8 de setembro de 2014

VIDAS AO VENTO (Kaze tachinu, 2013)

Ao assistir ao mais novo (e talvez último) filme do mestre Hayao Miyazaki (A Viagem de Chihiro e Castelo Animado), me veio à mente Santos Dumont, gênio brasileiro que criou o avião, mas que infelizmente viu sua ideia servir como máquina de matar na Segunda Guerra Mundial. Após Dumont ter criado a invenção de sua vida, surgiram gênios que aperfeiçoaram a sua obra, seja para guerra, seja para melhor conforto para viagens comuns. Jiro Horikoshi (1903 – 1982) foi um desses engenheiros, que amava aviões e queriam eles aperfeiçoados e belos, mas que infelizmente foram usados para a morte.

No filme, acompanhamos Jiro desde garoto, tendo sonhos em que pássaros se tornam aviões e que acaba recebendo sempre conselhos de um engenho Italiano no decorrer dessas viagens do sonhar. Mas estamos falando de um filme baseado em fatos verídicos e, portanto a fantasia e o impossível acontecem somente nestes momentos oníricos em que Jiro sonha. Sendo assim, o filme se concentra nos anos em que o protagonista estuda, se forma e embarca de cabeça em aprimorar os aviões e na criação do que mais tarde se chamaria kamikaze.

Porém, Miyazaki prefere fugir de temas delicados com relação à vida profissional de Jiro, pois estamos falando de um jovem sonhador, mas querendo ou não, ajudou na construção de um avião que seria usado para a guerra. Jiro queria somente fazer aviões belos, mas o filme não se aprofunda em dilemas que talvez ele tenha passado durante esse período de conflito mundial. Em vez disso, o filme prefere se aprofundar um pouco mais na bela e delicada historia de amor entre Jiro e a jovem Naoko, que havia conhecido durante um terremoto.
É nesta história de amor que o cineasta injeta toda a sua paixão pela animação tradicional, onde as cenas dos encontros do casal (como a do morro onde ela está pintando) nos proporcionam momentos líricos de encher os nossos olhos. Num mundo em que animação de computação gráfica domina o mercado, é muito bom ver que, quando animação feita à mão é feita por alguém como Hayao Miyazaki, é bom saber que essa arte ainda pode sim nos proporcionar momentos, que até mesmo a animação por computador não conseguiria nos dar. Os rostos de todos os personagens são sempre expressivos e distintos, mas moldado com um traço simples e muito bem pensando. 

Vidas ao Vento é um filme para poucos, pois é o mais adulto do diretor, mas não se esquecendo da geração que cresceu assistindo suas obras. No final das contas, Miyazaki faz uma declaração de amor para esses gênios como Jiro e Santos Dumont, que desejavam ser livres ao vento com suas maquinas voadoras e não querendo que suas obras fossem lembradas somente como maquinas de guerra.


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