IT: uma obra-prima do medo da nova geração
O ano era 1992. Eu tinha 6 anos e 6 anos de diferença da minha irmã mais velha, fanática por filmes de terror. Tal como George com Bill, ela era minha heroína. Mas diferente do Bill ela não me deu um barco de papel naquelas férias; ela deixou eu participar do seu principal hobby: assistir filmes de terror. Foi assim que vi “IT – uma obra-prima do medo (1990)” e tive a maior experiência de pavor da minha vida. Porque o que eu mais temia eram palhaços e balões. Mal sabia que os nascidos de 1986 teriam motivos para isso: o livro de Stephen King foi lançado nesse ano. E eis que tal como a obra do mestre da literatura de terror e suspense, IT retornou para atormentar a minha geração e fazer uma nova de vítima. Então, vamos falar sobre a nova versão, IT – A coisa (2017).
A estreia no país foi no feriado de 7 de setembro e causou grande expectativa no público. Muitos foram os atrativos. A editora Suma das Letras promoveu leitura coletiva da sua edição do livro. E com o ator Finn Wolfhard no elenco, não houve dúvidas de que assim como Stranger Things bebe da fonte de King, o filme traria, e trouxe, muito do ar da série, apesar dos diretores dela terem sido rejeitados para produzir o longa. Porém, algo quase abalou o filme, que foi a caracterização do palhaço. Afinal, porque tão diferente do palhaço do thriller de 1990, que até hoje causa desvios de olhar e falência de circos (exageeero, mas se dependesse de mim)? Isso a equipe da página Adoro Cinema esclareceu divulgando entrevista do diretor, Dan Lin, que preferiu trazer referências dos palhaços do século XIX, já que “a coisa” é referenciada na obra como existente desde a fundação da cidade de Derri, no Estado do Maine (EUA, e faço questão de citar a cidade e Estado porque permeiam as obras de King).
Vamos às impressões sobre o filme. Assisti a versão anterior e fui para o cinema sozinha porque pessoas medrosas têm amigos medrosos. Pedi a poltrona N11 e a balconista me transmitiu um olhar de palhaço, eu senti, mas pode ter sido só a reação de ter ido com cenas de IT 90’s na cabeça. Cheguei com minha pipoca na fila e minha poltrona foi marcada como E11, a do meio na primeira fileira. Não fosse a pipoca eu teria ido embora, realmente teria, AH! SE TERIA! Mas posso afirmar para vocês que se ainda não foram assistir ao filme, sentem no meio na primeira fileira. Fez toda a diferença para a recepção da trama. Porque o filme trabalha bem o periférico, o 'procurar antes do personagem' de onde virá o perigo.
O clube dos otários é o centro, composto por 7 crianças da cidade de Derri, e aqui senti um jogo de agradar fãs antigos sem deixar novos expectadores sem novidade. It é um medo difuso, assume a forma que irá apavorar mais suas vítimas para as prender pelo seu pavor, e cada personagem do clube dos otários tem seu momento de a coisa, só que nem todas as cenas são iguais. Para não fazer uma enxurrada de spoiler, vou me prender ao personagem de Ricthie Tozier (Finn Wolfhard, e sim sou fã nº 1 de Stranger Things), que no 90’s tem seu medo concretizado em um lobo, e no 2017’s tem o medo mais icônico: palhaços (bate aqui!). O foco também muda, enquanto no primeiro longa Mike é responsável pela parte nerd de entender o que acontece com Derri, na nova versão essa missão cabe a Ben. Independente das mudanças, as cenas de terror causam grande impacto, intercaladas com a trama envolvendo lealdade e empatia entre amigos. Isso é marcante nas obras do King, pois há sempre uma história bem desenvolvida que poderia facilmente ter o elemento de terror retirado. IT já seria uma ótima história se retratasse apenas o clube dos otários.
Agora vamos ao principal: Pennywise, o palhaço. Apesar de ter lógica a opção do diretor de mudar a caracterização do palhaço, o que possibilitava a aproximação dele com as crianças era ele ser um palhaço comum, com trajes atuais. Alguém em sã consciência conversaria com o novo Pennywise? É achar que o pobre George com sua capinha de chuva amarela é o presidente do clube dos otários! Os efeitos especiais sempre presentes no olhar do novo IT trouxe a impressão de algo surreal demais, que já traria desconfiança de qualquer pessoa, o suficiente para sair correndo, flutuando, o que quer que fosse possível!
Por fim, cabe lembrar que o primeiro filme retrata todo o livro, e começa com os personagens já adultos. No novo, temos uma franquia com a sua primeira parte destinada a desenvolver a infância dos personagens. Porém, a intenção foi essa mas não acho que tenha alcançado o objetivo, já que principalmente em relação a Ben é tudo muito confuso, enquanto no filme anterior é possível entender bem cada personagem.
De qualquer modo, o filme é uma nova obra-prima do medo. Saí igualmente apavorada, embora não ter mais 6 anos de idade e ter um gato como companhia (principalmente) tenha me ajudado a dormir. Recomendo que assistam e caso não tenham visto o primeiro filme terão gratas novas impressões. Sim, meu amigo, YOUR GENERATION WILL FLOAT TOO!
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