Hoje temos mais uma ótima crítica do Víctor Costa. Ele nos presenteia com sua visão sobre este clássico do Cinema. Sem mais, apenas curtam o que ele tem a nos dizer:
Acho que os clássicos são fundamentais para a compreensão da evolução cinematográfica e esse filme, sem dúvida, é um marco do cinema mundial. O cinema é realmente fantástico. Ele é a melhor forma de fazer da fantasia uma realidade. É o presente perfeito para aqueles que querem esquecer a secura do cotidiano e viver durante alguns momentos a realidade da ficção. Porém, alguns filmes são tão completos, tão perfeitos e tão arrebatadores (e não confundam isso tudo com grandiosidade) que, às vezes, conseguem, de fato, tornar-se real. É como se o filme tomasse vida e mudasse a esfera das pessoas que o cercam.
Um exemplo perfeito de um fenômeno como esse é "Bonequinha de Luxo" de Blake Edwards, que consegue alçar voo e fugir dos limites da tela do cinema. Holly Golightly (Audrey Hepburn) é uma prostituta de Nova Iorque que meteu uma coisa na cabeça: precisa se casar com um milionário. Muda-se então para o prédio onde mora o escritor Paul Varjak (George Peppard), que é um michê fixo de uma madame casada. Ele, envolvido pela simpatia, autenticidade e inocência de Holly, e ela, admirada pela beleza, cumplicidade e mistérios do novo vizinho, acabam se apaixonando, o que atrapalha as aspirações de riqueza da bonequinha de luxo.
Agora sim vem a resposta para a pergunta: porque "Bonequinha de Luxo" é um filme que vive na realidade? Simples... Essa faceta se dá unicamente pela estonteante, viva e incrível Audrey Hepburn. Ela não atua no filme, apenas vive. Não existe mais distinção entre a decidida Audrey e a inocente Holly. Elas se confundem mergulhadas numa singela fusão entra a magia do cinema e o glamour bruto da existência, o que faz de Audrey a eterna Bonequinha de Luxo, descarregada de exigências e espontânea nas piscadelas, e caminhadas. Para ilustrar essa assertiva, tomemos como exemplo a cena em que Holly (ou Audrey, a essa altura impossível distinguir), canta a música "Moon River", sentada no parapeito de sua janela. Nesta cena, que dura por volta de um minuto, o espectador se vê enamorado por uma atriz que, vestida da bonequinha perfeita, nos mostra como que as peculiaridades da vida, incluindo a brisa doce da tarde e o calor aconchegante da primavera, podem nos transformar em mera fantasia, assim como ela torna a mágica Holly em verdadeira Audrey.
Outro aspecto importante dessa transcendência é o filme trazer para a tela pormenores cotidianos da vida em Nova Iorque. O nome original do longa, "Breakfast at Tiffany´s", já nos mostra como que a cidade é homenageada (Tiffany é uma grande loja nova-iorquina de jóias). A sociedade burguesa da época, a sua fome por bebida, festas, mulheres e música também é retratada na película, demonstrando que este filme, além de uma porta para a alma da atriz que vive a protagonista, é também um passeio pela maior cidade do planeta. Um filme perfeito para se ver em qualquer momento do dia e com qualquer ou nenhuma companhia, "Bonequinha de Luxo" é um clássico de comédia romântica que nos entretém, diverte, emociona e encanta. E tenho certeza que, depois de assisti-lo com a merecida paixão inerente aos amantes do cinema, vocês poderão transcender das suas poltronas, assim como a incrível Audrey Hepburn fez, tornando-se a personificação perfeita do glamour competente e singelo do Cinema.