O documentário chileno Nostalgia da Luz nos brinda como cenário principal o Deserto do Atacama, onde astrônomos se utilizam da transparência do céu para explorar a infinitude do universo em busca de vida extraterrestre. Paralelamente, ocorre outro tipo de busca. O longa-metragem também debate a procura, por um grupo de mulheres, de corpos de parentes desaparecidos durante o período da severa ditadura do general Augusto Pinochet. Também é neste cenário que arqueólogos pesquisam os vestígios das civilizações pré-colombianas, como pinturas rupestres e fósseis.
Nostalgia da Luz utiliza-se de composições poéticas, explorando, de maneira singular, metáforas e comparações. O documentário explora constantemente o paradoxo existente entre o moderno e o passado. Isso é evidenciado pela própria composição do ambiente cinematográfico, marcado pelo Deserto do Atacama que carrega o passado das antigas civilizações e elementos modernos inseridos nesse cenário, isto é, os centros de observações astronômicas. Percebe-se, nitidamente, o emprego de planos estáticos e meditativos que realçam a beleza de objetos prosaicos. Além disso, o filme lida com a obsessão humana pelo passado e discute a contradição que há no fato de ignorarmos, comumente, nossa História recente.
Valendo-se de composições de imagens que prendem a atenção do espectador, Nostalgia da Luz surpreende através de planos inspiradíssimos, marcados pela representação ímpar do espaço sideral, bem como de fotografias justapostas dos desaparecidos políticos. É importante lembrar que, assim como o conteúdo do filme, as imagens também se comunicam através das metáforas e das comparações. Ao trazer a superfícies da Lua em uma das tomadas, Guzmán sugere a representação de um crânio humano.
O filme é espetacular e fundamental para a reflexão de todas as sociedades humanas. Os constantes questionamentos, aos quais o ser humano está submetido, são evidenciados ao longo do documentário. Ademais, o filme oferece uma fantástica visão filosófica sobre a existência e a condição humana, a qual é, durante todo o longa-metragem, comparada com a infinitude, as dúvidas e o mistério do cosmos.
A produção cinematográfica chilena faz uso de uma sensibilidade única, que permeia tanto a narração pausada e cuidadosa como a própria composição fotográfica e sonora do longa. Nostalgia da Luz abre portas para a discussão, para a reflexão e, sobretudo, para problematizar o verdadeiro sentido da nossa existência e preocupações como seres humanos.
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