Se o cinema de aventura e fantasia se sustenta cada vez mais com superproduções baseadas em HQ do momento, o cinema de horror e suspense atual ganha frutos graças a obras baratas, porém, recompensadoras. Esse ano não foi diferente, mas ao mesmo tempo, filmes como Invocação do Mal 2 e Quando as Luzes se Apagam, pecaram ao nos apresentar tramas que acabam caindo um tanto que na previsibilidade. Não é o caso de O Homem nas Trevas que, embora tenha alguns clichês, ganha a nossa atenção por criar momentos imprevisíveis e angustiantes.
A trama é simples, porém, nos atrai. Um trio de jovens assaltantes decide invadir e roubar casas de uma Detroit cada vez mais abandonada após a crise mundial. Após inúmeros roubos, decidem roubar uma grande quantia de dinheiro de um ex-soldado cego, para assim finalmente mudarem as suas vidas. O que eles não sabem é que não deveriam ter subestimado justamente o habitante cego da casa.
Assim como na ótima refilmagem A Morte do Demônio, o filme é produzido pelo cineasta Sam Raimi, mas é dirigido pelo seu discípulo, o uruguaio Fede Alvarez, que havia impressionado Raimi com o seu curta Ataque de Pânico e fez com que ganhasse um convite para trabalhar em território americano. Embora tenha apenas dirigido até agora dois longas metragens, Álvares nos impressiona, pois o que vemos na tela é uma verdadeira aula de como se faz um bom suspense, usando uma fotografia sombria e fazendo da câmera uma ferramenta narrativa mais do que essencial.
Uma vez que o trio de assaltantes entra na casa, a câmera de Alvarez perambula o local em planos sequências mirabulantes, nos mostrando até mesmo peças chaves e fazendo com que o cinéfilo já se prepare pelo pior que irá acontecer na tela. Uma vez que o dono da casa tem conhecimento de que seu lar está sendo invadido, começa então uma verdadeira caçada de gato ao rato, onde tudo pode acontecer na escuridão. Nesse jogo de suspense e tensão, cabe o cinéfilo decidir de que lado ele fica, pois não há heróis ou vilões na trama, mas sim pessoas comuns, cuja suas falhas humanas os levam para um caminho sem volta.
Se no princípio poderíamos até tachar mal o trio central, o roteiro gradualmente nos mostra que, no fundo, alguns deles procuram a sua redenção pessoal. Rocky (Jane Levy) procura uma forma de fugir de uma vida desregrada e tentar dar uma vida melhor para a sua irmã menor. Vista em A Morte do Demônio, Jane Leyy demonstra versatilidade e fibra, ao encarar um filme do qual exige muito esforço físico, mas que ao mesmo tempo saiba transmitir momentos de puro desespero.
Contudo, a alma do filme se encontra na presença sinistra do homem cego, interpretado com intensidade pelo ator Stephen Lang (Avatar), Mesmo usando lentes brancas que o fazem não enxergar nada em cena, Lang nos convence do começo ao fim que é um ex-veterano de guerra e passando para nós em cena um auto grau de verossimilhança. Embora o seu personagem possua motivações e segredos da casa que se revelam um verdadeiro clichê dentro do gênero, tudo é compensado quando as ações do personagem se elevam num grau cada vez mais sinistro, mesmo quando o roteiro nos faça entender o motivo dele ter chegado a tal ponto.
Com uma cena inicial que já nos prende e se enlaça nos momentos derradeiros da trama, O Homem nas Trevas é um frescor dentro do gênero de horror deste ano, principalmente para aqueles que buscavam mais desafio e menos fórmulas desgastadas.
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