Quando lia os meus
gibis dos X-Men nos tempos de escola eu sempre ficava me perguntando qual seria
o ator ideal para ser o Wolverine no cinema. Quando Hugh Jackman surgiu pela
primeira vez na pele do personagem em 2000 em X-Men: O Filme, logo vi ali um
ator que entendeu a essência daquele ícone, mas que nunca teve uma total
liberdade para que ele colocasse para fora toda a dor e fúria que o personagem
carrega há décadas. Mas eis que finalmente chega LOGAN, filme que, não só é uma
despedida digna que o ator faz para o personagem, como também é tudo aquilo que
ele queria fazer para ele e muito mais do que a gente imaginava.
Estamos no futuro,
onde os mutantes não nascem mais e os que restaram são caçados e mortos por um
grupo chamado Carniceiros e liderados por Donald Pierce (Boyd Holbrook). Logan
(Jackman), mesmo com o peso da idade já lhe abalando fisicamente, ganha uns
trocados como chofer de uma limusine na fronteira do México e que, ao lado do
mutante Caliban (Stephen Merchant) cuida de um frágil professor Charles Xavier
(Patrick Stewart) que sofre de mal de Alzheimer. Não demora muito para que esse
cenário mude, já que surge uma jovem chamada Laura (Dafne Keen), que tem os
mesmos poderes de Logan e que está sendo caçada pelos carniceiros.
Dirigido novamente
por James Mangold (Wolverine: Imortal),
LOGAN já nos dá uma dica no início do filme de que não estamos diante de mais
uma mera adaptação de uma HQ, mas sim de um filme que vai muito além disso. Ao
começar pelo fato de como são apresentados os personagens principais, sendo que
se encontram cansados, doentes, velhos e com o peso no mundo e de várias
décadas de luta árdua em suas costas. Logan, aliás, não está nem aí para o que
acontece em sua volta, desde que continue em frente e consiga todas as formas
para manter o seu velho Xavier vivo.
A situação do qual os
personagens se encontram serve de estopim para que o filme se encaminhe para
outros gêneros, que vai desde um roadie movie ou até mesmo um faroeste. Falando
em faroeste, esse gênero é muito bem representado através de uma bela homenagem
que o filme faz ao clássico Os Brutos também Amam, sendo que, tanto o
protagonista daquele filme como o Logan desse filme, é personagens que fogem de
um passado do qual se encontra somente dor e remorso. Com essa situação do qual
os personagens se encontram, o que fariam então eles voltarem a ter pelo menos
um pingo de esperança em meio a uma realidade da qual lhes tiraram tudo?
Eis que Laura (ou
X-23 para os íntimos) é a figura enigmática para essa resposta. Sem dar muitos
detalhes, o que posso dizer é que Laura é o que faz nascer à motivação para que
Xavier, e um reticente Logan, partam para a estrada e consigam um lugar seguro
para a menina. É no decorrer dessa cruzada que nasce então uma família
duvidosa, mas humana e da qual faz com que qualquer um que assiste se
identifique com ela facilmente.
Claro que tudo se
deve logicamente ao empenho de cada um dos atores, dos quais já se encontram
mais do que familiarizados em seus respectivos papeis, mas conseguindo criar
novos patamares para cada um deles. É doloroso ver, por exemplo, Xavier tão
frágil e no fim dos seus dias, mas somente sentimentos essa dor graças à
interpretação magistral de Stewart, como se ele estivesse interpretando pela
última vez na vida e fazendo a gente sentir uma total tristeza e carinho pelo
personagem. Hugh Jackman, por sua vez, finalmente nos brinda com o Logan do
qual sempre sonhou interpretar e consegue nos passar em cada cena um guerreiro
cansado e que não vê como problema algum a possibilidade de tombar e finalmente
descansar após inúmeros anos de lutas e sofrimentos.
Mas é na personagem
Laura que se encontra o verdadeiro coração do filme, já que a sua interprete é,
não tenho menor dúvida com relação a isso, como o melhor achado cinematográfico
deste início de ano. Interpretada com intensidade pela jovem atriz Dafne Keen,
Laura parece uma mistura selvagem da personagem vampiresca de Deixa ela entrar
com o desejo de vingança da jovem
personagem vivida por Natalie Portman em O Profissional de 1994. Mesmo
quase não falando em toda projeção, Keen nos transmite só pelo olhar todos os
sentimentos do qual a sua personagem sente e cada cena da qual ela divide com
Jackman faz com sejamos fisgados mais e mais para dentro da história.
Claro que por terem
adquirido carta branca para fazer o que bem entender nesse derradeiro filme, os
roteiristas e o cineasta não pouparam nas cenas violentas, onde vemos o
personagem usando as suas garras com vontade e fazendo a gente ver, pela
primeira vez na cine série, esguichos de sangue na tela a torto e a direito.
Porém, tanto essas cenas violentas, como também as cenas de ação, elas surgem
não de uma forma gratuita, mas sim quando acontecem eventos dos quais fazem com
que, querendo ou não, aconteçam esses momentos. Isso gera momentos de
imprevisibilidade, até mesmo aflição e fazendo com que tememos pelos destinos
dos personagens.
Claro que nem tudo
são flores, já que os vilões, por mais mortíferos que sejam não são muito
interessantes. Boyd Holbrook, por exemplo, tenta nos convencer que o seu
personagem é uma grande ameaça, mas fica apenas na promessa. E como a trama
envolve experiências com mutantes, isso acabou gerando o surgimento de um
personagem desnecessário que, mesmo sendo responsável por dois momentos
desesperadores, ele poderia ter sido facilmente substituído por qualquer outro
personagem, desde que fosse mais bem construído.
Isso não diminui a
experiência de assistir LOGAN, um filme que entrará facilmente na lista dos
melhores filmes de adaptação de HQ dos últimos anos, por ter a coragem de
quebrar os alicerces firmes e previsíveis do gênero e nos presentear com algo
corajoso e inesquecível.
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