Em 2002, o cineasta Todd Haynes (Não estou lá)
viaja aos anos 50, e nos apresenta uma história, onde vemos uma mulher
(Julianne Moore) se chocar ao descobrir que seu marido (Dennis Quaid) é gay. Em
contra partida, ela mesma busca consolo nos braços do jardineiro negro (Dennis
Haysbert) e despertando os olhares e preconceito da comunidade local. Estamos
nos anos 50, onde ser gay era ser doente e ser de outra cor era ser diferente,
sendo então uma época conservadora, mas que ao mesmo tempo já dava sinais que
não poderia mais esconder as pessoas que eram diferentes umas das outras.
Com isso, Haynes
decide então retornar a essa década problemática, onde vemos em seu mais novo
filme, a relação de uma mulher mais velha chamada Carol (Cate Blanchett) com uma
jovem chamada Therese (Rooney Mara). De uma simples amizade e troca de olhares
que, começou numa loja de brinquedos, vai gradualmente à relação se tornando
cada vez mais intensa. O problema que Carol é casada com Harge Aird (Kyle
Chandler) que não o ama mais, mas ambos possuem uma filha e ele ameaça tirar
dela a guarda da criança.
Lembrando novamente
que estamos nos anos 50, num período em que muitos assuntos ainda eram tabus,
não somente com relação à opção sexual, como também na falta de mais liberdade
para a mulher. Carol tem tudo na vida, mas não se sente completa e seu dia a
dia é somente nas aparências. Therese busca a realização de seus sonhos desde
quando era criança, mas não busca exatamente um príncipe encantando. Uma vez as
duas se encontrando, se percebe que uma se apóia na outra, preenchendo um vazio
do qual elas convivem, para então sentir os desejos dos quais estão presos e
que até então desconheciam.
Haynes capricha, não
somente na apresentação das duas, como também quando ambas estão uma na frente
da outra. Olhares, e gestos, sendo nenhum deles passado a despercebido e
criando um jogo de câmera que sempre irá atrair o nosso olhar para então a
gente ver o que irá acontecer. A fotografia fria (a trama se passa no natal) se
mistura com as cores quentes do ambiente e de uma época de luz, mas ao mesmo
tempo nas aparências, de uma sociedade que vendia a vida perfeita. Carol se vê
sufocada nesse cenário mentiroso e não excitando em levar Therese para uma
viagem de carro e irem até onde der.
Não espere por algo
explicito e ardente como foi em filmes como Azul é a Cor Mais quente. Aqui é
tudo nos apresentado de uma forma delicada que, uma vez consumada, se percebe
então que valeu a pena chegar até esse momento. Portanto, Cate Blanchett e
Rooney Mara nos convencem a todo o momento em cena, onde sentimos em cada gesto
e olhar de uma paixão ardente pronta para transbordar. Uma se torna o pilar da
outra, fazendo o filme pulsar a todo o momento e fazendo a gente desejar pela
felicidade de ambas.
Infelizmente o
preconceito bate a porta a todo o momento em que elas dão um passo à frente
para a felicidade e ficamos transtornados pela forma como essa sociedade desse
período agia de uma forma tão intolerante. Harge Aird é uma clara representação
dessa intolerância, mas ao mesmo tempo em que ele não esconde o fato de não
saber compreender ao certo a posição de sua esposa, ao ponto de sentirmos até
mesmo pena dele. Visto em filmes prestigiados como O Lobo de Wall Street, Kyle
Chandler vai gradualmente chamando a nossa atenção pelos seus bons desempenhos,
e mesmo ele aparecendo poucas vezes em cena, ele chama a nossa atenção pelo seu
empenho.
Voltando a dupla
principal, vale lembrar que o filme começa com elas, em uma cena em que se
dirige para a reta final da trama. Com isso, a trama retorna no tempo e
acompanhamos de que maneira elas chegaram até aquele ponto em que elas nos
foram apresentadas. Todd Haynes gosta de brincar com as nossas perceptivas, e
fazendo com que nos perguntemos a todo o momento durante a projeção, como elas
chegaram até aquele ponto e qual serão os destinos em que elas irão trilhar a
seguir.
Dirigido por outra
pessoa, o filme poderia facilmente cair no previsível no seu final, mas Haynes
fecha trama de uma forma aberta e fazendo com que a gente se pergunte o que
virá a seguir para as protagonistas. É um final que sintetiza a indefinição de
um futuro perfeito, onde a pessoa daquele período decide abraçar pelo que
sente, mas que se vê a frente de inúmeras possibilidades no seu futuro. Ou viva
e morra pelo que deseja, ou morra gradualmente num mundo das aparências e da
alienação.
Com uma bela fotografia e
edição de arte da época, Carol estréia justamente num período em que há certos
conservadores que, tentam pegar a nossa realidade e regredir no tempo, mas o
próprio passado visto no filme, do qual eles querem voltar, nos ensina que nada
pode frear o que realmente nós sentimos.
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