Por mais que tente, o cinema atual jamais irá fazer algo tão impactante quanto à cena final de O Planeta dos Macacos de 1968. Ao ver a Estátua da Liberdade encravada na praia, o personagem Taylor (Charlton Heston) nos condena por ter destruído a Terra e não restar dúvida sobre a falta de fé que tinha com relação à humanidade. Eram tempos em que o mundo vivia temeroso com a guerra fria e o filme nada mais era do que uma metáfora com relação a esse temor e sobre os conflitos de raças e classes que haviam em abundância ainda na década de 60.
O mundo de hoje é muito diferente de 46 anos atrás, mas nem por isso deixamos de ter problemas globais que nos deixam apreensivos. Casos recentes como as guerras sem fim em Israel e os recentes conflitos da Rússia e Ucrânia, nos levam cada vez mais a nos preparar para o pior. Planeta dos Macacos: O Confronto é mais do que uma sequência da reinvenção do clássico lançado em 2011, como também é uma metáfora desse medo devido ao desconhecido futuro e sobre a falta de diálogo que existe entre as nações e que as leva à guerra.
Dirigido por Matt Reeves (Cloverfield – Monstro) a trama se situa dez anos após os eventos vistos no filme anterior. Os humanos sofreram o flagelo do vírus símio (numa sequência de abertura engenhosa) enquanto os macacos liderados por Cesar (Andy Serkis, soberbo) sobrevivem na floresta onde criaram a sua própria comunidade. Os problemas acontecem, no momento em que um grupo de humanos sobreviventes surge do nada, na tentativa de buscar uma forma de religar uma usina elétrica que se encontra na floresta.
O simples fato dos humanos quererem de volta energia elétrica para ao menos ter um mínimo de conforto numa San Francisco em ruínas, é o suficiente para gerar inúmeras desconfianças dos dois lados. Pode-se dizer que ambos são representados por opiniões distintas: se na comunidade dos macacos Cesar, mesmo que relutante, tenta contornar os problemas através do diálogo, temos o seu braço direito Koba (Toby Kebbell, espetacular) carregado de ódio e que deseja o extermínio dos humanos. Já no lado dos humanos temos Malcolm (Jason Clarke), que enxerga em Cesar a razão naquela comunidade inusitada e busca o dialogo através dele. Porém temos o líder dos humanos Dreyfus (Gary Oldman) que não vê esperança nenhuma através de seres que ele acha serem irracionais.
Essa divisão e opiniões diferentes é o que geram inúmeros momentos de tensão, pois a qualquer momento há de se explodir e gerar consequências irreversíveis. Os roteiristas, habilidosos como ninguém, criam pequenos prelúdios de um inevitável conflito que, por incrível que pareça, soam realmente imprevisíveis e que vai contra a expectativa daquele que assiste. Quando a guerra chega finalmente entre humanos e macacos, se tem então um verdadeiro show de horror, onde mentiras, medo, ódio e desconfiança irão gerar mortes desnecessárias.
Numa super produção como essa, é sempre óbvio haver um verdadeiro show de efeitos visuais que atrai a massa. Porém, desde o filme de 1968, a cine série Planeta dos Macacos sempre teve a intenção de gerar uma reflexão e horas de debates após a sessão. Mesmo sendo ficção e possuir algumas situações absurdas para os olhos de alguns, é bom ver que o cinemão americano ainda tem consciência de que nós refletimos sobre o que vemos.
Tecnicamente o filme é quase impecável, mas muito se deve ao lado humano e esse tem um nome: Andy Serkis. Quando se pensa em desempenho capture (aquela técnica em que minicâmeras e sensores fornecem a base real para um personagem digital) o cinéfilo sempre se lembrará desse ator que injetou algo há mais além de dar movimentos aos personagens criados pelo computador. Deu a eles vida e fazer com que realmente enxergássemos e sentíssemos a vida através de suas expressões e não um mero boneco virtual.
Mesmo que Weta Digital seja pioneira nesse tipo de técnica e crie efeitos visuais soberbos, Serkis prova que o lado humano da atuação será insubstituível e ele não está só: interpretado por Toby Kebbll, Koba é outro personagem macaco que rouba a cena com seus conflitos e ódio vindo do seu interior. O personagem já havia chamado atenção no ato final do filme anterior, mas ninguém imaginava o quão longe ele chegaria nessa sequência, provocando discórdia entre humanos e macacos e criando situações imprevisíveis e que nos faz pular da cadeira.
Com um ato final que usa de elementos vistos no último capitulo da cine série Clássica (Batalha no Planeta dos Macacos), Planeta dos Macacos: O Confronto termina dando uma dica de que há mais trama vindo por aí. Se for o caso, torçamos que a qualidade de história, com altas doses de reflexão, que bombardeia em nossas mentes após sairmos da sessão, se mantenha na próxima aventura.