15 de junho de 2016

INVOCAÇÃO DO MAL 2



Uma das coisas que eu gostei em Invocação do Mal é da obra possuir inúmeros ingredientes de que se usava para se fazer filmes de horror de antigamente. Nada de sangue ou violência explicita, mas sim uma atmosfera gótica, onde luz, sombras, ruídos, vozes amedrontadoras e portas que se abrem e fecham sozinhas criam um cenário opressor. Agora em Invocação do Mal 2, esses ingredientes retornam com força total e ao mesmo tempo se casando com uma realidade mais crua com relação aos fatos verídicos.
Novamente dirigido por Janet Hodgson, o filme retrata a dura vida de uma mãe separada (Frances O'Connor) e de seus quatro filhos num bairro de Londres. A filha caçula Janet (Madison Wolfe) começa a andar sonâmbula, falar com outra voz, causar manifestações dentro da casa e despertando o interesse da mídia. A situação vai até o casal de peritos no assunto Lorraine (Vera Farmiga) e Ed Warren (Patrick Wilson) que, ao mesmo tempo em que aceitam a investigação mandada pela igreja, eles mesmos tem que enfrentarem os seus próprios temores.
Se no filme anterior a reconstituição de época (anos 60) era ótima, aqui a reconstituição do ano de 1977 não é somente perfeita, como ela é crua e realista. A casa onde a família vive, por exemplo, ela é suja, simples e fazendo a gente crer naquela realidade sendo afetada por estranhos acontecimentos. Ao mesmo tempo o filme é hábil ao introduzir elementos do que acontecia na época, desde o que acontecia com o governo Inglês, como também a moda e as músicas de sucesso.
Essa realidade da qual nos identificamos facilmente faz com que os momentos de horror se tornem mais eficazes, mas ao mesmo tempo criando um clima de incerteza, pois eles podem ser algo vindo do além, como também vindo de mentes fracas pedindo atenção. Ponto para o cineasta Hodgson, pois embora ele nos reapresente o casal protagonista em uma situação fantasmagórica do passado, isso não signifique que suas próximas missões sejam realmente genuínas. Do primeiro ao segundo ato, somos apresentados situações da quais podem soar verdadeiras, como também fruto de uma mente fraca.
Até que os verdadeiros fatos surgem na mesa, somos brindados com o melhor de um filme de horror de qualidade. Hodgson cria um verdadeiro palco para a criação de um momento do qual se irá criar o momento de terror puro e que nos faz pular da cadeira facilmente. Se a imagem da boneca Annabelle (que teve até mesmo o seu próprio filme) nos deixava apreensivo, o que dizer então da imagem sombria e amedrontadora de uma misteriosa freira, da qual tanto surge no fundo de um corredor, como também de um quadro inanimado, mas não menos terrível de ser visto. Atenção para a cena em que essa personagem se mistura com o quadro em meio às sombras, simplesmente assustador e eficaz.
Outra genialidade vinda de Hodgson é dele criar planos sequências onde ele nos apresenta o cenário dos acontecimentos. Em muitos momentos a sua câmera começa a focar por cima, para logo em seguida baixando, entrando na casa, nos apresentando cada um dos seus personagens e explorando minuciosamente o lugar em que eles vivem. Não há parede ou janela que interfira na aproximação da câmera, como se ela própria fosse à entendida invadindo aquele lugar.
Assim como no filme anterior, o casal Lorraine e Ed são as almas do filme, principalmente Lorraine. Interpretada novamente com intensidade por Vera Farmiga, Lorraine nos passa todo o peso da responsabilidade de possuir um dom, do qual pode ajudar inúmeras pessoas, mas ao mesmo tempo por em risco, tanto da sua vida, como também a do seu marido. Ambos em cena sentimos uma química perfeita e fazendo a gente desejar que nada de ruim aconteça com eles.
O ato final, realidade e fantasia se chocam e nos brindando com inúmeros momentos angustiantes e colocando a força de vontade dos personagens em cheque. Embora esse ato nos empolgue do começo ao fim, infelizmente ele sofre do mesmo mal do filme anterior, ao nos apresentar o final desse conflito de uma forma bem resolvida e forçando a gente sair do cinema com aquela sensação de que poderia ser menos reconfortante aqueles minutos finais. Para quem gosta de ficar assistindo os créditos finais, recomendo assisti-los, pois eles mostram cenas reais dos verdadeiros fatos dos quais esse filme se baseou, sendo que esses sim, acabam sendo mais arrepiantes dos que as cenas finais da trama. 
Embora com esse deslize, Invocação do Mal 2 cumpre o seu dever com louvor, ao não nos pregar sustos com facilidade, mas sim nos brindando com um cenário reconfortante, para que ele gradualmente se torne o mais puro pesadelo.

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