Para um cinéfilo atento, percebe-se que as produções Pernambucanas se transformaram em referências em termos de qualidade e de um olhar mais autoral do nosso cinema brasileiro. Com isso, títulos como O Som ao Redor, Tatuagem, Verônica e A Febre de Rato colheram inúmeros prêmios nessa fase que muitos intitulam a “nova onda” do cinema Pernambucano. Permanência, dirigido pelo cineasta Leonardo Lacca, mantém essa tendência desse cinema de lá, adquirindo sucesso de critica e inúmeros prêmios em outros estados.
Embora mantenha o mesmo trajeto em termos de qualidade dos filmes citados, a trama é simples: Ivo (Irandhir Santos, ótimo como sempre) é um fotografo que vai a São Paulo para inaugurar sua exposição de fotografias. Ele acaba se hospedando na casa da ex namorada Rita (Rita Carelli), que atualmente é casada. É nesse reencontro que se iniciam inúmeros atos e consequências, mas de uma forma não convencional.
Embora a trama venda um romance não resolvido, não se trata de uma simples história de amor. Leonardo Lacca se mostra mais interessado em focar um lado mais sugestivo da trama, ao em vez do que é propriamente dito nas cenas através dos protagonistas. O silêncio dos personagens, os seus olhares e suas expressões, falam muito mais do que simples palavras. Com isso, o cinéfilo se lança a uma teia de inúmeras teorias sobre o que realmente aconteceu com o casal central e fica se perguntando sobre o futuro deles.
Falando em silêncio, é interessante que há inúmeros momentos silenciosos, para logo depois ser intercalados com muitos barulhos vindos de uma cidade grande como São Paulo. A meu ver, é uma forma de mostrar como os dias corridos de hoje interferem no cotidiano da pessoa, fazendo dessa, um ser humano desligado do seu próximo em meio à selva urbana. É nesse pensamento que me vêm à mente o personagem Mauro (Silvio Restiffe), arquiteto e casado com Rita que, embora aparente ciúmes do ex dela, ao mesmo tempo não se esforça para dar melhor atenção a ela.
Curiosamente essa não é a primeira vez que Leonardo Lacca trabalha com a dupla de personagens principais. Em 2007, ele havia dirigido o curta Décimo Segundo, que lhe garantiu o prêmio de melhor direção no Festival de Brasília. Comparando as duas obras, percebe-se que o curta é um pequeno ensaio do que viria a ser esse longa atual.
Como sempre, Irandhir Santos é a alma do filme, mesmo quando contracena com coadjuvantes que se tornam tão bons quanto ele próprio em cena. O final é ambíguo, fazendo com que desejamos saber qual seria o próximo passo de cada um daqueles personagens em meio à selva de concreto que, por vezes, atrapalha uma relação como um todo. A relação acaba, mas não significa que o amor termine para cada um dos protagonistas.
Embora com toda a sua simplicidade, Permanência talvez venha ser a que nem um bom vinho vindo, que ficará melhor no decorrer do tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário