Cloverfield: O Monstro, produzido por J.J. Abrams em 2008 pegou todo mundo desprevenido graças a sua originalidade. Embora o gênero found footage tenha começado pra valer com A Bruxa de Blair, e filmes de monstros já não era nenhuma novidade, Cloverfiled foi inovador em unir os dois gêneros, num filme de pouco mais de uma hora e fazer nos prender na poltrona com tamanho realismo e suspense de primeira. Passaram-se os anos e não se sabia de nenhuma possibilidade de uma sequência da obra, mas eis que o mundo foi pego desprevenido no início desse ano com o trailer Rua Cloverfield, 10 que, embora não aparenta ser uma continuação daquela trama, o universo criado por J.J Abrams continua intacto por aqui.
Com isso, os fãs do original talvez fiquem um tanto desapontados por não ser exatamente uma sequência, mas por outro lado a pessoa de primeira viagem tem a liberdade em não ter que correr atrás do filme original, pois esse aqui possui começo, meio e fim bem amarrados. Não há câmeras em movimento, mas sim uma trama tradicional, comandada agora pelo estreante Dan Trachtenberg e ao invés de corrida desenfreada, e um monstro a solta, a trama se passa num pequeno cenário e gerando total sensação de claustrofobia.
Assim como todos os bons filmes de Alfred Hitchcock que eram antigamente, o próprio movimento da câmera nos conta a história, ao nos apresentar de forma gradual a protagonista Michelle (Mary Elizabeth Winstead) que, após uma crise na relação, decide ir embora da cidade. Pelo percurso sofre um grave acidente e acorda somente várias horas depois numa sala vazia abaixo do subsolo. Surge então um homem misterioso chamado Howard (John Goodman), que diz ter salvado ela do acidente e também do fim do mundo que está acontecendo lá em cima, pois segundo ele, existe a possibilidade de ter acontecido uma guerra atômica ou invasão alienígena na terra.
Após a apresentação do terceiro e último personagem da trama (John Gallagher Jr), que se encontra também nesse cenário, se tem início um jogo de gato e rato, do qual se nasce um verdadeiro suspense psicológico caprichado e que nos faz roer as unhas. Assim como a protagonista, num primeiro momento ficamos em duvida com relação à sanidade Howard, pois suas ações e reações perante o que diz soam surreais. Porém, surgem momentos determinantes na trama que dá entender que ele não está longe da razão, mas ao mesmo tempo há algo de podre no ar com relação a certas meias verdades que ele diz no decorrer do percurso.
Sempre lembrada pelo cult Scott Pilgrim Contra o Mundo, Mary Elizabeth Winstead se sai muito bem como protagonista, pois embora aparenta certa fragilidade num primeiro momento a sua personagem, ela demonstra empenho e força no decorrer da trama, ao tentar descobrir a real verdade daquilo tudo e achar uma forma de escapar. O veterano John Goodman se sobressai com o seu Howard, pois ele transmite uma instabilidade em momentos certeiros da trama e fazendo a gente temer quando ele explodir ou quando realmente mostrar quem ele é. John Gallagher Jr tem uma participação meio que dispensável, mas ao mesmo tempo tem uma participação crucial no final do segundo ato.
Embora seja uma produção de J.J. Abrams se percebe que ele deu total liberdade criativa para que o cineasta Dan Trachtenberg conduzisse a trama da sua maneira. Percebe-se uma total paixão pelo uso da câmera, pois quando ele foca ou move ela em determinadas situações, elas jamais soam gratuitas, mas sim numa forma para que brinque com a nossa perspectiva. Porém, o terceiro ato final é puramente J.J. Abrams, pois ele remete para aquele universo construído do primeiro filme, além de nos fazer lembrar outros filmes do gênero como Guerra dos Mundos, Sinais e porque não dizer a sua maior criação Lost.
Embora com um final que quase se entrega a um lugar comum do gênero, Rua Cloverfield, 10 é uma agradável surpresa, ao ter a proeza de unir os fãs do gênero de ficção, com aqueles que curtem um filme de suspense claustrofóbico e bem caprichado.
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