28 de janeiro de 2014

ÁLBUM DE FAMÍLIA (August: Osage County, 2013)

Os filhos são castigados pelos pecados dos pais? Essa era a pergunta que me soava na cabeça após a sessão de Álbum de Família, que é o tipo de filme que provoca inúmeras emoções e o espectador não tem como não se identificar com a situação de cada um dos personagens. Dizem que não se fazem mais famílias como antigamente, mas acredito que os problemas corriqueiros da família contemporânea não são muito diferentes dos problemas de outras de décadas atrás, que, por vezes, eram bem piores. Tudo depende da criação de cada pessoa que, por sua vez, irá criar a sua família, de acordo como ela foi criada.

Dirigido por John Wells (Não estou lá), o roteiro foi criado por Tracy Letts, responsável também pela criação da peça em que o filme se baseou, o que faz com em alguns momentos a gente consiga sentir o lado teatral da história. Mas, diferente de filmes recentes como o Deus da Carnificina, a trama se desloca fora do cenário principal, mas, a meu ver, a trama funcionaria muito bem num único local. O cenário pouco importa, mas sim os seus personagens estupendos, interpretados, cada um deles, por astros no ápice de suas interpretações.

Após o sumiço do marido Beverly (Sam Shepard), Violet (Maryl Streep) recorre às filhas (Roberts, Nicholson e Juliette Lewis), à irmã (Martindale) e ao cunhado (Chris Cooper). Viciada em remédios e com um câncer na boca, a matriarca passa anos-luz de ser uma pessoa amável com suas filhas, atacando verbalmente sem dó elas, principalmente Barbara, vivida por Roberts. A filha se mudou da cidade há vários anos e passou um bom tempo sem visitar os pais. Agora, ela volta para casa na companhia do ex-marido (McGregor) e da filha (Abigail Breslin).

Não é segredo para ninguém que, em meio a esse grande elenco, quem rouba a cena novamente é Meryl Streep: dona de uma presença magnética, a atriz surge em cena com a sua personagem, nos primeiros minutos de projeção e já da uma dica do que irá acontecer no decorrer do filme. Envelhecida, esfarrapada, enfraquecida, mas com uma língua afiada, capaz de destroçar o coração mais duro à sua frente. Sua atuação  transmite para o cinéfilo, todas as cicatrizes verbais, emocionais e físicas que a personagem passou ao longo da vida e, mesmo ela magoando a todos em sua volta, nós compreendemos ela ser assim e ter chegado aonde chegou. Dificilmente a atriz não receberia a sua décima oitava indicação ao Oscar.
Com um elenco de quilate, formado tanto por nomes conhecidos como, Julia Roberts, Ewan McGregor, Chris Cooper, Juliette Lewis, Benedict Cumberbatch, como também nomes menos conhecidos (mas talentosos) como Julianne Nicholson, Margo Martindale e Misty Upham, todos eles tem o seu tempo de participação em destaque no filme, principalmente Cumbergatch. Embora sua participação seja pequena, não deixa de ser tocante, principalmente numa cena onde ele toca um piano. Como os problemas familiares são o foco principal da trama, todos os protagonistas se reúnem numa cena chave (um jantar), em que cada um, principalmente a personagem de Streep, deixa a máscara cair e revelar a verdadeira face dessa família. Essa cena é disparada o melhor momento, onde cada um fica com os nervos à flor da pele e Julia Roberts apresenta aqui o melhor desempenho de sua carreira, sendo algo que não se via desde Closer: Perto Demais

Com uma trama que envolve alcoolismo, suicídio, câncer, dependência química, adultério, pedofilia, divórcio e incesto, Álbum de Família possui uma alta dose de humor negro, dramático e emocional, capaz de fazer com que cada um que saia da sessão, acabe caindo numa verdadeira dose de reflexão interna e espiritual.


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