Embora as adaptações de HQ de super-heróis estejam vivendo a sua era de ouro nas telonas, sinceramente sinto que está faltando novidade. Não que as adaptações sejam ruins, elas são ótimas, mas para alguém como eu que cresceu lendo de cabo a rabo inúmeras HQ de super-heróis, tudo que eu vejo na tela são os meus velhos conhecidos de longa data. Se formos pensar dessa forma, Guardiões das Galáxias se torna, desde então, a maior novidade dessa leva de adaptações, já que é baseado numa HQ, mas que tanto o público em geral, como também aqueles que viveram e vivem de HQ (como eu) não tinham ideia de quem eram esses personagens... e isso, meus amigos, se tornam um grande ponto a favor.
Quando a Marvel Estúdios anunciou que adaptaria essa obscura HQ, muitos acharam que seria o maior tiro no pé ao adaptar algo que ninguém conhece. Mas aí é que está a chave do sucesso, pois se a maioria do público não conhece quase nada da história, o filme não sofreria a terrível mania de comparações que os fãs tanto pregam quando chega uma adaptação. Do começo ao fim, o filme é livre, leve e solto de comparações, como se a produção fosse 100% criada originalmente para o cinema.
Dirigido por James Gunn (recém saído do universo de filmes B) o filme se inicia em plena década de 80, onde nos é apresentado o protagonista Peter Quill ainda jovem, prestes a perder a sua mãe na luta contra o câncer (momento esse que será crucial no ato final da trama). O filme já começa desconcertante, com uma cena super dramática, para logo em seguida nos fazer mergulhar em outra galáxia multicolorida e nos deparar com Peter Quill já adulto, em busca de uma esfera valiosa no primeiro calabouço de Guardiões da Galáxia, pega o seu walkman, aperta play e dança ao som de "Come and Get Your Love". Essa genial abertura serve como cartão de visita que o filme dá para aquele que está assistindo e dizer: venha se divertir com a gente, pois o filme será entretenimento de primeira.
Mais do que divertido, a aventura espacial é nostalgia pura, embalada com as melhores músicas de sucesso dos anos 70 e 80 no qual uma pessoa na casa dos 30 ou 40 anos irá se identificar facilmente e se emocionar a cada momento. Sinceramente, não me lembro de um filme recente tendo uma coletânea de trilhas tão boas (minha preferida tocada durante o filme é "Cherry Bomb”, por The Runaways) e me arrisco a dizer que essa é a melhor desde Pulp Fiction há exatos 20 anos. E como cereja no bolo, o filme, com um todo, é a melhor aventura espacial desde Star Wars e resgata aquela febre em que o cinema foi bombardeado de inúmeros filmes que pegavam a onda do sucesso da obra de George Lucas.
Embora a esfera seja a peça poderosa de toda a trama, ela no final das contas serve como mera desculpa para reunir a turma de heróis mais desajustada e imprevisível jamais vista. Corrigindo: eles nem sequer são super heróis, pois temos Peter Quill como mero aventureiro e encrenqueiro, Groot, uma árvore humanóide (voz Vin Diesel), o caçador de recompensas, esquentado (um texugo!) e rápido no gatilho Rocket Racoon (Bradley Cooper), a sombria e perigosa Gamora (Zoe Saldana) e, por fim, o vingativo Drax, o Destruidor (Dave Bautista). Com isso, temos um quinteto com personalidades distintas, desajustadas, mas que serão forçados a se unirem, não para somente salvar o universo, como também as suas próprias peles.
Embora haja em cena Ronan (Lee Pace) como a grande ameaça na trama e a participação especial de um dos maiores vilões da Marvel que é Thanos, eles pouco tem algo para acrescentar e nem de longe possuem a carisma de vilões já apresentados do universo Marvel do cinema, como Loki, porvexemplo. Mas isso é o de menos, pois o coração do filme está na difícil relação improvável dos cinco personagens, de como eles terão que deixar de lado os seus egos inflados se souberem trabalhar em equipe mesmo nos momentos de crise. Não tem como não se deliciar nas cenas em que os cinco se reúnem, discutem e soltam piadas a todo o momento, principalmente vindas de Rocket, que com um trabuco na mão e piadas prontas na outra.
Visualmente, o filme é o mais belo até aqui dos filmes da Marvel, onde se tem um grau de realismo ao universo fantasioso, que irá surgir a cada momento na projeção e com criaturas fantásticas (num empenhado trabalho de maquiagem de Elizabeth Yianni-Georgiou). Para tornar tudo mais maravilhoso, o design de produção de Charles Wood oferece mundos ricos em detalhes, desde o crânio gigante que serve de colônia mineradora até o belo planeta Xandar, com seu visual limpo e que por vezes me lembrou o universo visto no filme O Quinto Elemento de Luc Besson. Visualmente, o filme é tão colorido que dá a sensação, em alguns momentos, que os personagens realmente saíram de uma HQ leve, divertida e sem nenhum vestígio de tempos mais sombrios.
Mesmo com as piadas e o bom humor visto nas produções anteriores da Marvel, percebemos agora que, como os produtores levavam aquilo tudo muito a sério. Aqui é o inverso, pois sentimos a todo o momento eles nos dizendo para relaxar e curtir uma aventura espacial descompromissada, mas que jamais ofende a nossa inteligência. Em tempos em que cada vez mais se exige adaptações de HQ com um pé na realidade, é bom ver que ainda há espaço para a fantasia e um filme para toda a família.
Resumindo, Guardiões das Galáxias é, desde já, um dos melhores e mais divertidos filmes do ano, onde você sai com um sorriso largo no rosto do cinema e deseja revisitar aquele universo de personagens desajustados, mas que são tão humanos quanto qualquer um nós.
NOTA: Assim como nos filmes anteriores, não deixe de ver uma cena extra após os créditos, pois há uma participação de um personagem super conhecido do universo intergalático da Marvel.
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