5 de janeiro de 2015

A Família Bélier (La Famille Bélier, 2014)

Clichês de filmes musicais onde o adolescente descobre um talento, canta pela escola, todos aplaudem e no final a paixão se torna amor e todos vivem felizes para sempre. Quem nunca viu um filme nesses moldes? É bem comum e um tanto cansativo pela grande quantidade de filmes desse gênero, mas quando um deles te surpreende pelos pequenos detalhes que mudam totalmente do clichê?

Filmes franceses tendem (em sua maioria) a serem lentos, de tramas e enredos cansativos ou extremamente apelativos. Surpreenda-se de novo: Neste comédia-drama-musical o que menos há são momentos de "pausa" na história para ficar exibindo as belas paisagens francesas ou fazendo apelações desnecessárias em algum aspecto da história. Não sou um expert em cinema francês, porém me agradou a combinação feita pelo diretor Eric Lartigau, que com uma visão de cena excelente, juntou história + belas paisagens + atuação excepcional dos atores.

Vamos ao clichê: Paula (Louane Emera) é uma adolescente que vive na fazenda com os pais. Estuda longe e tem sua melhor amiga, Mathilde (Roxane Duran). Elas estão iniciando um novo ano letivo e decidem escolher uma matéria "livre" para cursarem juntas. A escolha das duas foi o coral da escola, pois o galã da escola Gabriel (Ilian Bergala) escolheu o coral. Ela em pouco tempo destaca-se como um talento musical e é convidada para fazer um teste e estudar música em Paris.

Logo a história parece pronta, mas vamos incluir o detalhe. Os pais de Paula são surdo-mudos. É necessário explicar toda a complexidade por trás disso? Paula é a única que conhece tanto a fala quanto a linguagem de sinais, sendo ela a responsável por se comunicar com a comunidade e executar algumas tarefas administrativas da fazenda. E pensem: os pais dela nunca poderão ouvi-la cantar, não poderão apreciar o dom da filha

Outro contraponto no clichê é que seu pai, Rodolphe (François Damiens) está insatisfeito com a política do prefeito local e decide se candidatar, mas "como um surdo poderia ouvir os problemas da comunidade"? A trama toda gira em torno desses pilares, que não a torna dramática o bastante para ser um drama ou engraçada o bastante para ser uma comédia. O filme mistura os problemas e as visões dos personagens. Lógico que nem tudo é perfeito, pois algumas histórias passam despercebidas e estão lá só para fazer rir ou cutucar a sociedade pelos problemas dos surdos e mudos. 

Talvez não baste explicar as dificuldades da família ou os problemas de toda adolescente (desde as amizades na escola, a primeira menstruação, os amores impossíveis).... Prefiro não estragar a surpresa e apenas recomendo que vejam A Família Bélier. Como disse no começo, o filme mistura bem aquilo que é devido às artes e expõe, de maneira criativa e bela muitas coisas que normalmente não pararíamos para pensar. É de arrepiar, chorar, rir e se emocionar. 


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