Quando A Bruxa de
Blair estreou em 1999 muitas pessoas acusaram o filme de ser enganoso, pois a
obra não mostrava a bruxa em si em nenhum momento. Passados mais de quinze anos
o filme é sempre relembrado pela sua ousadia de apresentar a trama de uma forma
incomum e não convencional. O problema do cinema americano foi sempre acomodar
o cinéfilo e fazê-lo com que ele esperasse sempre pelo “mais do mesmo” e quando
surgem filmes que desafiam nossas perspectivas como o recente A Bruxa corre o
sério risco de ser mal interpretado.
Coproduzido pelo
nosso brasileiro Rodrigo Teixeira e dirigido pelo estreante Roger Eggers, acompanhamos a saída de uma
família de um vilarejo no ano de 1630 da nova Inglaterra. Quando se assentam
numa terra que se divide com uma floresta misteriosa, imediatamente alguns
fatos estranhos acontecem. A situação piora quando o bebê da família
desaparece, justamente quando estava aos cuidados da filha adolescente Thomasin
(Anya Taylor-Joy).
Formado o palco dos
acontecimentos que irá prosseguir, o filme começa gradualmente quebrando as
nossas expectativas com relação ao que acontece em seguida. Há uma floresta, e
possivelmente algo de sinistro dentro dela, mas as situações vão muito além
disso. O filme também aproveita para retratar o quanto as pessoas eram presas
as suas crenças religiosas, sendo elas até tão assustadoras quanto o próprio
mal que eles tanto temem.
Basicamente o filme
bebe das mais puras lendas antigas com relação a bruxas das quais nos faz
remeter aos contos que nós ouvíamos antigamente. De uma forma explicita o
filme, por vezes, lembra os primeiros contos dos irmãos Grimm, dos quais sempre
foram adaptados em inúmeras mídias, mas nunca da sua forma original. Em A
Bruxa, percebemos que as origens dos verdadeiros contos de fadas são mais
assustadoras do que se possa imaginar.
Com uma fotografia
sombria, o filme possui também uma trilha sonora que nos desconcerta e fazendo
que perfure o ponto mais nervoso de nosso ser. Basicamente a trilha remete a
filmes clássicos como o filme O Iluminado, do qual a trilha criava uma aura de
expectativa e fazendo com que a gente espere pelo pior a seguir. O pior, aliás,
é que as cenas de horror não poupam nem os pequenos protagonistas da família
que, embora sejam cenas mais sugestivas do que explicitas, não deixa de ser
desconcertante quando elas acontecem e nos pegam desprevenidos.
Curiosamente, as
cenas de horror, quando elas acontecem, surgem em lugares apertados, criando
uma sensação de claustrofobia, do qual não tem como escapar de tal ato. Com uma
reconstituição de época perfeita, o lar dessa família, arrasada pela terra
infértil e pelo inverno chegando, se torna ainda um ambiente mais opressor,
mesmo quando o mau não se encontra a espreita. Uma vez quando o sobrenatural
surge, ele acaba se tornando apenas um pequeno empurrão, pois aquele cenário e
as crendices extremas, por sua vez, já haviam criado o palco do juízo final
para aquela família.
Embora William (Ralph
Ineson) e Katherine (Kate Dickie) se saem bem como o casal daquela família, é
Anya Taylor-Joy que rouba a cena com a sua personagem Thomasin. Com um rosto angelical, Thomasin se
vê a frente de situações inexplicáveis, das quais ela própria não sabe explicar
e se tornando a principal suspeita por atos de bruxaria. Com uma presença cheia
de ambiguidade, suas reais motivações perante o horror que acontecem somente
será respondido nos minutos finais da obra.
Falando do final,
talvez ele seja o único ponto falho do filme, pois ele é convencional e
contradiz toda a obra da forma como ela nos foi apresentada. Não que os
derradeiros minutos finais sejam ruins, mas se esperava algo no mínimo
diferente, o que na realidade não acontece. Porém, as formulas como a
fotografia, cenário e trilha estão ali naquele momento para moldar e selar o
filme da forma como ele é como um todo.
Com pouco mais de uma hora e
meia, A Bruxa é aquele tipo de filme que você não sabe ao certo se você amou ou
odiou no decorrer da sessão, mas ele vai junto com você na sua mente, reavalie
e tenha certeza que assistiu a um horror que desafia as perspectivas de dentro
do nosso ser.
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