26 de janeiro de 2015

Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo

Para alguns, histórias baseadas em fatos verídicos se tornam monótonas pelo fato de ser real. Por conta disso, muitos diretores acabam mudando alguns pontos da trama para deixá-la mais romanceada e o que sobra é uma história que desliza entre o real e ficção. É graças aos desempenhos de Channing Tatum e Mark Ruffalo que seus personagens se tornal verossímeis: eles realmente passam para nós que são irmãos, protegendo as costas um do outro e se ajudando nas horas mais difíceis.

O desempenho de ambos em cena é notável, Channing Tatum atua com todo orgulho de si próprio e com o desejo de ser tão bom quanto o seu irmão, enquanto Ruffalo merece todo o reconhecimento que anda tendo: seu papel é importante para a história se entrega ao verdadeiro significado da relação entre os dois, que por vezes é bastante complexa. Mas se alguém tinha dúvidas sobre Steve Carell em papéis dramáticos, aqui ele realmente se prova com o seu John E. du Pont.

Pessoa complicada e enigmática, John tem algo a mais, uma presença hipnotizadora, que nos deixa apreensivos sobre qual será o seu próximo passo. Steve Carell conseguiu isso, não somente pela maquiagem, mas também pelas longas pausas do personagem na hora de falar e fazer algo imprevisível. Isso se enlaça ao próprio movimento de câmera e direção de Bennet Miller. O filme, como um todo, passa uma sensação de conflito, entre temor e tranquilidade, nas cenas longas que preenchem os momentos derradeiros, onde testemunhamos John tendo um comportamento que nunca conseguimos prever. O personagem é uma representação exata da frase “calmaria antes da tempestade”, pois ficamos calmos assistindo a obra, mas sabendo no fundo que algo de ruim poderá acontecer a qualquer momento.

Isso nos faz lembrar alguns filmes de terror clássicos, onde o medo se encontrava na expectativa de ver o vilão chegar até lá e matar o seu alvo, e não uma série de mortes como acontece hoje em dia no gênero. E o que faz de Foxcatcher tão indispensável, mesmo a gente já tendo uma ideia formada do que irá acontecer no seu ato final, é que, em alguns momentos, parece um terror psicológico do que um drama, mas isto não quer dizer que esse lado é esquecido.

O cineasta Bennet Miller e os roteiristas Max Frye e Dan Futterman fizeram questão de utilizar a duração do filme para nos fazer entender a relação que John tinha com sua mãe e dos dois irmãos. Relações familiares e solidão são peças importantes que fazem do filme como ele é, carregado de momentos subliminares em todas as cenas protagonizadas pelo trio central. Tecnicamente, a direção de arte e trilha é também criada para dar mais alma a obra: a falta de música em certos momentos e o surgimento dela em momentos de tensão, mostra como o tema de luta greco-romana é, na verdade, um mero pano de fundo para as relações entre os personagens.

Há de se considerar ainda a impressionante maquiagem e mudança física de Steve Carell que nem de longe lembra a sua imagem de comediante em filmes como Virgem aos 40 anos. Embora com alguns momentos lentos na narrativa Foxcatcher é um filme que conquista o cinéfilo, graças aos seus personagens tão complexos e que nos faz pensar até aonde a gente se conhece e quais seriam os atos desse nosso lado obscuro que lutamos para não despertar.


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