptação do livro homônimo de Márcio Américo, comediante e escritor. No filme, o autor dividiu o roteiro com o diretor Lucas Amberg. Acreditasse que foram mais de 600 crianças que passaram pelo processo de seleção de atores e foram escolhidas 20 para a criação do elenco mirim.
Elas se destacam nas cenas da escola, no ferro velho e no campinho. Por ser um filme agradável e nostálgico em assisti-lo, o filme ganhou o Prêmio do Público na categoria Melhor Filme Brasileiro da Mostra Internacional de Cinema der São Paulo.
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