11 de junho de 2012

A Estrada (The Road, 2009)

A Estrada é um longa-metragem com um clima tenso, mas com um ritmo mais contemplativo. A trama não se desenvolve e o que recebemos como premissa do filme é um fiapo de história: um pai e um filho devem sobreviver em um mundo devastado por um evento apocalíptico não especificado - isso é, de fato, toda a informação que recebemos, seja no início, meio ou fim da obra. 

O trailer indicava que veríamos um thriller sobre canibais e a luta pela sobrevivência do pai e seu filho. Entretanto, o que acompanhamos é um filme mais intimista sobre a relação entre eles: as atitudes impensáveis que acabam parecendo senso comum em situações desesperadoras e, acima de tudo, a subjetividade dos acontecimentos, mas a certeza dos sentimentos que dominam a trama.

Viggo Mortensen entrega mais uma de suas interpretações abnegadas e recheadas de talento para o que poderia ser uma completa perda de tempo, não fosse a autenticidade mostrada pelo ator no papel de pai desesperado. Charlize Theron, Robert Duvall e Guy Pearce fazem aparições curtas e muito emocionantes. Destaque para Duvall que consegue condensar o âmago do filme em apenas algumas frases.

A fotografia impregna a tela com um cinza sem esperança, que parece afungentar qualquer possibilidade de final feliz nessa história. A iluminação é propositalmente precária e os atores são filmados sempre com fontes de luz indiretas e tênues, o que não os ressalta e acaba mesclando eles na escuridão e aos cenários, como se eles estivessem sendo absorvidos aos poucos por um cenário tão desolador. 
O fim do filme é um pouco Deus Ex-Machina demais para o meu gosto, mas não tem a pretenção de encerrar a trama de qualquer forma. A trilha sonora de Nick Cave salienta o clima de desolação e contribui para uma mescla de falta de esperança, marasmo e desolação.

A trama é baseada no livro de Cormac McCarthy, mesmo autor do livro que deu origem ao oscarizado "Onde Os Fracos Não Tem Vez". Ambas as obras compartilham temas como o ímpeto auto-destrutivo da humanidade, mas McCarthy tem um estilo cru que, se for mal traduzido para a tela, pode ser interpretado como incompleto.
A grande falha do filme é ter a pretensão de contar com a boa vontade do público para com uma história que não tem começo, nem fim. Não fosse pela intensidade da interpretação de Mortensen, não haveria muita possibilidade de interesse pela jornada dos protagonistas; qualquer tema apresentado, que são muitos e sempre obtusos, seriam perdidos e não teriam qualquer relevância para quem considerasse o filme.

No fim, A Estrada é um filme deprimente e que é pensado desde o início como um exercício de desesperança. Uma tradução capenga que apresenta um estilo rude como inacabado e que, caso conte com a boa vontade do espectador, pode ser devidamente apreciado e causar reflexões interessantes.


Um comentário:

Nat disse...

O problema do adaptação foi que o livro de Cormac McCarthy é uma grande metáfora de sua própria vida, coisa que ficou perdida quando a história passou para as telas do cinema.
O autor teve um filho há poucos anos, já em idade avançada, e "A Estrada" seria a história de um pai que não estará lá para ver seu filho crescer, em um mundo desolador. Embora o cenário seja apocalíptico na história, é uma grande metáfora para o mundo em que vivemos, que anda muito mal das pernas! Cormac não estará lá para acompanhar seu filho; no filme e na história, o pai também não tem certeza se estará. Por isso, vai ensinando ao menino algumas preciosas lições de vida.

Como vi o filme sabendo disso tudo, a minha experiência foi muito positiva. Mas penso que sem esse pano de fundo, fica difícil mesmo gostar da história. Talvez não tenha sido uma boa obra para adaptar para o cinema mesmo.

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