No mundo de hoje, em que mais temos incertezas do que segurança, por vezes, nos vemos em relacionamentos amorosos que mais parecem pontos de fuga para não encararmos o mundo sozinho ou, até mesmo, uma forma de fugir de uma idolatria que nós não queremos. Tudo é questão de, talvez, não desejarmos ter o peso nos ombros, de nos sentirmos livres de certas responsabilidades. Mas, no final das contas, ou somos nós mesmos ou nos perdemos na neblina.
No mais novo filme de Karim Aïnouz (de O Céu de Suely) acompanhamos Donado (Vagner Moura), transitando entre a responsabilidade de se manter como salva-vidas, manter sua imagem como herói na visão de sua família, que é representada pelo seu irmão mais novo (Jesuíta Barbosa) e a chance de escapar desse mundo e viver um tórrido romance com Konrad (Clemens Schick) um alemão que vive em Berlim. A partir do momento que Donato e Konrad se conhecem após um trágico evento, eles se veem na chance de recomeçar do zero juntos. Porém, fica a pergunta: até aonde vai a sinceridade desse relacionamento?
Aïnouz é habilidoso em explorar de forma gradual a transformação do trio central, onde todas as facetas de suas personalidades aos poucos vão se descascando para apresentar uma nova imagem para o público. Contudo, não espere mudanças extraordinárias de cada um deles, sendo que eles apenas amadurecem com relação ao que cada um sentia e via com relação ao mundo em que se vivia. A mudança mais sentida é vinda do irmão mais novo (Barbosa), mas que mesmo sofrendo devido à ausência do seu irmão durante anos, acaba por se descobrindo e se revelando alguém até muito melhor do que o seu próprio irmão que um dia tanto admirava.
Dividido em três capítulos, o filme possui uma fotografia extraordinária, sendo que o primeiro possui uma luz e cores fortes, representando tempos mais dourados. Já o segundo e terceiro capitulo, se apresenta com um visual que representa o estado de espírito dos protagonistas, sendo tudo acinzentado e indefinido. A cidade de Berlim no final das contas se torna visualmente o interior em conflito de cada um dos três, mas que uma vez unidos talvez encontrem uma luz no final da estrada, mesmo com a neblina tão carregada.
Com uma bela trilha que nos brinda com alguns clássicos já conhecidos, Praia do Futuro talvez tenha vindo com o intuito de representar essa indefinição interior em que nós vivemos nesse nosso mundo atual e talvez não esteja muito longe da verdade.
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