Muitas vezes surgem
casos em que a situação é tão absurda que supera qualquer filme de ficção. O
roubo da taça Jules Rimet é um desses casos de situações que beiram ao absurdo,
ao ponto de se tornar tragicômico. Não é de se surpreender que, mais cedo ou mais
tarde, haveria uma adaptação que levasse para as telas aquela história cabeluda
e O Roubo da Taça veio para nos brindar com uma comédia caprichada e
nostálgica.
Estamos em 1983, onde
o Brasil ainda sofre nas mãos de um governo golpista, mas que começa a dar
sinais de despedida. Nesse cenário de cores quentes, mas sem muita esperança
com relação ao futuro, o brasileiro aposta as suas fichas de felicidade no
futebol, mas não se dando conta que a própria CBF, nada mais era do que uma
representação do próprio governo falido do país. Isso acabou gerando o
desaparecimento da Taça Jules Rimet dentro da própria sede, sendo que poderia
ter sido evitado, se não fosse um erro grotesco e fora do normal vindo das mãos
do Presidente da época (Stepan Nercessian).
Vindo de
documentários, Caio Ortiz cria uma ácida comédia de humor, por vezes pastelão,
onde vemos a figura do malandro carioca, representada pelo personagem Peralta
(Paulo Tiefenthaler) tentar a sua última jogada desesperada para pagar suas
dividas de vida ou morte. Roubar a replica da taça seria até uma boa idéia.
Porém, ela se torna má, no momento que o protagonista descobre que roubou
justamente a taça verdadeira, mas graças a um erro criado pelo próprio
Presidente da CBF.
O roteiro não poupa
os personagens centrais ao se meterem em situações absurdas graças à batata
quente que tem em mãos. Segundo o próprio cineasta, as situações que mais
beiram ao surreal na trama, são momentos que realmente aconteceram na vida
real. Por mais que isso possa ser questionado, os personagens e suas motivações
vistos na tela são de um grau de verossimilhança que nos convence e o absurdo
acaba se tornando convincente.
Claro que o roteiro
somente funcionária graças a um ótimo elenco e é exatamente isso que a produção
tem. Paulo Tiefenthaler faz do seu Peralta uma espécie de malandro do RJ
marcado pela decadência, mas não deixando de lado a persistência em se dar bem,
mesmo quando faz de tudo para só se dar mal. Mas é Tais Araujo, que ao fazer
Dolores, esposa de Peralta, que dá um verdadeiro show de humor, sensualidade e
nos surpreendendo até mesmo nos minutos finais da trama.
Tecnicamente o filme
é um colírio para os olhos, pois Ortiz caprichou na reconstituição da época. A
RJ de 1983 é vista aqui com cores quentes, exalando um frescor de uma época já
distante, mas que nos cria uma deliciosa sensação de nostalgia. Moda, costumes
e política se cruzam nessa reconstituição de época e sintetizando muito bem o
principio do fim daquele período de tempos de chumbo.
O Roubo da Taça é uma
deliciosa comédia brasileira que, diferente de outras descartáveis, nos faz rir
da situação absurda, mas bem convidativa.
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