Não há pretensão no
universo dos filmes recentes de Woody Allen, mas nem por isso deixa de serem
incomuns as suas obras das quais ele lança. Café Society mostra um Allen agiu
no que irá mostrar, mas ao mesmo tempo disposto a trabalhar com novidades, pois
esse filme é o seu primeiro em formato digital. Isso faz com que se destaque
a bela fotografia de Vittorio Storaro,
já vencedor pela categoria em filmes como Apocalypse Now e O Último Imperador.
Para quem conhece de
cor a filmografia do cineasta, Café Society mostra todas as características e
marcas registradas que já foram vistas em seus filmes, mas sempre nos lançando
com um novo frescor para os nossos olhos. Pode parecer algo repetitivo em
alguns momentos, mas cabe ressaltar que conseguimos enxergar em suas obras
recentes uma forma do cineasta escancarar os seus próprios aprendizados que
teve ao longo dessas décadas de trabalho no cinema. Esse seu último filme me
parece um cruzamento entre o passado e seu presente atual e não se intimidando
em colocar na tela os seus erros e acertos e dando vida a eles através dos seus
personagens que criou.
A trama se destaca ao
apresentar todo o glamour do universo das celebridades dos anos 30, onde a
edição de arte e figurino molda aquele período visto na tela como um todo.
Contudo, o casal central vivido Jesse Eisenberg e Kristen Stewart deixa um
pouco a desejar em alguns momentos, pois a química vista entre eles realmente
não empolga em momentos dos quais deveria empolgar. Se Jesse Eisenberg se sai bem
como uma espécie de jovem Allen, Kristen Stewart novamente apresenta uma
atuação econômica e que ainda não me fez convencer que há uma versatilidade
dentro dela.
Felizmente a ala de
coadjuvantes salva o filme, principalmente quando Eisenberg contracena com
eles. Steve Carell se sai muito bem em cena, principalmente pelo fato do seu
personagem transitar entre a comédia e o drama, sendo que esse último o astro
provou ter talento de sobra. Ao interpretar um produtor de cinema, Carell
poderia cair na vala comum ao criar um personagem detestável. Contudo, sentimos
simpatia por ele e nos convence que os seus sentimentos vistos em cena, embora
confusos às vezes, soam verdadeiros.
Mas, como eu havia
salientado acima, o destaque vai mesmo para a bela fotografia de Vittorio
Storaro, do qual torcemos que seja lembrado na próxima premiação do Oscar. Por
ser um retrato dos anos 30, estamos diante de um período que sempre foi
romanceado pelos livros de história ao destacar o cinema americano. Com tons
pastel e luzes douradas, as imagens transmitem uma fábrica de sonhos da cidade
do cinema, mas não escondendo também um lado obscuro das engrenagens daquela
fabrica de contar histórias.
Ao som de Jazz,
enxergamos um Woody Allen do começo ao fim, mas maduro e aberto as novas possibilidades
que o cinema de hoje tem a oferecer. Porém, jamais deixando de lado a sua
essência e seu amor por filmar. Mesmo quando não é genial, Allen tem a proeza
de nos fazer rir e nos emocionar com o seu mundo neurótico, das possibilidades
do que é se apaixonar e viver a vida em uma sociedade tão glamorosa e
passageira quanto um bom cappuccino.
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