13 de janeiro de 2015

Acima Das Nuvens (Clouds of Sils Maria, 2014)

O cineasta Assayas cria um magnífico jogo de metalinguagem, que introduz as protagonistas do filme, as protagonistas do teatro, e porque não, as próprias intérpretes do filme, que saltam à vista, foram escolhidas de uma forma bem pensada para os respectivos papéis. Este jogo de xadrez psicológico mostrará a preciosidade do roteiro de Acima das Nuvens que, não apenas nos apresenta uma trama em que a sutileza domina a obra como um todo, como conta com um ótimo texto em que apresenta uma personalidade distinta das duas protagonistas. Além de todo esse jogo linguagem, há inúmeros diálogos corajosos sobre a passagem de tempo e, com ele, nos vem uma forma de pensar sobre a maneira de se ver cinema de ontem e hoje. O diretor é hábil em entender um ser como Maria, completamente fora de sua época, na forma de não conhecer o que rola no mundo atual, do show business, assim como de desvendar o próprio show business e até brincar com ele.

Para estabelecer todos estes jogos no roteiro, o filme conta com uma atuação novamente competente de Juliette Binoche, que ainda nos surpreende quando se coloca em um novo desafio, e encarna na tela uma personagem que pode ao mesmo tempo se dividir em várias outras, assim como no fundo por ser ela mesma, Juliette em toda sua complexidade. Kristen Stewart (que provou ser atriz de verdade em Na Estrada) não deixa nada a desejar e cria um grande feito ao manter a sua presença forte na tela, mesmo dividindo a cena como alguém de interpretação precisa como de Binoche.

Com referências subliminares com relação outros clássicos do cinema como Persona e Aventura, Acima das Nuvens ainda soma uma mise-en-scene fortíssima, que só prova mais uma vez a qualidade de Assayas, que nos entrega uma poesia visual com diversos momentos não apenas bonitos esteticamente, mas que também mostram toda a força do cinema, que pode nos tirar algo, de repente, sem que saibamos se este algo sumiu, morreu, ou fugiu. Mas nos deixa essa dúvida, que nos consome e nos preenchem, como as nuvens que preenchem os desfiladeiros de Sils Maria em uma dança que faz lembrar o rastejar de uma cobra.


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