Quando Elia Kazan (Sindicato
dos Ladrões) recebeu o seu Oscar pela carreira em 1999, o público que assistia
se dividiu, entre aqueles que aplaudiram e aqueles que cruzaram os braços. Com
certa razão, pois Kazan acabou se tornando uma espécie de delator na época das
caças as bruxas que, havia sido instalado em Hollywood para caçar atores,
atrizes, diretores, produtores e roteiristas que fossem do partido comunista. Devido
a isso, muitos tiveram as suas carreiras arruinadas, foram presos ou tiveram
que abandonar o país como foi o caso de até mesmo do mestre Charles Chaplin.
Dirigido por Jay
Roach (Entrando numa Fria) Trumbo: Lista Negra reconstitui uma parte dessa
complicada história do cinema americano, onde vemos roteirista Dalton Trumbo
(Bryan Cranston) e seus colegas do ramo sendo esmagados pela a Motion Pictures,
presidida por ninguém menos que John Wayne, que foi a responsável pela Caça às
bruxas dentro da Indústria cinematográfica. Porém, mesmo com o nome manchado, e
sem poder trabalhar nos grandes estúdios novamente, Trumbo jamais desistiu de
sua carreira. Para isso, começou de forma clandestina a fazer roteiros para
pequenos estúdios de filmes B e usando pseudônimos ao invés do seu nome
verdadeiro.
Para cinéfilos como
eu, é divertido assistir as passagens do qual esse filme retrata, onde a
reconstituição de época é algo primoroso e muito bem cuidado. Mas acima de tudo, é curioso observar como Dalton
Trumbo foi responsável pela criação de incríveis histórias, como no caso de A Princesa
e o Plebeu (1953) que, lhe renderia o seu primeiro Oscar na carreira, mesmo de
uma forma não oficial, pois o prêmio viria a ser dado para um amigo de Trumbo que
fingia ser dono do roteiro. Não há como não se divertir em ver os
apresentadores da academia, fazendo os seus números de apresentações vazias, mas
mal sabendo para quem eles realmente estavam premiando naquele momento.
O filme nos empolga
graças à persistência vinda do personagem e pelo seu amor em escrever diversas
histórias, mesmo em meio às adversidades e a intolerância das pessoas que se
diziam defender a liberdade do povo americano, quando na verdade nem sabiam o
que diziam. Muito dessa energia vista na tela se deve ao seu interprete Bryan
Cranston: conhecido mundialmente pela sua atuação na cultuada série Breaking
bad, Cranston passa para nós todo o lado arrogante, cínico e apaixonado de Dalton
Trumbo e fazendo a gente até compreender a sua obsessão, mesmo quando ela, por
vezes, prejudica a relação com a sua família.
Mas se o protagonista
brilha em seu papel principal, o elenco secundário não fica muito atrás. Porém,
mais do que ótimos atores dando vida a outros interpretes do passado, é preciso
tirar o chapéu para os produtores, ao acharem atores quase idênticos e dar
palmas aos maquiadores por caracterizar eles de uma forma que quase ficassem idênticos.
Se David James Elliott passa todo o lado direitista, como também o lado bronco,
do qual tinha John Wayne, Dean O'Gorman (O Hobbit) surge como uma copia fiel do
astro Kirk Douglas.
Falando do velho
astro, Douglas surge em cena, num dos momentos mais simbólicos da trama. Astro
na época, e ao mesmo tempo produtor e roteirista, Douglas convidaria Dalton Trumbo, numa espécie de voto de
confiança, para roteirizar Spartacus, filme que viria a se tornar um grande
épico do cinema. Mais do que um momento simbólico, essa passagem do filme também
serve para questionar o papel de Hollywood que, de uma arte para o entretenimento,
se tornou palco para guerras e fins políticos infundados.
Essa ambição, e intolerância,
foi muito bem representado pela atriz daquele tempo chamada Hedda Hopper, que
aqui ganha vida graças ao bom desempenho de Helen Mirren (A Rainha), fazendo
com que a gente a odeie e torça pela sua queda política no meio cinematográfico.
Uma vez que a lista negra se tornou uma vergonha dentro da história de Hollywood,
o ato final sintetiza a alma cansada daqueles que lutaram, sobreviveram, mas
que infelizmente alguns não conseguiram obter a sua renderão. Infelizmente isso
é algo que ecoa até hoje, principalmente em tempos indefinidos com relação à
crise política e cultural do nosso e de muitos países.
Trumbo: Lista Negra é
uma pequena parte de uma grande vergonha da história política e cinematográfica
americana, mas que está ali como exemplo de erro histórico a não ser seguido e
que jamais se repita em nosso presente, se é que já não está se repetindo
infelizmente.
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