13 de novembro de 2008

O ADVERSÁRIO (L'Adversaire - 2002)


L'Adversaire (França, 2002), concorreu em Cannes e, para mim, foi a melhor produção francesa desse ano. O longa-metragem é baseado numa história real, mas é ficção. Como a própria diretora, Nicole Garcia, afirma, a partir do momento em que se retrata algum fato num filme, ele passa a ser ficção. Apegada a esse conceito, ela foge da tradição de pegar atores desconhecidos para dar um caráter mais verossímil - como se fosse um documentário - e chama para o papel principal o ilustre Daniel Auteuil (do Closet, 2001). Garcia se inspirou principalmente no livro O Adversário de Emmanuel Carrère, que conta a história de Jean-Claude Romand, um homem que mente para a mulher, os pais, os filhos e amigos por quase 20 anos dizendo que é médico.

No filme o personagem se chama Jean-Marc Faure. Quando começam a desconfiar dele, ele não suporta a vergonha e, ao invés de contar a verdade, ou fugir, ou qualquer outra coisa, ele resolve matar o casal de filhos, a esposa e os pais. A história é triste, super dramática, o telespectador sofre junto com o personagem de Auteuil, torce por ele e contra ele.

O interessante é que a obra não é sensacionalista, mas minimalista. Cada gesto, cada olhar é atormentador e traz várias interpretações. O filme trata do drama dele, de como passou a vida fugindo de compromissos e mentindo para as pessoas que o queriam bem; de como ele era doente, até surtar e realmente não saber o que estava fazendo; de como ele não sabia mais o que era certo ou errado. O filme tratou isso tão bem que Nicole Garcia nem se preocupou em dar um enfoque para os assassinatos. O fato de ter passado 20 anos mentindo sobre tudo para as pessoas mais próximas é tão fantástico que um desfecho trágico chega a ser previsível e pouco importante. A reflexão é: Como pode, um homem criado por pessoas honestas e descentes, tão dedicado à familía e aos amigos, realizar tal façanha?
A direção de arte também é muito interessante. Os acontecimento do "presente" são sempre muito sombrios e carregados de cinza, como era a sua vida. No entanto os flashbacks, tratam dos momentos mais felizes e são sempre muito coloridos, com muita iluminação. Um contraste constante no filme, como a personalidade dúbia do personagem principal. No fim, percebemos que "o adversário" é sempre ele mesmo, como retrata tão bem a imagem acima.

Muito, muito bom. Tem que assistir.


Um comentário:

Raquel disse...

Puxa...compartilho exatemente da mesma opinião! Parabéns pela análise!!Gosto muito do eu blog!

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