Alguns filmes que retratam os lados mais podres da Igreja Católica de antigamente (e atual), deve ter passado bem longe do Vaticano, pois arrumariam grandes dores de cabeça para ambos os lados. A batata quente dessa vez é A Religiosa, que possui diversas cenas incomodas, sobre os maus tratos que algumas freiras sofriam no século 17, por tentar desistir à sua vocação, morando em cubículos, tendo de sofrer torturas físicas e psicológicas. Além disso, o filme não se intimida em mostrar certos comportamentos dessas mulheres isoladas, que acaba contradizendo tudo o que uma mente conservadora acredita cegamente. É um filme que incomoda, mas também não exagera, pois a intenção não é somente chocar, mas sim fazer uma reflexão na medida certa.
Produção com uma fotografia das mais belas, com riqueza de detalhes do dia a dia do monastério, este filme nos revela uma impecável reconstituição daquele período, tendo ao fundo uma trilha sonora que se casa muito bem com cenas-chaves. Destaque também pelos belos figurinos, onde eles se destacam nas cenas ritualísticas da igreja.
É obvio que o principal foco da trama é mostrar como as regras, de uma das principais religiões do mundo, podem afetar de maneira diversificada cada uma das personagens, e a atriz Pauline Etienne consegue passar uma interpretação comovente como a bela e sofrida Suzanne. A atriz Isabelle Huppert é um destaque interessante como a Madre Superiora que se apaixona e assedia a jovem Suzanne - no final das contas compreendemos os seus sentimentos, de uma mulher presa internamente e sem poder liberar o que realmente sente. Um verdadeiro contraste de Louise Bourgoin, que faz uma madre que possui um punho de ferro tão terrível, que nos faz pensar como uma mulher pode querer ser freira e conviver o dia a dia ao lado dela.
Na 1ª versão do filme A Religiosa, do diretor Jacques Rivette (1966), foi muito comentado e até censurado em certos países pelo tema forte que envolve o sistema religioso católico, autoritário e severo naquele século. Resumindo, é um filme muito bem arquitetado ao representar os rituais da Igreja Católica, que ao mesmo tempo fascina e nos intriga a discussões inesgotáveis. As religiões devem levar ao caminho da comemoração e não para dor e tão pouco a prisão. Generosidade, compreensão, amor ao próximo devem ser pontuais na crença religiosa. E o que vemos no filme é justamente ao contrario, um lado tenebroso do catolicismo, em séculos anteriores onde a opressão eram permitidos em nome da Fé Cristã.
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