10 de novembro de 2015

BEIRA MAR

Enquanto a nossa política brasileira vive num verdadeiro retrocesso, o nosso cinema brasileiro se garante em mostrar a realidade de ontem e hoje e fazendo com que a gente nunca se esqueça o quanto o nosso mundo é diversificado, seja na cultura, costumes, raças e etc. Levando em Consideração a isso, é bom ver que há filmes que estejam retratando pessoas que, por vezes, se encontram presas em correntes invisíveis, mas uma vez livres delas, se aflora finalmente o tipo de pessoa que elas estavam predestinadas a serem.  No filme Beira Mar, dirigido pelos cineastas Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, assistimos a amizade de dois rapazes que, gradualmente, vão arrebentando as suas correntes interiores, para finalmente então conhecerem eles mesmos nos seus primeiros anos da adolescência.
O filme mostra a viagem dos jovens gaúchos Martin e Tomaz rumo ao litoral, para resolverem assuntos relativos a uma herança. Diversas informações são escondidas do cinéfilo, como a relação dos garotos com seus pais e um com o outro. Porém, os cineastas explicam o mínimo necessário para que esses personagens se tornem complexos, e sua jornada seja compreensível ao público.
Curiosamente, a dupla central não escancara o que eles realmente são com as palavras ou ação, mas sim através do silêncio e da sensação de incomodo que ambos sentem naquele mundo em que eles passam no litoral. Em meio a isso, ambos passam por desafios perante as outras pessoas, sejam elas familiares, ou até mesmo entre amigos e nos passando a sensação de que ambos não estão à vontade em meio a elas. A sensação de “um estranho no ninho” é visível, seja em maior ou menor grau, onde nem sequer na relação paternal eles conseguem algum conforto, sendo que dali se poderia tirar alguma luz para os conflitos internos que os aflige.
Embora os atores Mateus Almada e Mauricio José Barcellos aparentem serem pouco experientes na área da atuação, se percebe o quanto eles se expressam de uma forma bem crua e natural na frente das câmeras. Como a proposta do filme é passar sobre uma realidade em que as pessoas não sabem ao certo como se comunicarem realmente, a dupla central acaba por se encaixarem perfeitamente nessa proposta. Ambos acabam tendo uma ótima sintonia em cena, mesmo passando a sensação de freio em seus desejos e objetivos um pelo outro.
Quando acontecem os “finalmente” os cineastas Filipe Matzembacher e Marcio Reolon não criam algo explicito, mas sim algo muito bem filmado no que diz a respeito sobre amor carnal entre duas pessoas do mesmo sexo. A cena não mostra de forma explicita, mas sim sugestiva, principalmente quando vemos um deles somente pelas costas e uma parte de sua cabeça em movimento. A cena já diz tudo o que acontece, mas vale mais pela sugestão e fazendo com que nos demos conta de que se tivesse sido filmada de outra forma não teria o mesmo impacto.
Uma vez consumido o ato, um deles abraça o cenário em que ambos se encontram e selando então a paz interior que antes estava sempre em conflito. Simplificando: o filme nada mais é do que um retrato do lado adulto nascendo em jovens que a recém entraram na adolescência, mas que felizmente descobriram cedo as suas reais identidades perante o mundo em que vivem. Com pequenas referencias a outros filmes (como Azul é a Cor Mais Quente), Beira Mar é um filme simples, singelo e que nos ensina o quanto é grande o desperdício de tempo em compreendermos as pessoas que não entendem o seu próximo, quando na realidade só basta sermos nós mesmos.
 

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